Fábricas brasileiras anunciam férias coletivas com proximidade de tarifaço dos EUA
Empresas ganham tempo para avaliar impacto nos negócios enquanto setores preveem demissões
Flavia Travassos
Fábricas brasileiras anunciaram férias coletivas para funcionários após o anúncio de novas tarifas pelo presidente americano Donald Trump. O objetivo é ganhar tempo enquanto as empresas tentam dimensionar o impacto das medidas nos negócios.
Diferentes setores já preveem demissões em massa caso as tributações se confirmem. A Randa, fábrica paranaense que faz molduras, portas e outras peças de madeira, teve que reduzir o número de trabalhadores na ativa. Mais da metade da produção da empresa é destinada aos Estados Unidos.
"Os nossos funcionários já tiveram férias coletivas e alguns novos funcionários estão entrando em férias coletivas, então a gente está fazendo um rodízio de férias para poder realmente não ser injusto e dar férias para todos eles de forma igualitária", explicou Guilherme Ranssolin, CEO da empresa.
A medida é prevista em lei, mas a empresa precisa cumprir algumas regras específicas. Segundo advogado especialista em direito trabalhista, Bruno Okajima, nas férias coletivas é necessário comunicar o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o sindicato da categoria.
"Existe um prazo mínimo previsto na legislação que é de 15 dias antes do início das férias e fazer o pagamento dessas férias também dois dias antes do início. Então, infelizmente, não dá para chegar amanhã e dizer que você dará férias coletivas para todo o setor", detalhou o especialista.
Em 2024, cada um bilhão de reais exportado ao mercado americano resultou em mais de três bilhões de reais em produção no Brasil, além da geração de mais de 24 mil empregos, que agora estão ameaçados.
Outro setor que corre risco de ser prejudicado é o de calçados. O Brasil exporta 13% da produção nacional e o principal destino são os Estados Unidos. Caso a tarifa se confirme, a projeção é que 12 mil trabalhadores do setor percam o emprego, já que muitas fábricas têm como foco este mercado.
"Um tipo de produto que é feito na marca do cliente dos Estados Unidos, como o produto que ele quer, com o couro, o modelo, que é desse cliente", explicou Haroldo Ferreira, da Abicalçados.
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Os reflexos das medidas, caso entrem mesmo em vigor, são certos, só não se sabe ainda quando começarão a ser sentidos de forma mais intensa na economia brasileira.