"Equilíbrio é a posição mais sensata", diz Bolsonaro sobre guerra
Presidente disse que Brasil tem "negócios com os dois países" e que "torce pela paz"
Guilherme Resck
Em transmissão ao vivo pelas redes sociais nesta 5ª feira (3.mar), o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que o equilíbrio é a posição "mais sensata" a ser mantida pelo Brasil em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia, e que o governo brasileiro torce pelo fim do conflito militar.
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"O pessoal muito aí questiona que você tem que ter uma posição mais firme de um lado ou de outro. O Brasil continua em uma oposição de equilíbrio, nós temos negócios com os dois países, não temos a capacidade de resolver o assunto. Então o equilíbrio é a posição mais sensata por parte do Governo Federal e nós torcemos, e no que for possível nós faremos, pela paz. A guerra realmente não vai produzir efeitos benéficos para nenhum dos dois países e muito menos para o mundo", pontuou o presidente na live, que tradicionalmente faz às quintas-feiras.
Em outro momento, voltando a abordar o assunto, o chefe do Executivo afirmou: "Nós torcemos pelo fim do conflito, nós somos da paz. E temos que ter muita responsabilidade nessas questões. Nós não podemos, ao buscar solução para um problema lá fora que passa muito mais pelos contendores do que por nós, trazer um problema maior para o nosso solo ou pátria aqui. Somos de paz, um país de cristãos, um país que tem sido exemplo para o mundo".
Ainda falando sobre o tema, próximo do final da live, Bolsonaro disse que investir nas Forças Armadas é necessário para garantir a paz aos brasileiros. "Você tem que ter umas Forças Armadas capaz de inibir qualquer aventura outra lá fora. E não esqueçamos: nós temos uma coisa aqui que ninguém tem, a floresta amazônia. Não é de hoje que tem alguns países de olho na floresta amazônica", completou, sugerindo que um eventual conflito com o Brasil poderia ser motivado por interesses de outras nações na Amazônia.
Importação de fertilizantes
Outro tema abordado pelo presidente na live foi a importação de fertilizantes pelo Brasil, impactada em decorrência da guerra na Ucrânia. Bolsonaro disse considerar que o agronegócio no território nacional só não é "10" porque depende de outros fatores, entre eles os fertilizantes. Depois, voltou a defender um projeto permitindo a exploração desses recursos em terras indígenas: "De bom no momento: nós estamos vendo um certo clamor de muitos parlamentares, me ligou o [deputado] Ricardo Barros [PP-PR] na semana passada, me ligou o [senador] Eduardo Gomes [MDB-TO] também, que temos um projeto que desde 2020 que permite que as comunidades indígenas, se assim o desejarem, nós podemos explorar recursos minerais no subsolo e aí interessa para a gente".
Participando da transmissão ao vivo ao lado do presidente, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, afirmou que o Brasil fez uma escolha "errada" no passado de ficar dependente da importação dos fertilizantes nitrogênio, fósforo e potássio, em vez de produzi-los. Em suas palavras, "é inadmissível a gente não ter um programa nacional para estimular a produção própria de fertilizantes ou parte dessa produção". Dessa forma, falou ela, o Governo Federal lançará, em cerimônia no Palácio do Planalto, na última semana de março, um Plano Nacional de Fertilizantes.
Este, de acordo com a ministra, está pronto e foi elaborado por nove ministérios -- incluindo ainda, por exemplo, o de Minas e Energia e o da Economia --, além dos empresários envolvidos nas misturas de fertilizantes. Tereza Cristina acrescentou que o plano não foi criado por causa do impacto na importância provocado pela guerra na Ucrânia: "isso nós pensamos lá atrás no seu governo [se referindo a Bolsonaro] que o Brasil, uma potência agro, não podia ficar nessa dependência do resto do mundo de mais de 80% nos três produtos de vários países".
A ministra declarou acreditar que o Brasil alcançará a autossuficiência em fertilizantes no futuro. A forma de fazê-lo, pontuou, será indicada pelo Plano Nacional a ser lançado. Segundo Bolsonaro, o país tem tudo para dar certo na produção do produto. "Nem precisaríamos estar exportando lá de fora isso aí. E ficarmos livres. Um país que é dependente de um outro pode em um momento como esse sofrer as consequências". Ele justificou sua ida à Rússia pouco antes da eclosão da guerra dizendo ter sido para tratar "dessas questões de fertilizantes"
Aumento de preços
Tereza Cristina afirmou ter havido uma suspensão do comércio de fertilizantes da Rússia e Belarus -- a Bielorrússia -- com o Brasil porque o Governo Federal não consegue pagar pelos produtos e não tem "navios nem seguro para esses navios para poder carregar esses fertilizantes do mar Báltico e Negro". Ainda em suas palavras, "enquanto ela ela [a guerra] estiver acontecendo, é totalmente descartada a possibilidade de a gente receber fertilizantes daqueles dois países, tanto da Bielorrússia quanto da Rússia".
Essa suspensão, de acordo com o Governo Federal, é uma das formas pelas quais o conflito na Ucrânia fará os valores de produtos no Brasil aumentarem. Isso porque, nas palavras de Bolsonaro, "se for comprar [fertilizante] em outro país, o preço [do produto] vai subir, aumentou a procura, a oferta está estabilizada, aumenta o preço". "E aumentou o fertilizante, vai aumentar na ponta da linha o que a gente produz no campo", completou.
Já outra maneira como o conflito impactará em valores no território nacional é a impossibilidade, agora, de a Ucrânia exportar produtos. Segundo Tereza Cristina, "é um país grande produtor de alimentos". "Eles produzem muito milho, muito trigo, nós vimos aí o trigo hoje subindo lá nas alturas. Eles produzem cevada, muita cevada, e os países que eles exportam: para a Europa, que estão ali na Europa. Então vão ter problemas de suprimento, e essa instabilidade gera aí uma alta de preços neste momento que depois que essa guerra, se Deus quiser, acabar, as coisas voltam um pouco. Mas nós vamos ter, sim, infelizmente, uma alteração no preço dos alimentos no mundo. E no Brasil, hoje a economia é muito globalizada, é claro que vem para cá também infelizmente. Nós estamos trabalhando para abastecer o país", completou.
Alíquota zerada
Bolsonaro aproveitou a live também para falar sobre decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) -- publicada nesta 4ª feira (2.mar) no Diário Oficial da União (DOU) -- que zerou a alíquota do imposto de importação sobre a asa-delta e o jet-ski. De acordo com o presidente, o veículo aquático possibilita a criação de emprego e, com a medida, "você ajuda a entrada desse material aqui". "E não tem similar no Brasil. Não tem fábrica no Brasil de jet-ski. Então esse é um fato positivo que permitiu a Camex então zerar esse imposto de importação que estava na ordem de 18%. Então todo mundo ganha", acrescentou.