Haddad leva proposta de taxação dos super-ricos ao papa Francisco
Ministro da Fazenda está na Europa para eventos oficiais; além do pontífice, terá encontro com o economista espanhol Carlos Cuerpo
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está nesta terça-feira (4) em Roma, onde deve se encontrar com o papa Francisco na quinta (6). Em visita oficial, o nome da economia do governo federal deve levar ao pontífice temas já destacados pela presidência do Brasil no G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo): taxação de grandes fortunas dos super-ricos, luta contra crise climática, com atenção para a tragédia no Rio Grande do Sul, e a crise da dívida dos países do sul global.
Cobrar mais impostos daqueles conhecidos como super-ricos "é vista como uma medida essencial para reduzir a desigualdade econômica global. O Brasil, sob a presidência do G20, tem defendido a implementação de políticas fiscais mais justas, que garantam uma distribuição equitativa da riqueza. Este tema será discutido durante a audiência com o papa Francisco", afirma a pasta em nota.
Na ocasião, o ministro deve debater posição coordenada entre Brasil e Vaticano em relação à Cúpula do G7 (grupo dos sete países democráticos mais ricos), que ocorrerá em Fasano, na Itália, de 13 a 15 de junho. Encontro deve ser confirmado ainda nesta semana.
Trilha financeira do G20: Haddad vem defendendo uma taxação de até 2% dos rendimentos das maiores fortunas do planeta, como oportunidade de reduzir a desigualdade social e combater os efeitos das mudanças climáticas. Recentemente, tem afirmado que a proposta está ganhando a adesão de diversos países e que pode entrar como recomendação das reformas propostas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O projeto de uma alíquota global sobre as riquezas é baseado em estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made/USP) publicado em maio. A vantagem desse acordo internacional é evitar que os milionários movimentem essa riqueza internacionalmente para fugir dos impostos, como acusam os críticos de um endurecimento tributário.
A próxima reunião de Finanças do G20 acontece em julho.
Super-ricos: quem tem ganho mínimo de R$ 4 milhões por ano, aproximadamente. Isso representa viver com algo como R$ 333 mil ao mês, entre todos os recebimentos (salários, lucros de negócios e rendimentos). Os números tomam como base o Imposto de Renda de 2021.
Além disso, Haddad participa da conferência "Addressing the Debt Crisis in the Global South" ("Enfrentando a crise de débito no sul global", em tradução livre) nesta quarta. O evento é coorganizado pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais do Vaticano e reunirá líderes globais e especialistas para discutir estratégias de mitigação e resolução das dívidas.
Na agenda do ministro, ainda hoje também há uma reunião com Carlos Cuerpo, ministro das Finanças espanhol — às 12h, no horário de Brasília. "Esta reunião visa estreitar os laços econômicos entre Brasil e Espanha, discutindo oportunidades de cooperação em áreas de interesse mútuo", informa a pasta. O país também é a favor da proposta de taxação dos super-ricos.