Nunes falta a debate e Boulos diz que vai incorporar proposta de Marçal ao plano de governo
Atual prefeito da capital não justificou ausência, mas tem defendido um número reduzido de encontros
Emanuelle Menezes
Guilherme Boulos, candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo, afirmou nesta quinta-feira (10) que vai incorporar uma proposta de Pablo Marçal (PRTB) ao seu plano de governo. O ex-coach ficou em terceiro lugar no primeiro turno, enquanto o deputado federal disputa o segundo turno com Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito que tenta a reeleição.
"O conceito de integrar o esporte como uma oportunidade para os jovens, para as crianças e adolescentes que estão nas escolas municipais [...] é uma coisa que vamos assumir", disse Boulos, reforçando que quer dialogar com o eleitor de Marçal.
A declaração foi dada em uma entrevista para O Globo, Valor Econômico e rádio CBN, que aconteceu na manhã desta quinta no estúdio da CBN de São Paulo. Inicialmente, estava previsto um debate entre Boulos e Nunes, mas o emedebista faltou ao compromisso. Depois do primeiro turno, o atual prefeito da capital paulista tem defendido um número menor de encontros entre os candidatos.
A organização do encontro deixou a cadeira do candidato ausente vazia. Logo no início da entrevista, o psolista lamentou que Nunes tenha "fugido do debate".
"Isso é ruim para a democracia. A gente já teve nessa eleição muito problema com cadeira, mas até agora não tinha tido cadeira vazia. Nós estamos tendo pela primeira vez pelo debate uma cadeira vazia. Embora isso tenha sido um desrespeito e lamentável com os eleitores de São Paulo, não me surpreendeu, porque o mesmo candidato que agora foge de responder à sociedade, foge de debater ideias, foi o prefeito que durante três anos e meio fugiu das suas responsabilidades", afirmou.
O deputado federal foi questionado por Milton Jung, âncora da CBN, sobre sua aliança com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que declarou apoio a ele no segundo turno das eleições. Alckmin era governador de São Paulo em 2012, quando aconteceu a reintegração de posse na comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), e o então líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) foi detido e levado para a delegacia. Segundo Boulos, a aproximação com Alckmin se deu pela mudança causada pela extrema-direita no país.
"O que mudou não foram as personalidades das pessoas, nem a minha e nem a dele. O que mudou foi o Brasil. Nesse meio tempo surgiu um campo político de extrema-direita marcado pelo ódio, pela violência, e que fez com que setores que pensam diferente se unam para poder enfrentar esse campo. Isso esteve em jogo na eleição passada e está em jogo novamente nessa eleição", disse, relembrando que Nunes é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O candidato também foi questionado por Vera Magalhães, colunista d'O Globo, sobre a eleição de Belém (PA), em que Edmilson Rodrigues – único prefeito de capital eleito pelo PSOL –, não conseguiu se reeleger e ficou fora do segundo turno, com apenas 9,78% dos votos válidos. Boulos não gostou da pergunta e reclamou: "O debate que a gente precisa fazer nessa eleição é sobre São Paulo".
O psolista relembrou críticas que os candidatos à prefeitura da capital paulista ouviram da imprensa no primeiro turno, de que as campanhas não discutiram propostas para a cidade e focaram em ataques pessoais. "Quando a gente está aqui – eu vim, meu adversário não veio – para discutir a cidade, as perguntas são sobre política geral, sobre o país, sobre Belém", reclamou.
Habitação e Moradia
Ao comentar sobre ocupação de terrenos em São Paulo, Boulos reforçou que em um eventual governo seu a cidade terá "o menor número de ocupações na história". Em entrevista ao SBT News em março, quando ainda era pré-candidato, o psolista já havia feito a mesma afirmação.
"Ocupação de movimento social ocorre quando não tem política de moradia, e nós vamos fazer o maior programa de moradia e regularização fundiária da história dessa cidade", disse.
Trabalhadores autônomos
Boulos falou também sobre suas propostas para trabalhadores autônomos, como motoristas de aplicativo, motoboys e taxistas. Ele reforçou que, caso seja eleito, construirá as "casas do trabalhador de aplicativo", para oferecer estrutura de descanso, carregamento de celulares e banheiros para os trabalhadores.
O candidato ainda defendeu o fim do rodízio de veículos para esses trabalhadores, a facilitação da transferência de alvarás para taxistas e a autorização de publicidade realizada nos vidros traseiros dos carros.
Aborto legal interrompido por Nunes
O deputado federal também comentou sobre o serviço de aborto legal na cidade de São Paulo. A Prefeitura de São Paulo, durante a gestão de Ricardo Nunes, suspendeu o procedimento de assistolia fetal no Hospital Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte. O hospital é referência no procedimento médico, recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em gestações que ultrapassam 20 semanas.
No Brasil, o aborto é legal em três casos: quando há risco de vida para a mãe, quando a gestação é resultado de um estupro e em casos de anencefalia do feto.
"Já disse mais de uma vez que vou cumprir a lei. E vou respeitar as mulheres na cidade de São Paulo, inclusive fazendo o combate a violência contra a mulher. Aumentou em 40% os feminicídios na cidade, e eu vou fazer valer a patrulha guardiã Maria da Penha para acompanhar mulheres com medidas protetivas, para prevenir e combater violência contra mulher. Hoje ela só atua no centro, não está descentralizada na cidade", disse Boulos.
O Supremo Tribunal Federal cobrou explicações da gestão de Nunes sobre recusa a aborto legal em hospitais públicos de São Paulo. Segundo a Prefeitura da capital paulista, houve uma "negativa momentânea".