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A trajetória da campanha de Guilherme Boulos à Prefeitura de São Paulo

Líder de movimento social procurou passar imagem madura e de gestor para tentar vencer Bruno Covas (PSDB)

A trajetória da campanha de Guilherme Boulos à Prefeitura de São Paulo
SBT News
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Antes de surgir o Guilherme Boulos candidato à Prefeitura de São Paulo, teve o Guilherme Boulos candidato à Presidência da República, em 2018. O primeiro ainda temia amargar nova rejeição das urnas, após ter ficado em décimo lugar com 0,58% dos votos, o pior desempenho da história do PSOL, quando começou a ser sondado por dirigentes do partido para assumir mais uma campanha. Era o mês de março e, naquela altura, as sucessivas conversas com Luiza Erundina já estavam a um passo de formalizá-la como sua vice na chapa, mas nem isso lhe deu a segurança de que teria apoio do eleitorado. Dois agravantes pesavam: o clima hostil e agressivo em que se afundou o debate político no país nos últimos dois anos e a consequente escalada do ódio de classe. Os maiores adversários de Boulos estavam postos quando a pandemia causada pelo coronavírus se impôs no país. As prévias do partido foram adiadas e, nesse meio tempo, o candidato deu lugar ao Boulos ativista, que saia às ruas da periferia para distribuir cestas básicas. "A pandemia mostrou que o prefeito tem que ter sensibilidade social", diz Juliano Medeiros, presidente do PSOL, sobre o que acha ter sido o ponto de inflexão que o fez dizer sim à candidatura. 

Desde o início da campanha, a ideia era criar uma não-campanha, ou ao menos, uma narrativa que não ressoasse o clima de indignação e de ataques a adversários que deram o tom da campanha de 2018. A avaliação interna era de que uma forma de se destacar seria oferecer uma alternativa ao eleitorado que já estava cansado de ataques e brigas na política. A atenuação da imagem de líder de movimento social, quase sempre retratado em cima de uma caminhão de som bradando gritos de ordem, começou pelo jeito mais superficial, suas roupas. Com pouca verba para contratar especialistas em marketing, a campanha reuniu integrantes do partido que palpitam sobre as escolhas pessoais de Boulos. Assim que se assumiu candidato, ele abasteceu o guarda-roupa com batas indianas de cores claras, o que virou motivo de piadas internas. O figurino exótico fez a equipe a compará-lo a um candidato a prefeito de Nova Délhi, e as batas, então, deram lugar a camisas em tons claros de azul e branco. A barba sempre aparada também buscava passar a imagem de um Boulos mais maduro, voltado ao diálogo, característica explorada ao máximo durante sua participação nos debates, mais voltada a argumentos técnicos que o qualificassem como um gestor, do que aos ataques debochados recorrentes em 2018. 

O clima passou a mudar na campanha a partir do momento em que pesquisa Datafolha apontou aumento de 9% para 12% das intenções de votos para a campanha do PSOL, em meados de setembro. "Se prepare, nós vamos para o segundo turno", recebeu Boulos via mensagem de texto enviada pelo deputado federal Ivan Valente, principal articulador da participação de Erundina como vice na chapa. Depois, seguiram-se diversas semanas de indefinição diante da estagnação nas pesquisas até o momento da boca de urna no primeiro turno que apontou a chance de Boulos continuar na disputa. A partir disso aumentou a crença dentro do partido de que a campanha estava predestinada a seguir a mesma trajetória de Luiza Erundina em 1988, eleita prefeita de São Paulo de virada, após pesquisas apontarem a preferência de Paulo Maluf. Na véspera do pleito, Erundina, então candidata pelo PT, estava seis pontos percentuais atrás do primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, citado por 22% dos eleitores em pesquisa Datafolha divulgada em 14 de novembro daquele ano. Análises da época concluíram que a vitória de Erundina elevou o PT a assumir a liderança da esquerda no país. Na campanha de Boulos, a expectativa pela virada chegou ao auge durante a primeira agenda pós-primeiro turno que marcou a formação de uma frente ampla da esquerda a partir da declaração de apoio de Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PCdoB), derrotados nas urnas. "Este é o momento mais importante da campanha até agora", disse Boulos ao lado dos seis vereadores eleitos pelo partido, o triplo do resultado obtido em 2016. 

O resultado do primeiro turno, inclusive, criou uma corrida de lideranças do PT em declarar apoio a Boulos. "Acabei de ligar para Guilherme Boulos, a quem tenho como um irmão mais novo. Desejei sorte e disse que ele pode contar comigo e com a nossa valente militância para virar o jogo em São Paulo", escreveu Tatto em sua página em uma rede social. Exatos dois minutos após a postagem de Tatto, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) também recorreu às redes sociais para declarar apoio a Boulos. "Progressistas, ninguém arreda o pé de São Paulo até a vitória de Guilherme Boulos e a derrota dos tucanos. Vamos à luta", escreveu Haddad.

Confirmada a derrota neste domingo, Boulos voltou a ressaltar a aglutinação de lideranças nacionais de esquerda em torno de sua candidatura, como Ciro Gomes (PDT), Lula (PT), Marina Silva (Rede) e Flávio Dino (PCdoB), como uma forma de se posicionar como uma oposição nacional. "Vou trabalhar a partir de agora para o que a gente uniu e construiu aqui em São Paulo sirva de inspiração para o Brasil para ajudar a derrotar o atraso e o autoritarismo", disse em vídeo divulgado em suas redes sociais.
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