Fed mantém os juros nos Estados Unidos entre 5% e 5,25% ao ano
Decisão do Comitê de Mercado Aberto do BC americano interrompe um ciclo de 10 altas; relatório foi "duro"
Guto Abranches
O Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) manteve inalterada a taxa de juros referencial da economia americana na reunião concluída nesta 4ª (14.jun). Os juros permanecem no intervalo entre 5% e 5,25% ao ano. A decisão interrompe um ciclo de 10 altas consecutivas praticadas pela autoridade monetária do país.
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O mercado financeiro dava com certo que a posição da taxa não seria alterada: proporção superior a 90% dos analistas tinha a manutenção como única alternativa. Na visão dos especialistas, a parada nas puxadas de juros, agora, seria uma espécie de "freio de arrumação", estratégia para acomodar as consequentes análises do meio econômico-financeiro em relação à continuidade da política monetária como se apresenta.
E mais ainda: momento para que o próprio Federal Reserve repouse o olhar e o fôlego sobre como conduzir o patamar de juros no horizonte próximo. Não está descartada, desde já, uma possível nova elevação das taxas até mesmo na próxima reunião, prevista para o final de julho. E a temporada de busca por sinalizações está aberta.
Tom do discurso
Mais do que a decisão em si, os investidores e economistas estiveram ansiosos para conhecer o tom do relatório que sai em seguida à definição pelos diretores do Fomc. O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, já tem manifestado nas reuniões recentes o foco em adequar a trajetória da inflação à meta de 2%. Não foi desta vez que ele deixou de salientar este pormenor, ressaltando que a autoridade monetária fará "o que for necessário para atingir os objetivos de estabilidade de preços", reafirmou.
Um ponto de observação destacado hoje - e sempre, no passado próximo - é o mercado de trabalho e a renda do trabalhador, que têm se mantido firmes - até para certo nível de surpresa do Fed. E é o consumo gerado a partir dos dois fatores que eventualmente pode puxar os índices de custo de vida, daí a atenção redobrada. Daí o alerta para novas altas ser levado em conta prioritariamente pelo mercado. Em outras palavras, uma vez mais o tom do comunicado foi considerado austero, ou nas palavras do mercado, mais "hawkish".
"Faltando 4 reuniões para encerrar o ano, a mediana das projeções da Fed Funds Rate saltou de 5,00%-5,25% para 5,50%-5,75%, o que sinaliza outras duas elevações de 25bps até o fim do ano, sendo que o mais dovish [ameno] dos agentes avalia que o intervalo deve ser no mínimo mantido" - Étores Sanchez, economista chefe da Ativa Investimentos
Heitor Martins, estrategista da Nexgen Capital
"Decisão era esperada e o comunicado era aguardado ansiosamente. O comunicado veio em tom positivo, com empregos e sistema bancário nos EUA respondendo bem a taxa de juros, apesar da quebra de alguns bancos em março e abril. A injeção de liquidez pelo Fed veio pra resolver o problema. O que a gente fica de olho é que o Fed não deixou descartada a possibilidade de novos aumentos daqui pra frente. O orgão está muito concentrado em trazer a inflação de volta à meta, que é de 2% ao ano por lá".
Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital
"Como não houve um agravamento das condições monetárias pelos eventos bancários, esperávamos a sinalização de uma alta adicional após a pausa de hoje. A indicação do Fed foi mais dura do que nossa expectativa ao colocar a taxa final de ano em 5,6%. De todo modo, como o padrão novo é de altas alternadas, o segundo aumento da taxa de juros se daria em novembro. Até lá, esperamos que a desaceleração da atividade esteja mais espalhada, inclusive no mercado de trabalho e, assim, seguimos com a expectativa de taxa final de 5,5%. Apenas surpresas relevantes no ambiente macro, inclusive com relação aos bancos, tiraria o Fed do plano de apertar novamente em julho".