Flávio Dino: "Tijolo a tijolo, construíram edifício golpista e terrorista"
Para ministro da Justiça, fala de Marcos do Val aponta indício de responsabilidade de Jair Bolsonaro
Após um dia de idas e vindas em declarações do senador Marcos do Val (Podemos-ES) sobre um suposto plano golpista para grampear o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, o ministro da Justiça Flávio Dino afirmou que as ações fortalecem indícios de "responsabilidade jurídica" do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) em atos antidemocráticos.
Depois de classificar as falas do parlamentar como "gravíssimas", Dino disse, nesta 3ª feira (2.fev), que "construíram um edifício golpista e terrorista". Em referência aos últimos episódios, o ministro escreveu que haviam "profissionais" dedicados à obra e enfatizou que os envolvidos serão punidos com o rigor da lei.
Tijolo a tijolo, se evidencia que construíram um edifício golpista e terrorista. Ainda que incompetentes e desvairados, havia "profissionais" dedicados à obra. Alguns já estão presos, outros pedidos virão. Não haverá impunidade para bandidos que tentaram assassinar a Constituição
? Flávio Dino ?? (@FlavioDino) February 2, 2023
Tijolo a tijolo
Mais cedo, em conversa com jornalistas no Senado, onde acompanhou a eleição da nova direção da Casa, Dino lembrou da minuta, encontrada na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, que planejava intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no resultado das urnas.
"O ex-ministro da Justiça tinha em casa um planejamento de golpe de Estado. São tijolos que vão se somando em um edifício de golpe de estado. Quem eram os arquitetos, engenheiros e mandantes, a investigação vai mostrar", afirmou Dino. "Temos muita clareza, muita nitidez, que havia infelizmente um núcleo -- inclusive dentro da política -- dedicado a rasgar a Constituição e tentar dar um golpe de Estado no Brasil", ressaltou o ministro da Justiça.
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Diante do fato novo, desvendado com as denúncias de Marcos do Val, o ministro acredita que o episódio que coleciona reviravolta e versões, fortalece o indício de responsabilidade de Bolsonaro.
"Não me cabe determinar caminhos de investigação. Mas, evidentemente, nós estamos diante de um fato novo, que fortalece a ideia de que, além da responsabilidade política, esta já evidente, há cada vez mais indícios producentes sobre a responsabilidade jurídica do ex-presidente da República e de um pessoal ligado a ele", avaliou.
Em meio às repercussões em torno do caso envolvendo Marcos do Val, Bolsonaro e Daniel Silveira, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) negou qualquer possibilidade de servidores da agência terem participado do suposto plano para gravar a conversa do ministro do STF Alexandre de Moraes.
O general Augisto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Jair Bolsonaro rebateu: "É mentira qualquer envolvimento do GSI ou da ABIN (Agência Brasileira de Inteigência, vinculada ao GSI), como instituições, nesse plano", disse o militar em resposta a um questionamento do SBT News.
+ "É mentira qualquer envolvimento do GSI nesse plano", diz Heleno
Minuta do golpe
Mais cedo, o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, negou ter discutido a "minuta do golpe" e afirmou que uma declaração dada por ele no passado -- de que o documento "estava na casa de todo mundo" -- era uma metáfora. Em depoimento à Polícia Federal, concedido nesta 5ª feira e a qual o SBT News teve acesso, o líder do partido de Jair Bolsonaro (PL) também disse ter recebido "duas ou três" propostas semelhantes à minuta. Mas que jogou os documentos fora quando viu que violavam a Constituição.
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Perguntado a respeito das atitudes tomadas pelo PL acerca das minutas, Valdemar disse que nunca levou ao conhecimento do partido o conteúdo dos documentos. Ressaltou ainda que jamais tratou do assunto sequer com o ex-presidente Jair Bolsonaro. "Não eram documentos sérios, pareciam documentos mal elaborados. Nenhum documento sequer era identificado", justificou. O político também negou conhecer a autoria do documento.
O presidente do PL ainda disse não ter proximidade com o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que está preso em decorrêndia de investigações das invasões terroristas em Brasília. Depois dos atos, Torres foi alvo de operação da PF, que encontrou uma minunta com tentativa de golpe de estado em sua residência. Segundo Valdemar, ele só esteve reunido com Torres em um momento durante os quatro anos do governo Bolsonaro. O ex-ministro de Bolsonaro também prestou depoimento à PF nesta 5ª.