Saúde, emprego e segurança pública foram destaques em debate do SBT em 2018
Evento há quatro anos foi marcado por manifestações da plateia
Guilherme Resck
O SBT realiza neste sábado (17.set) -- às 18h30 --, em pool com os veículos Estadão/Eldorado, Terra, Veja e Rádio Nova Brasil FM, um debate entre os principais candidatos a governador de São Paulo: Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Rodrigo Garcia (PSDB), Vinicius Poit (Novo) e Elvis Cezar (PDT). Nessa mesma época, há quatro anos, a emissora transmitiu um debate entre Paulo Skaf (MDB), Marcelo Cândido (PDT), João Doria (PSDB), Márcio França (PSB), Rodrigo Tavares (PRTB), Lisete Aleralo (Psol) e Luiz Marinho (PT), que concorriam ao Palácio dos Bandeirantes em setembro de 2018.
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O jornalista Carlos Nascimento, do SBT, fez a mediação. Entre os temas abordados pelos políticos, estiveram saúde, emprego e segurança pública. Nos momentos mais acalorados, Doria foi chamado de "propagandeiro" pela professora Lisete Aleralo e o tucano disse que o ex-ministro do Trabalho e Emprego Luiz Marinho estava fazendo "marketing do mal" ao usar uma camiseta com o rosto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estampado.
Márcio França foi o primeiro candidato a perguntar a um concorrente. O escolhido foi o então presidente presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Palo Skaf. França o indagou sobre sua proposta para segurança alimentar. "Quero implantar nas escolas educação de qualidade, período integral de qualidade, com alimentação de qualidade e educação alimentar para que as crianças durante toda a vida se alimentem adequadamente", respondeu o integrante do MDB. O governador paulista aproveitou a ocasião ainda para prometer que manteria o Bom Prato aberto aos finais de semana, sempre a R$ 1,00, criticar a prefeitura de São Paulo por ter suspendido o Leve Leite e perguntar ao presidente da Fiesp por que havia sido citado 18 vezes em inquérito da Lava Jato. "Na verdade o candidato mistura assuntos. Leite de crianças com citações de pessoas sem credibilidade", rebateu Skaf.
Ele foi o segundo a perguntar: após dizer que a saúde do estado estava "na UTI", com filas para diferentes procedimentos, indagou a Marcelo Cândido sobre qual seria sua proposta para a área. O político, que teve o registro da sua candidatura barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concordou com a afirmação sobre a saúde paulista estar em más condições. Depois, Luiz Marinho acusou Doria de não ter cumprido suas promessas na prefeitura da capital paulista e, assim, perguntou a ele como o povo acreditaria que cumpria no governo do estado. "Luiz Marinho, eu fui eleito, e venci o seu candidato, Fernando Haddad, que se foi bom, teria sido reeleito, e ele é o candidato do seu partido agora à Presidência da República. Ele foi tão mal na prefeitura de São Paulo que deu a eleição para mim no primeiro turno. Em um ano e meio de gestão, nós fizemos mais do que os quatro anos do seu candidato, Fernando Haddad", alfinetou o tucano em resposta.
Marinho rebateu Doria dizendo que tudo que falava ter feito era "peça de marketing e publicidade". "Sequer cumpriu a principal promessa, que era cumprir o mandato inteiro", complementou. O tucano deixou a prefeitura para concorrer ao governo, sendo que havia dito que permaneceria os quatro anos no cargo de prefeito. Doria, entretanto, respondeu a fala de Marinho também: "de marketing e publicidade vocês entendem. Lula e Dilma fizeram muito disso. Destruíram o Brasil, destruíram o sonho de milhões de brasileiros e geraram 14 milhões de desempregados, e prometendo justamente o inverso". A plateia aplaudiu, obrigando Carlos Nascimento a fazer uma advertência: "Por favor, gostaria de lembrar os senhores que não é permitida a manifestação da plateia. Os senhores são os nossos convidados e assim devem permanecer em silêncio, ouvindo aqui os candidatos".
Manifestações da plateia marcaram aquele debate. Em determinado momento, com Doria podendo fazer uma pergunta a Marinho e Rodrigo Tavares, mas dizendo que iria "liberar" o primeiro e escolher o segundo, o público lamentou: "ahhh". Outra manifestação ocorreu após Marinho atacar Jair Bolsonaro, na época candidato ao Planalto, depois Lisete dizer ao petista que achava a respeito de um Projeto de Lei (PL) do presidenciável para o SUS não ser mais obrigado a atender mulheres vítimas de violência sexual. "Esse projeto é mais uma violência contra nós mulheres e, por isso, que somos nós mulheres que vamos impedir esse candidato a vencer no Brasil. Ele não. O que você acha da forte mobilização das mulheres contra o Bolsonaro", falou a professora.
Pouco depois, Marinho pontuou: "Ele [Bolsonaro] representa um grande retrocesso na política brasileira. Representa um grande atraso, representa o ódio". Além disso, disse que o político estava "mamando na teta do poder púbico há muito tempo", sendo, então, aplaudido pela plateia. Por causa disso, Nascimento voltou a falar que não havia sido combinado que teria manifestações e que era desrespeitoso com todos. "Aqui eu gostaria, em nome das regras do debate, que mantivesse absoluto silêncio, por favor", acrescentou.
Marinho prometeu, para um eventual governo, discussão de gênero nas escolas, e "cuidar do povo, como o presidente Lula cuidou do Brasil"; acusou Doria de propor fazer mais do que o seu partido, PSDB, em 24 anos no governo fez, e Skaf de ter presidido a Fiesp num período em que a indústria paulista desmontou 570 mil empregos; e defendeu Lula, na época preso por causa da Lava Jato: "Eu creio que no período eleitoral o Ministério Público e o Judiciário têm atuado, aliás tem atuado de formas transversas. Porque você vê a situação do presidente Lula. Um preso de forma injusta, porque na sentença não tem uma única prova".
Márcio França, por sua vez, disse que Rodrigo Tavares não estava "bem informado", por ter afirmado que o chamado alistamento civil não havia sido implementado pela gestão França, contrariando o governador; e prometeu "estrangular o PCC parando de fornecer a mão de obra deles", que seriam os jovens, lançar mão da tecnologia para promover um controle dentro dos presídios. Doria prometeu colocar "polícia nas ruas" e melhorar o salários dos policiais; se apresentou como liberal, dizendo que sa proposta para a economia era "uma economia liberal, desestatizante, diminuir o tamanho do Estado, melhorar a oportunidade para o setor privado, porque ele que gera emprego e renda, desburocratizar o estado"; afirmou que faltou tempo, e não gestão, para promover privatizações enquanto prefeito; e atacou Lisete: "Eu lamento que a senhora como professora esteja mal informada. A senhora precisa voltar para o banco da escola para voltar a ter informação correta, com todo respeito".
A afirmação foi feita após ela perguntar o que ele tinha para falar às pessoas que estavam na fila do exame. Depois de fazê-la, Doria ainda acusou o Psol de estimular invasão de propriedade. Lisete rebateu: "Quem aqui costuma invadir terrenos não é necessariamente o Psol. Parece que o senhor há muito pouco tempo regularizou a sua situação em Campos do Jordão. Eu acho até que o senhor não é gestor. Eu acho que eu sou uma boa professora gestora. Você é mais propagandeiro". Posteriormente, com Marinho tendo dito que expunha o rosto de Lula com a camiseta "com muito orgulho", Doria o alfinetou: "Quem é marketeiro é você, que vem com uma camiseta vermelha com uma figura de um presidiário estampada. Isso que é um marketing do mal"; fazendo com que a plateia comemorasse.
Já Skaf prometeu trazer novos investimentos para o estado e colocar todas as delegacias da mulher para funcionarem 24 horas por dia, além de ter destacado que sua chapa era 50% composta por mulheres. Falta de moradia foi um tema abordado por Lisete, em resposta a pergunta feita pela repórter Simone Queiroz, do SBT. Disse que seu plano para solucionar o problema na área era transformar imóveis vazios do governo estadual em moradias populares, utilizar prédios devedores do estado de São Paulo para moradia, e criar crédito especial para casas populares e pensar em forma cooperativa de moradias.
Rodrigo Tavares, em determinado momento, defendeu Hamilton Mourão (então colega de partido) na polêmica envolvendo sua fala de que famílias pobres com mãe e avó tornavam-se "fábrica de elementos desajustados". "É uma colocação que foi pinçada de um contexto maior", falou Tavares. Além disso, disse que era crescente o movimento de mulheres que apoiavam Bolsonaro e disse que este e Mourão teriam participação num eventual governo seu.
Debate para o segundo turno
Doria e Márcio França seguiram para o segundo turno das eleições, em 2018. No debate transmitido pelo SBT, nesta etapa, Nascimento começou fazendo um alerta: "O comportamento da plateia nos debates de segundo turno que já foram realizados ultrapassou o limite do razoável. Nós esperamos dos nossos convidados uma atitude diferente esta tarde, em respeito aos candidatos que aqui estão, ao público telespectador".
Os candidatos falaram sobre abertura de vagas de creche, propostas para a saúde, saneamento básico e segurança pública, entre outros. A jornalista Daniela Lima, na época na Folha de S.Paulo, perguntou ao tucano sobre o suposto vídeo íntimo do político que viralizou no dia anterior. "Candidato, o senhor foi vítima hoje de um vídeo que, publicado nas redes sociais, viralizou e fez do seu nome o assunto mais citado em todo o mundo no Twitter. O senhor gravou um depoimento condenando fake news, anunciando providências jurídicas. Eu vou abrir aqui o espaço para o senhor falar desse caso se quiser e também sobre o fenômeno de notícias falsas nessa eleição", pontuou a jornalista.
"De fato, um absurdo, o fake news, e o nível que atingiu, a ponto de agredir a minha família, agredir a mim pessoalmente, com situações de modificação de imagens e por isso nós tomamos medidas judiciais", respondeu Doria. Ele defendeu uma mudança na legislação brasilera para as redes sociais, para as próximas eleições, tendo em vista o ocorrido.
Em entrevista ao SBT News, Daniela relembra que estava se "dirigindo ainda para o estúdio" onde ocorreria o debate, quando começou "a receber uma série de mensagens com um vídeo que traria supostas imagens do então candidato ao governo de São Paulo João Doria". "Eu percebi que havia uma ação meio orquestrada, porque o número que enviava era um número do exterior", completou.
Daniela sabia que, por ser dia do debate, tema que tomaria as redes sociais e os jornalistas seriam cobrados a abordar. "A dificuldade era óbvia, era um vídeo de conteúdo adulto, privado, ainda que a gente não tinha muita informação sobre veracidade", acrescenta. Segundo ela, "a grande questão é você buscar o ângulo honesto e respeitoso". "Eu acho que esse episódio mostra que a pergunta não ofende nada, é uma oportunidade para o candidato e o público, e ele respondeu".
Preparação
A campanha de Doria, em 2018, quando o tucano foi eleito governador de São Paulo, considerava que concorrentes estavam fazendo "um jogo muito baixo" na corrida ao Palácio dos Bandeirantes e, portanto, avaliou que o debate do primeiro turno seria "tenso". Segundo uma pessoa que participou da campanha do tucano, "o outro lado estava com uma postura muito agressiva", mas o debate acabou sendo "em alto nível".
Antes dos debates, seja do primeiro ou segundo turno, normalmente era feito um treinamento com Doria duas horas antes, com mais três ou quatro jornalistas. Nesse treinamento, organizado pela campanha, eram estabelecidas perguntas e respostas e analisado como os concorrentes reagiriam.
Durante debates do qual Doria participou em 2018, grupos qualitativos de sua equipe acompanharam os eventos em tempo real, para analisar o desempenho dos participantes. Os relatórios não apontaram qualquer problema por parte do integrante do PSDB.
Importância dos debates
Para o cientista político José Trigo, do Mackenzie, após 2018, quando as redes sociais tiveram "grande participação" nas eleições, não ficou claro como elas influenciariam no pleito de 2022 e qual seria o peso do horário eleitoral e dos debates neste ano. "Pelo menos até aqui em setembro, nos temos percebido que o horário eleitoral não conseguiu surtir o mesmo efeito nas campanhas, mas os debates parece que ressurgiram, ganharam importância. Então o debate por si só, pela sua natureza, já um foro de discussão bastante importante para a política. Mas parece que eles tiveram o seu apelo renovado nessas eleições", acrescentou, em entrevista ao SBT News.
Em sua visão, o debate do primeiro turno entre candidatos a governador em 2018, exibido pelo SBT, contribuiu para os eleitores se decidirem naquele ano. "O Doria tem uma retórica muito competente, o Doria é muito seguro na sua fala e ele enfrentou candidatos como o Marinho, do PT, que já não tinha a mesma capacidade de articulação na retórica", pontuou. Ainda em suas palavras, "aquele debate foi bastante importante, sim, para consolidar ali uma tendência de vitória que o Doria já tinha".
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Trigo avalia também que "os debates significam talvez o único espaço longe das redes sociais". "Que as redes sociais são manipuladas, dirigidas, organizadas, ao passo que os debates exigem do candidato uma articulação, exigem que ele tenha uma versatilidade maior do que nas redes sociais. Nas redes sociais o candidato pode esconder. Num debate ao vivo o candidato não esconde. Então isso é bastante importante".
Na visão da doutoranda em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora d'A Tenda das Candidatas, Hannah Maruci, "o debate é um momento extremamente importante para a democracia, uma vez que é uma oportunidade para que os candidatos e candidatas mostrem o quanto estão apropriados de seus próprios planos de governo, quais suas eventuais lacunas quando confrontados e quais seus pontos positivos". Ainda conforme ela, a existência desses eventos faz com que aqueles que disputam cargo do Executivo "tenham de pensar sobre temas que podem surgir e que não necessariamente teriam sido abordados por eles, trazendo assim uma responsividade do candidato ou candidata em relação à sociedade".
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