Agronegócio do Mercosul tem vantagem competitiva em acordo com a União Europeia, diz Ipea
Setor pode ser o mais beneficiado pelo acordo, mas enfrenta exigências sanitárias e resistência de produtores europeus
SBT Brasil
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o agronegócio do bloco sul-americano deve ser o setor mais beneficiado com um eventual acordo com a União Europeia. Ele vai permitir que os países europeus possam comprar mais produtos brasileiros, principalmente aves, carnes bovina e suína e óleos vegetais, itens em que o Brasil é mais competitivo.
“A cada vez que surgem mais interessados, mais compradores do produto suíno do nosso estado, ou mesmo no país, é importante”, destaca Ilânio, criador de porcos no Rio Grande do Sul.
O acordo prevê que a União Europeia reduza tarifas e amplie cotas para a entrada de produtos do Mercosul. Em troca, os europeus ganham mais acesso ao mercado brasileiro, sobretudo para bens industrializados, inclusive em compras governamentais.
“Mesmo que não seja uma tarifa zero, na maioria dos casos, ela vai descer a zero, é positivo para o agro-brasileiro. Existem alguns outros produtos que a tarifa não será zerada de maneira integral, a gente chama que são os produtos que foram negociados em cotas. Então a gente está falando, por exemplo, de carne bovina, carne suína, mel, queijos, tem uma cesta de produtos que eles não vão ter a liberalização”, explica Sueme Mori, diretora de relações internacionais da CNA.
No caso da carne bovina, por exemplo, serão permitidas 99 mil toneladas por ano, com tarifa reduzida para 7,5%. Para as aves, a cota chega a 180 mil toneladas com tarifa zero.
“Olhando para o agronegócio como um todo, você poderia ter um ganho da ordem de 2% no valor adicionado, gerado pelo agronegócio brasileiro. O que parece pouco quando a gente fala assim, mas que, na verdade, para o perfil desse tipo de atividade, é um ganho significativo”, avalia Fernando Ribeiro, pesquisador do Ipea.
Setor precisa se adaptar
Para aproveitar as oportunidades, os setores sabem que precisam se adaptar. Questões como a rastreabilidade dos produtos, os padrões sanitários e a logística serão decisivas para atender às exigências europeias.
Uma delas proíbe a compra de proteína animal produzida em áreas desmatadas nos últimos cinco anos. Além disso, ainda há uma série de restrições sanitárias. A União Europeia mantém padrões elevados e exige garantias dos sul-americanos sobre segurança alimentar e saúde animal e vegetal.
“A maior dificuldade que a gente tem hoje realmente tem a ver com essas cotas de importação, essas limitações. Em muitos casos são cotas sanitárias: você tem uma cota e uma tarifa, você tem uma limitação de quantidade e ainda paga uma tarifa. Infelizmente, o acordo não vai acabar com isso”, ressalta Fernando Ribeiro.
Na Europa
Na capital da Europa, Bruxelas, o tema também está presente no dia a dia. Produtos europeus, como o azeite, poderão chegar mais baratos ao Mercosul, enquanto carnes sul-americanas chamam atenção pelo preço.
Em um restaurante, uma peça de filé mignon custa 31 euros, o equivalente a pouco mais de 200 reais. Já em um açougue brasileiro em Bruxelas, uma peça de coxão duro produzida na Bélgica custa quase 19 euros o quilo. A carne brasileira, mesmo com impostos, sai mais barata: 16,50 euros.
“O boi deles custa mais caro e, em termos de sabor, a gente ganha também”, explica Francis Souza, açougueiro brasileiro que trabalha no local.
Segundo ele, uma das vantagens do Brasil está no sistema de produção. “No Brasil tem a vantagem dos pastos. A gente lá tem muito pasto, tem muita área verde. Aqui é praticamente só ração. O que encarece o boi. E a mão de obra também é mais cara”, afirma.
Esse cenário ajuda a entender a resistência de produtores europeus, que pressionam por mudanças de última hora no acordo. A carne que vem do Mercosul chega não apenas com qualidade, mas também com preços mais competitivos.
É uma disputa que, segundo especialistas, os europeus dificilmente conseguem ganhar sem um controle rigoroso sobre as regras do jogo.









