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Por que a Manus AI é a startup 'mais legal' que Zuckerberg já comprou

Aquisição marca investida inédita de Mark Zuckerberg na Ásia e coloca holofotes sobre startup que cresceu sem megainvestimentos

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Mark Zuckerberg | Foto: Divulgação

Com a aquisição da Manus AI por Mark Zuckerberg, concluída em 29 de dezembro, inicia-se um novo movimento na corrida global por inteligência artificial: o de valorização de agentes autônomos já operacionais e com receita comprovada, fora do eixo tradicional do Vale do Silício. O negócio sinaliza que, mais do que grandes modelos fundacionais, o mercado começa a premiar aplicações práticas capazes de executar tarefas e gerar retorno imediato.

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A Meta Platforms concordou em comprar a Manus AI, startup de inteligência artificial sediada em Cingapura e com raízes chinesas, em uma transação que avaliou a empresa em mais de US$ 2 bilhões, segundo a Bloomberg. Trata-se de uma investida rara de uma big tech americana em uma empresa asiática e do mais recente dos vários movimentos de Mark Zuckerberg para transformar a IA no eixo central do negócio da Meta.

O acordo foi fechado em cerca de dez dias e resultou na compra da participação de todos os investidores anteriores da Manus, incluindo fundos chineses e internacionais. A Meta afirmou que não haverá participação chinesa remanescente após a conclusão da operação e que a Manus encerrará suas atividades e serviços na China.

Antes da aquisição, a Manus já apresentava números pouco comuns no setor. A startup registrava uma receita anual recorrente estimada em US$ 125 milhões, obtida com a venda de assinaturas corporativas de seu agente de IA. Esse desempenho contrasta com o modelo adotado por empresas como OpenAI e Anthropic, que cresceram apoiadas em aportes multibilionários antes de consolidar modelos claros de monetização.

A Manus AI é especializada no desenvolvimento de agentes de IA, softwares capazes de executar tarefas digitais de forma autônoma, sem interação humana contínua. Entre as funções oferecidas estão a triagem de currículos, a criação de roteiros de viagem e a análise inicial de ações financeiras a partir de comandos simples. A proposta se distancia dos chatbots tradicionais, que dependem de prompts constantes, e aproxima a IA de aplicações corporativas diretas.

Fundada originalmente na China sob o nome Butterfly Effect, a empresa transferiu sua sede para Cingapura e passou a operar globalmente. Ela recebeu investimentos de grupos como Tencent, ZhenFund e HSG, além da americana Benchmark, que liderou uma rodada avaliada em cerca de US$ 500 milhões poucos meses antes da venda à Meta.

Por que a Manus se tornou estratégica para a Meta

Analistas da Bloomberg Intelligence avaliam que a compra da Manus atende a uma lacuna específica da Meta: a ausência de aplicações práticas construídas sobre seus próprios modelos de base, ao contrário do ecossistema mais amplo formado em torno de produtos como ChatGPT, Google Gemini e Claude, da Anthropic. A aquisição é vista como um primeiro passo para a criação de um negócio de assinaturas e APIs ligado diretamente aos investimentos da empresa em IA.

A Meta informou que continuará operando e comercializando o serviço Manus, além de integrá-lo a produtos como Facebook, Instagram, WhatsApp e dispositivos de realidade aumentada. O cofundador e CEO da Manus, Xiao Hong, deve se reportar a Javier Olivan, diretor de operações da Meta. A equipe da startup soma cerca de 100 funcionários.

O negócio ocorre em meio a um ciclo de gastos agressivos da Meta. Zuckerberg prometeu investir centenas de bilhões de dólares em infraestrutura nos Estados Unidos nos próximos anos, grande parte voltada a projetos de inteligência artificial. A estratégia, no entanto, enfrenta ceticismo de investidores, que questionam quando esses aportes se converterão em receita relevante.

A aquisição também carrega implicações políticas. A Benchmark foi criticada por parlamentares americanos por apoiar uma startup de IA com vínculos chineses. Em maio, o senador republicano John Cornyn questionou publicamente o financiamento de empresas com potencial uso estratégico pela China. Questionado sobre o acordo, o Ministério das Relações Exteriores chinês limitou-se a afirmar que o tema cabe às autoridades regulatórias.

Ao apostar na Manus, a Meta sinaliza uma mudança de ênfase no setor. Em vez de apenas disputar quem constrói o maior modelo de linguagem, a empresa passa a mirar sistemas capazes de agir, executar e gerar valor econômico no curto prazo — um caminho que ajuda a explicar por que a Manus se tornou, para o mercado, uma das aquisições mais interessantes já feitas por Zuckerberg.

(André Lopes)

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