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Eleições

A esquerda chegou atrasada para o culto

Agenda de Bolsonaro tem 122 encontros com evangélicos. Pesquisadores revelam plano político do grupo

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Bolsonaro na Marcha para Jesus
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A agenda oficial de Jair Bolsonaro (PL) apresenta 122 reuniões com pastores, visitas a templos evangélicos ou marchas religiosas ao longo dos últimos 46 meses, desde o início do mandato. O ritmo de encontros com representantes de igrejas é um recorde entre os presidentes, e explica, pelo menos em parte, o apoio majoritário do grupo a candidatos da direita, como o presidente. A esquerda chegou atrasada para o culto.

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A agenda frenética de Bolsonaro com os evangélicos é uma estratégia de mão dupla, utilizada também pelos principais representantes das igrejas. Se antes o trabalho dos religiosos era eleger políticos para o Legislativo, neste ano o alvo foi o Executivo. A ação leva em conta abrir espaços num terceiro Poder, o Judiciário, a partir das indicações do Planalto para as cortes superiores, como o Supremo Tribunal Federal (STF).

"Nas minhas pesquisas de campo, em momentos eleitorais, as igrejas atuaram de maneira mais intensa para os seus candidatos no Legislativo", afirma Vínicius Valle, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e um dos maiores estudiosos no tema da religião no país. "Neste ano, os evangélicos estão fazendo campanha muito forte para o presidente, o que muda a atuação para o Executivo."

A partir do momento que a bancada evangélica acumula forças, eles querem mais espaço. "E aí vem a campanha para o Judiciário, mesmo que seja um Poder sem uma relação direta com a eleição, há formas de avanço, como em associações. É o caso da Anajure, formada por advogados evangélicos, que conta com pessoas com relevância no atual jogo político, como a ex-ministra Damares Alves [eleita senadora pelo Republicanos]", diz Valle.

O cientista político vê mais duas mudanças na estratégia dos evangélicos nesta eleição: a não separação da parte política e religiosa nos cultos e o próprio início da campanha. "Existia uma separação entre a religião e o 'agora vamos falar de eleição'. Essa campanha também começou ativamente desde março, foi muito mais longa. Antes, a eleição só começava nas últimas semana nas igrejas", afirma Valle, que foi orientando de André Singer, cientista político, jornalista com atuação em grandes jornais brasileiros e secretário de imprensa no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Agenda com a igreja

No primeiro mandato do ex-presidente Lula, entre 2003 e 2006, foram somente cinco ocasiões nas quais o chefe do Executivo saiu do Palácio do Planalto para comparecer a eventos religiosos, todos católicos. Os quatro primeiros anos de Dilma não registraram nenhuma agenda oficial em cultos fora de Brasília. Dos 122 encontros de Bolsonaro com evangélicos, 45 foram em viagem pelo Brasil em 23 cidades diferentes. Entre aniversários de congregações, abertura de assembleias e almoços com lideranças evangélicas, o atual presidente compareceu a 11 Marchas para Jesus, duas em 2019 e o restante no atual ano eleitoral. 

A agenda evangélica no Palácio do Planalto e na residência oficial da Presidência da República privilegiou os encontros do presidente com representantes de assembleias, pastores e missionários. Foram 57 reuniões misturando as autoridades religiosas com deputados, senadores e ministros do governo Bolsonaro. "A religião foi um dos temas principais nesta campanha, que é longa, cansativa e tratada como uma guerra. Há uma certa exaustão dos evangélicos", diz Juliano Spyer, antropólogo, autor de Povo de Deus (Geração 2020) e criador do Observatório Evangélico.

Nos últimos dias, uma "guerra" - incluindo o uso de fake news - se desenvolve nas redes sociais. Nas ruas e nos palanques, Spyer observa a atuação aliados de Bolsonaro, como a ministra Damares, que, após se eleger senadora pelo DF, entrou na campanha nos estados com a primeira-dama Michelle Bolsonaro. "As igrejas conquistaram poder de coordenação para atuar em larga escala. Mas, pela minha observação, os fiéis já decidiram em quem votar. Aumentar a pressão pode gerar uma reação contrária.

Valle acredita que a dificuldade da esquerda para ganhar mais apoios entre os evangélicos está, em primeiro lugar, na própria atenção para o grupo. "A direita chegou antes, veja o exemplo do próprio Bolsonaro, que já vem buscando essa aproximação há mais tempo. A esquerda busca esse grupo mais recentemente, e mais nos períodos eleitorais. Para ter um diálogo efetivo tem de ter escuta e para ter escuta tem de ter presença. Se a esquerda quiser estabelecer, ter um contato maior, ela terá que incorporar essa escuta e essa presença no seu cotidiano." 

Confira a entrevista com Vinícius Valle:

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