Rio de Janeiro vai ter bolsa de valores? Qual será o impacto da nova operação? Entenda
A cidade sediou uma das primeiras bolsas de valores do país que, durante seus anos finais, esteve envolvida em um escândalo financeiro
Wagner Lauria Jr.
O Brasil irá receber uma nova bolsa de valores nos próximos meses e sua sede será no Rio de Janeiro. O anúncio foi oficializado no início de julho, em evento com a participação do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), representantes do fundo soberano dos Emirados Árabes, e da Americas Trading Group (ATG), que será responsável por administrar as operações. Ainda não há local definido para sediar a bolsa, que deve começar a operar apenas em 2025.
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De acordo com a Prefeitura do Rio, a nova bolsa negociará ações, derivativos, câmbio e commodities e o objetivo será competir com a B3, sediada em São Paulo, atualmente a única do país.
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A oficialização ocorre alguns dias depois da aprovação do Projeto de Lei 3276/2024 pelos vereadores do município. A nova lei altera o Código Tributário do Rio de Janeiro e reduz a alíquota do ISS (Imposto Sobre Serviços) sobre atividades da bolsa de valores. O projeto foi encaminhado por Paes, que comemorou a decisão em suas redes sociais.
"Faria Lima, a festa está acabando! Ninguém segura o Rio!", disse Paes
Qual será o impacto da nova bolsa?
Na avaliação do economista da Universidade Presbiteriana Mackenzie Hugo Garbe, o impacto inicial da nova bolsa provavelmente será "modesto", com um foco em atrair pequenas e médias empresas locais. A concorrência direta com a B3 "será um desafio considerável", segundo ele.
"As expectativas para a nova bolsa carioca são cautelosas. Por um lado, há um potencial para diversificação e aumento da competição. Por outro, o mercado de capitais brasileiro ainda é pequeno quando comparado a grandes centros financeiros como Nova York e Londres", ressaltou
Para ele, o sucesso dessa iniciativa dependerá muito da capacidade da nova bolsa de oferecer serviços diferenciados e condições atrativas, que realmente façam diferença para os participantes do mercado, sejam investidores e empresas.
Por que só tem bolsa em São Paulo?
O Rio de Janeiro foi uma das primeiras bolsas de valores do Brasil, junto com a de Salvador (Bovesba). No entanto, a bolsa carioca viu suas operações sendo gradualmente reduzidas após um escândalo financeiro que envolveu o investidor e empresário Naji Nahas, acusado de manipular mercado de ações. Isso colaborou com a sua extinção, em 2002, quando foi incorporada pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A Bovesba também foi extinta e incorporada à bolsa paulista.
A Bovespa, fundada em 1890, chamava-se Bolsa Livre, teve seu nome alterado apenas em 1967.
Em 2008, a Bovespa passou por um processo de fusão com outra bolsa existente, a BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), criando BM&FBovespa. Em 2017, chegou à configuração atual, após a criação da B3 (que significa Brasil, Bolsa e Balcão), resultado da fusão com a Cetip (Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos), que faz o registro e a custódia de operações e de liquidação financeira de títulos públicos e privados.
"Essas consolidações ocorreram principalmente devido à busca por maior eficiência, competitividade e modernização do mercado financeiro brasileiro.", disse Garbe
O que faz uma bolsa de valores?
Uma bolsa de valores tem um papel importante na economia, ao organizar o mercado de compra e venda de ações, títulos e outros valores mobiliários. Esses ativos são formas de as empresas captarem recursos para fazer novos investimentos. A bolsa é um ambiente regulamentado onde investidores podem negociar esses ativos de forma segura.
Além disso, a bolsa de valores divulga informações financeiras das empresas, supervisiona transações para garantir conformidade com as regulamentações e tem a missão de proteger os interesses dos investidores com capital investido nas empresas.
Na visão de Garbe, facilitando o acesso ao capital para empresas e oferecendo oportunidades de investimento, uma bolsa de valores contribui significativamente para o desenvolvimento econômico.