"Brasil será parceiro da integração regional", diz Mercadante
Novo presidente do BNDES falou sobre relação com países da América Latina durante posse, nesta 2ª
Emanuelle Menezes
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, tomou posse nesta 2ª feira (6.fev), em uma cerimônia no Rio de Janeiro, citando o desafio de presidir o banco público.
"Sou de uma geração que lutou muito pela redemocratização do país. Tomo posse em um momento extremamente desafiador, no qual o Brasil sofreu a ameaça mais grave ao Estado Democrático de Direito desde o fim da ditadura militar. O respeito à soberania do voto, às instituições democráticas e à Constituição brasileira é uma exigência fundamental para a nova diretoria do BNDES e para toda a sociedade brasileira", disse ele.
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Mercadante afirmou que toma posse para construir um BNDES do futuro. "Estamos aqui não para debater o BNDES do passado, mas para construir o BNDES do futuro. Que será verde, inclusivo, tecnológico, digital e industrializante", afirmou.
O político experiente -- já foi deputado, senador e ministro do governo Dilma -- lembrou que a industrialização e a modernização da infraestrutura do país passa pelo banco público. Ainda segundo ele, uma das pautas fundamentais para o BNDES será o projeto de construção de 'Eximbank', um Banco de Exportação e Importação, a exemplo do que já existe nas principais economias do mundo. "Nós precisamos exportar, ganhar escala e se integrar nas cadeias globais de valor", afirmou.
"Não pretendemos disputar mercado com sistema financeiro privado", disse Mercadante ao falar sobre crédito e taxa de juros competitivas para micro, pequenas e médias empresas. Segundo ele, o BNDES disponibilizará R$ 65 bilhões por meio de crédito indireto e alavancagem via garantias de crédito privado, para o que ele chamou de "grandes geradoras de emprego e renda"
Política internacional
"O Brasil voltou à política internacional", disse Mercadante. Segundo ele, nós saímos da condição de párea internacional, herdada do governo anterior, para voltarmos a ser uma grande liderança mundial e um país respeitado.
Para isso, disse ele, é fundamental para o Brasil a parceria com países da América Latina e a integração com todo o Sul Global.
"O Brasil é mais da metade do território, do PIB e da população da América do Sul. Estamos, irrevogavelmente, inseridos nesse contexto geográfico e histórico", afirmou. Por isso, o BNDES será, nessa nova gestão, um banco parceiro do desenvolvimento e da integração regional.
Meio ambiente
O novo presidente do BNDES afirmou que o sistema econômico e financeiro precisa enfrentar a emergência climática e social para que o planeta tenha chance de "sobreviver e prosperar".
Para isso, é preciso, segundo ele, "enterrar de vez o obtuso negacionismo climático que nos tornou o grande vilão ambiental do planeta. O BNDES precisa apoiar a transição justa para a economia de baixo carbono, bem como promover a inclusão produtiva e a reurbanização inteligente visando construir cidades do futuro".
"Não haverá futuro se nós não preservarmos a Amazônia e outros biomas", disse Mercadante. Destacando que o Fundo Amazônia, reativado no governo Lula (PT), voltará a ser gerido pelo BNDES, ele citou três diretrizes fundamentais para sua administração:
- reconstruir as condições para enfrentar o desmatamento, a partir das operações de comando e controle;
- viabilizar projetos estruturais e com escala, que gerem desenvolvimento sustentável e mantenham a floresta em pé, protegendo e atendendo de forma emergencial os vulneráveis -- especialmente os Yanomamis;
- desenvolver a estrutura, a indústria limpa e a pesquisa científica, gerando novas oportunidades de emprego e renda para 28 milhões de habitantes na região.
Desigualdade racial e de gênero
"Seremos promotores de uma sociedade mais justa e inclusiva por meio de nossas linhas de crédito e das ações de fomento que empoderem economicamente mulheres, negros e negras deste país", afirmou Aloizio Mercadante. Segundo ele, o combate à desigualdade de gênero e de raça será parte da estratégia de negócio do BNDES.
Além disso, ele prometeu uma diretoria plural, programas de estágios para negros e negras e a retomada de concursos para o BNDES com políticas de cotas.
Por fim, Mercadante anunciou que, sob coordenação da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco -- que estava presente na cerimônia -- o BNDES vai desenvolver um museu sobre a história da escravidão no país.
"Não podemos esquecer essa chaga. O museu ficará localizado no Valongo [cais, no Rio de Janeiro], que foi a porta de entrada que recebeu mais escravos africanos em toda a história da humanidade".
No fim de seu discurso, Mercadante se emocionou ao falar da posse do presidente Lula. "Quando ele subiu pela terceira vez a rampa do Planalto, a mesma rampa que seria uma semana depois barbaramente violentada pelos golpistas, ele não subiu sozinho. Com ele, subiu a mãe desesperada que não tem o que dar de comer para seus filhos. Com ele subiram 33 milhões de brasileiros que passam fome e os 10 milhões de desempregados", disse ele. "Trabalharemos unidos por essa eterna grande causa chamada Brasil", completou.
Alckmin e Lula também discursaram
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que o Brasil vive um bom momento e é "a bola da vez" na política externa desde a eleição de Lula. Ele também lembrou que, em 30 dias, o presidente fez contatos que "recolocaram o Brasil no mapa".
"O presidente Lula trouxe confiança. O que ele falou a campanha inteira: estabilidade, previsibilidade, credibilidade", disse ele.
Alckmin falou, ainda, da proposta de criação de 'Eximbank'. "Financiar as exportações brasileiras é emprego no Brasil. É fortalecer as empresas brasileiras, para que elas possam exportar e melhorar competitividade", completou.
Lula afirmou que o BNDES foi alvo de difamação durante todo o processo eleitoral. "Este banco foi vítima de difamação muito grave durante o último processo eleitoral. As narrativas, mesmo que mentirosas, valem mais do que verdades ditas muitas vezes. Vivemos nos últimos quatro anos um processo de mentira tresloucada", disse o presidente.
"O BNDES nunca deu dinheiro para país amigo do governo, o banco financiou serviço de engenharia de empresas brasileiras e nada menos que 15 países da América Latina e do Caribe, entre 1998 e 2017", afirmou Lula.
O presidente lembrou, em seu discurso, que há sim contratos com pagamentos em atraso, mas todos cobertos por garantia. Ele acredita que os países que não pagaram fizeram isso após o governo de Jair Bolsonaro (PL) cortar relações com Cuba e Venezuela.
"Eu tenho certeza que no nosso governo esses países vão pagar, porque são todos países amigos do Brasil e certamente pagarão a dívida que têm com o BNDES", disse ele.
Estiveram presentes na cerimônia, ainda, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), a ex-presidenta da República, Dilma Rousseff e a primeira-dama Janja da Silva.