Impostos elevados encarecem eletrodomésticos no Brasil
Reforma tributária promete mudanças, mas carga fiscal sobre eletroeletrônicos continua pesando no bolso do consumidor
Flavia Travassos
O setor de eletroeletrônicos, que inclui os eletrodomésticos, teve um crescimento expressivo em 2024. As vendas da indústria para o varejo aumentaram quase 30% em relação ao ano anterior, totalizando cerca de 118 milhões de produtos comercializados. Esse é o melhor resultado em uma década. No entanto, os altos impostos ainda representam um desafio para consumidores e lojistas.
De acordo com João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), a tributação desses produtos é definida conforme sua essencialidade. "Os governos, tanto estadual quanto federal, entendem que esses eletrodomésticos não são essenciais à população e, por isso, podem ter uma tributação maior", explica.
+ Isenção do Imposto de Renda: quem ganha entre R$ 5 mil e R$ 7 mil também terá mudanças
+ Oposição tenta emplacar reforma administrativa
Impostos
Os números confirmam essa política fiscal. Quem compra uma máquina de lavar, por exemplo, paga 37% do valor do produto apenas em impostos estaduais e federais. Para um fogão de quatro bocas, a carga tributária é semelhante. Já uma geladeira tem uma taxação ainda maior, de quase 43%. Os secadores de cabelo impressionam: mais da metade do valor que o consumidor paga (51,46%) corresponde a tributos.
O micro-ondas é um dos campeões de impostos. "O que a gente paga de tributos equivale a 65% do preço final. Esse aqui custa R$ 999, o que significa que R$ 649,35 são só de impostos. Com esse valor, daria para comprar outro item para casa", destaca a repórter Flávia Travassos.
A expectativa é que a reforma tributária, aprovada pelo Congresso Nacional e prevista para entrar em vigor no próximo ano, traga mudanças no sistema de cobrança de impostos. No entanto, segundo o IBPT, os impactos no bolso do consumidor devem continuar significativos.]
Tributo igual
"A tributação sobre o consumo é regressiva, não há diferenciação de acordo com a capacidade econômica. Como todo mundo paga igual, proporcionalmente o pobre acaba pagando mais", ressalta Olenike.
A dificuldade de adquirir eletrodomésticos de alto custo é sentida por trabalhadores como Vitor Guimarães, assistente técnico. "Imagina alguém que ganha R$ 1.500 por mês. Como faz para pagar aluguel, contas e ainda comprar uma geladeira de R$ 4.000? Não compra, sofre", lamenta.
A reforma tributária pode trazer ajustes, mas, até lá, os consumidores seguem lidando com a pesada carga fiscal sobre os eletrodomésticos.