Lula recebe premiê do Japão e pedirá abertura do mercado para a carne bovina brasileira
Fumio Kishida chega ao Brasil na sexta (3) e também debaterá sobre governança da ONU, desenvolvimento sustentável, Amazônia e assuntos bilaterais

Raphael Felice
O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, fará visita oficial ao Brasil na sexta-feira (3) e no sábado (4), a convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O brasileiro quer aproveitar o encontro com o chefe de governo japonês para pedir a abertura do mercado do país asiático para a carne bovina brasileira.
As duas autoridades vão realizar uma reunião bilateral no Palácio do Planalto após recepção ao japonês, seguida de uma cerimônia de assinatura de atos e almoço de trabalho no Palácio do Itamaraty. Nesta quinta (2), o governo realizou um briefing — resumo — sobre a visita, também na sede do Ministério das Relações Exteriores.
Kishida virá acompanhado de 35 lideranças empresariais japonesas. Durante a reunião de trabalho, os líderes vão abordar diversos temas relacionados às relações bilaterais, como elevação dos fluxos de comércio e investimentos; temas consulares; ciência, tecnologia e inovação; parceria em transição energética; e cooperação em iniciativas ambientais.
Um dos principais interesses do Brasil no encontro é ampliar o mercado de bovinos e passar a ser um exportador para o Japão. Atualmente, o Japão exporta 70% da carne consumida no país e as utiliza, principalmente, para embutidos. A compra é feita de apenas dois países: Austrália e Estados Unidos.
"O Japão tem também muito a cooperar no campo do desenvolvimento sustentável. Durante a visita, será constatada a participação do Japão em projeto para recuperação de terras degradadas do cerrado e investimentos também na Amazônia", explicou o embaixador Eduardo Paes Saboia, encarregado do briefing sobre a visita do primeiro-ministro.
Segundo Saboia, o Brasil possui "grande potencial" para entrar neste mercado e evoluiu muito na questão sanitária na exportação de carne. Também há interesse em abrir o mercado de exportação de suínos. Atualmente, o Japão é um grande importador de frangos brasileiros.
Lula e Kishida também vão debater um tema de interesse mútuo de Brasil e Japão: a reforma da governança do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).
"Haverá uma troca de ideia sobre o que poderá ser feito, em prol da reforma da governança e também na questão da paz. Também tem sido um debate importante o combate à fome, que tem sido uma das prioridades do G20. Engajar o Japão no combate à fome estará entre os chamados brasileiros aos japoneses, além da questão da sustentabilidade", descreveu.
No contexto da presidência brasileira do G20, Lula, Kishida e ministros presentes devem dialogar sobre iniciativas de combate à fome e à pobreza; mudança do clima à luz da COP-30, em Belém (2025); e reforma da governança internacional incluindo a ONU, além de tópicos relacionados à paz, à segurança e ao desarmamento.
A transição energética será outro ponto em ênfase nas discussões entre Brasil e Japão. O país asiático pretende fazer investimentos tecnológicos no Cerrado para recuperação de áreas degradadas.
"O Japão tem também muito a cooperar no campo do desenvolvimento sustentável. Durante a visita, será constatada a participação do japão em projeto para recuperação de terras degradadas do Cerrado", disse o embaixador. O Japão também investirá R$ 15 milhões no Fundo Amazônia.
Em São Paulo, no dia 4, o chefe de governo japonês realizará atividades junto à comunidade nipo-brasileira, com compromissos nas esferas acadêmica e cultural, e participará, ao lado do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB), do Fórum Empresarial Brasil-Japão. Evento reúne lideranças da iniciativa privada de ambos os países e é organizado por entidades setoriais com apoio da ApexBrasil e da Agência Japonesa de Comércio Internacional (JETRO).
Kishida ainda visitará um memorial em homenagem aos imigrantes japoneses no Brasil, fará palestra na Universidade de São Paulo (USP), conhecerá a Japan House e só depois encontrará Alckmin e também integrantes de entidades empresariais, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O Brasil conta com a maior população nipodescendente fora do Japão, estimada em mais de 2 milhões de pessoas, e o Japão abriga a 5ª maior comunidade brasileira no exterior, com cerca de 211 mil nacionais. Os dois países mantêm Parceria Estratégica e Global, que completa uma década em agosto deste ano.
O presidente Lula visitou o Japão em maio passado, em atenção a convite do primeiro-ministro Kishida, para a Cúpula do G7 em Hiroshima, ocasião em que também realizaram reunião bilateral. Durante a visita, alcançou-se entendimento para a adoção de política de isenção de vistos para visitas de até 90 dias, vigente desde setembro de 2023.
Em 2023, o Japão foi o 2º parceiro comercial do Brasil na Ásia e o 9º no mundo, com intercâmbio comercial de US$ 11,7 bilhões e superávit brasileiro de US$ 1,491 bilhão. O Japão ocupa a posição de 8º maior investidor externo no Brasil pelo critério de controlador final, com estoque de cerca de US$ 28,5 bilhões.
Veja o roteiro da visita de Fumio Kishida ao Brasil
Sexta-feira (3/5)
9h30 — Kishida chega para cerimônia oficial no Palácio do Planalto e recebe no topo da rampa os cumprimentos do presidente Lula;
10h — Reunião ampliada na sala de audiências do Palácio do Planalto;
11h30 — Cerimônia de assinatura de atos no Salão Leste do Palácio do Planalto;
11h40 — Declaração à imprensa no Salão Leste do Palácio do Planalto;
12h30 — Almoço na Sala Brasil do Itamaraty
14h — Previsão de viagem ao Paraguai
Sábado (4/5)
11h50 — Retorna ao Brasil para agendas em São Paulo










