Mercado de petróleo dá as cartas e empurra Ibovespa para fechar em queda
Papéis de empresas do setor disparam com decisão da OPEP de cortar 1,1 milhão de barris por dia
Guto Abranches
O mercado financeiro nacional fechou em queda nesta 2ª feira (3.abr) após alguns de seus principais papeis experimentarem oscilações intensas ao longo do dia: as ações da Petrobras, por exemplo, dispararam fortemente, mas o desempenho não foi garantia para o Ibovespa evitar a queda no geral: - 0,37% aos 101.506 pontos. Não se confirmou, no entanto, a aposta mais pessimista de parte dos analistas de mercado, que consideraram que a bolsa brasileira voltaria a perder o piso de 100 mil pontos.
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O motivo para o pessimismo foi a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petroleo (OPEP) de cortar a produção da commoditie em 1,150 milhão de barris por dia. A posição adotada pelo cartel dos produtores, ainda durante o fim de semana, foi motivada pelo "ladeira-abaixo" nos preços a que o barril do petróleo obedece recentemente: o preço do petróleo bruto registrou seu nível mais baixo em 15 meses, ao atingir US$ 72 o barril.
Depois da redução anunciada na produção, o WTI -referência nos Estados Unidos - saltou para US$ 79,78. Já o Brent, que é base de preços para o petróleo internacional, deu a largada nos trabalhos do dia a US$ 84,33. Alta média em torno de 6%.
É escorregadio, que chama?
"Desde a pandemia, passando pela guerra na Ucrânia, até agora mais recentemente na crise bancária nos EUA e na Europa, o petróleo só faz cair", pontua o economista Adriano Pires, especialista em mercado de energia e sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura. São motivos de sobra pra reforçar o descontentamento dos produtores com os resultados sobre os preços.
O aviso de diminuir a produção - o corte, na prática, só entra em vigor em maio e deve seguir até o final de 2023 - funcionou como uma espécie de aviso ao mercado, mostrando que os "sheiks" estão atentos ao poder que tem: regular o suprimento de petróleo no mercado internacional e, assim, balizar as cotações mais perto de seus objetivos. Tema sob análise de Adriano Pires, na entrevista ao SBT News que vc confere abaixo.
O mercado foi pego de surpresa?
Adriano Pires - Por incrível que pareça, foi. Desde a pandemia, passando pela guerra da Ucrânia e mais recentemente pela crise nos bancos nos Estados Unidos e parcialmente na Europa, o que se viu foi o preço do barril no "ladeira-abaixo".
Parece até que demorou um pouco pra decidirem cortar?
Adriano Pires - É, porque tempos atrás as mexidas no fornecimento de petróleo ao mercado eram mais frequentes. Agora, até que demorou um pouco. E acabou pegando o mercado desacostumado, de surpresa. Mas aí vc pensa: o barril ali nos US$ 72,0, flertando com US$ 70 o barril. Alguma coisa era de se esperar.
E a reação veio rápida?
Adriano Pires - Muito. Porque desde a pandemia, passando pela Ucrânia, quem norteia esse mercado é a Opep mais a Russia. Controlam a curva de oferta. No primeiro, segundo choque [do petróleo], houve um grande aumento de oferta. Aí os EUA deram um choque de juro pra reduzir o preço. Agora, mesmo vc dando choque de juros, como não tem choque de oferta, que tá dominada pela Opep e Russia, de um lado , e de outro lado o ocidente liderado pelos juros nos EUA. Salvo essa crise de bancos, a tendência é que o primeiro semestre deve fechar o barril entre 80 a 85 dólares. O segundo semestre fecharia a média entre 90 a 95 mas tendo dias onde o petróleo pode chegar a 100. É que pra dar uma média de uns 95, em algum dia vc vai ter que bater nos 100.
Então vai subir ainda mais ?
Adriano Pires - A partir de agora a trajetória é de crescimento do preço. A China começa a crescer muito por commodities, petróleo, ferro. E como vc tem a oferta controlada pela Russia e Arábia Saudita - que no fundo é quem dá as cartas entre os árabes produtores - já viu. Agora , tem um aspecto importante aí. Eles compraram a tese dos ambientalistas, que foram os caras que trouxeram de volta o poder deles sobre o mercado: uma vez que as ações dos ambientalistas tendem a reduzir a oferta, até em função de escassez que é provocada, olha como as decisões dos exportadores volta a ter peso determinante. Semana passada o proprio Biden [Joe, presidente dos Estados Unidos] autorizou explorar no Alasca.
E para o Brasil, como fica?
Adriano Pires - O que pode acontecer no Brasil é que a Petrobras teria que aumentar gasolina e diesel, que provoca inflação. Pelo que eu vejo do governo eles vão segurar o preço. Vão represar isso. Existe uma expectativa de como a política de preços da Petrobras vai reagir diante do novo preço do petróleo. Há uma grande chance de a política de preços não acompanhar o aumento de preço do barril . O teste vai acontecer se esse cenário de preço de barril a 90 acontecer. Qual vai ser a reação da Petrobras? Vai segurar o preço ou vai vir com alguma
política nova. o teste vai ser agora.
Os papéis hoje subiram. Por que?
Adriano Pires - No primeiro momento, aumenta o barril -- ou se prevê que vai aumentar proximamente -- o mercado aproveita porque beneficia as empresas do setor. Agora, se o preço continua subindo e a Petrobras não reajusta a gasolina e o diesel, ou se vier com formula maluca, aí o petroleo desaba. O mercado tá apostando que como a Petrobras reduziu o preço quando baixou, vai aumentar o preço na alta do barril. se a lógica for de anormalidade, não repassar aumento do mercado internacional, aí pode mudar o humor do investidor.
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