Juros devem cair mesmo com inflação mais alta do que o esperado
Bolsa de Valores sobe refletindo bom humor de empresas que dependem do crédito mais barato ao consumidor
Guto Abranches
A Bolsa de Valores de São Paulo teve um dia de alta de seu principal índice nesta 3ª feira (28.nov) e chegou a flertar com a máxima do ano: 127 mil pontos. No fechamento, o Ibovespa marcou + 0,66% para definir 126.567 em pontuação. É importante ressaltar o desempenho positivo principalmente quando se lembra que o dia começou com a divulgação de um índice de inflação que chegou a surpreender. E não para melhor.
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O IPCA-15 de novembro, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que muitos analistas tratam como uma espécie de prévia da inflação oficial do país, subiu 0,33% . Esse índice veio acima do que a média do mercado previa, em torno de 0,30%. E normalmente o mercado não gosta de ser surpreendido. Mas há uma observação importante que, no fundo, foi o que pesou sobre o pensamento dos investidores.
Núcleos, o quê são e para que servem
O fator que mais subiu e puxou o indicador pra cima, foi a alta dos alimentos e bebidas (+ 0,82%). Tá certo que comida na mesa é prioridade de todo mundo, mas os técnicos que entendem de inflação alertam que este item -- junto com os custos de energia -- são muito "voláteis", quer dizer, sofrem muita oscilação. E variam muito também porque dependem de certas épocas do ano -- se há ou não boa safra de um determinado produto, se há ou não boa quantidade de água nos reservatórios para garantir geração de energia e por aí vai. É a tal sazonalidade. Como eles flutuam demais, são normalmente descartados do cálculo dos "núcleos" da inflação que, na prática, são os que realmente contam na hora de se medir a pressão sobre os preços. Feitas as contas do dia, os núcleos não tiveram influência negativa sobre a expectativa de inflação.
Como ficam os juros
Sem maiores pressões sobre os índices de inflação, os analistas entendem que o Banco Central não terá como alterar a política de cortes dos juros, nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (COPOM). A próxima reunião é nos dias 12 e 13/dezembro. E a aposta dos investidores é de que o Copom vai seguir cortando os juros em 0,50 ponto percentual neste encontro.
A tendência para os juros, por conta disso, é de queda. Tanto que as taxas negociadas no mercado financeiro nesta 3ª(28.nov) tiveram vários de seus contratos ou em posição de estabilidade ou até mesmo 'mais baratos', quer dizer, com a taxa de juros em queda. Veja os exemplos abaixo:
- Juros DI1F24 (janeiro/24): - 0,08%
- Juros DI1F31 (janeiro/31): - 0,37%
- Juros DI1F33 (janeiro/33): - 0,27%
Reflexo na Bolsa
Juros menores favorecem os consumidores que precisam de crédito para financiar compras, imóveis, carros e etc. As ações de empresas do varejo, ligadas ao crédito ao consumidor, tiveram altas fortes no dia: Carrefour (CRFB3) + 2,37%. Lojas Renner (LREN3) + 3,90% e Construtora MRV (MRV3) + 6,04%. A exceção ficou por conta do Magazine Luiza (MGLU3), também do varejo, que caiu 4,08% devido à decepção com os resultados da Black Friday. O ingresso de investidores estrangeiros no mercado nacional também impulsionou os papéis de bancos brasileiros. No conjunto da obra, todos ajudaram o Ibovespa a fechar no azul.
O dólar, que normalmente sobe ou desce no sentido contrário ao da Bolsa, teve queda de 0,57% e foi cotado para venda a R$ 4,872.
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