Encontro do FMI aponta chance de investimentos no Brasil em 2023
Perspectiva de queda de juros cria imagem de "vitalidade" da economia brasileira; responsabilidade fiscal é condição
Os números do crescimento global apontados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) até o final do ano que vem não são exatamente animadores. Mas diante de um cenário que, dependendo do ângulo que se analise, chega a preocupar, o Brasil tem motivos para se manter otimista. É o que se pode inferir do relato do economista Alexandre Mathias, CEO da Kilima Investimentos e sócio da Monte Bravo, que acompanha as reuniões em Washington (DC) e conversou com o SBT News.
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O Fundo Monetário Internacional divulgou suas novas projeções para a economia mundial em 2022 e 2023. O que você achou?
No relatório Perspectiva Econômica Global, divulgado na 3ª feira (11.out), o Fundo manteve o crescimento global para 2022 em 3,2%. Mas reduziu a projeção de 2023 para 2,7%, em comparação com uma previsão de 2,9% feita em julho. Esse cenário caracteriza uma recessão técnica, o que reflete um mundo crescendo menos de 3%.
O que justificaria essas contas?
O FMI destacou que são as consequências da guerra na Ucrânia que trouxe preços altos de energia e alimentos, elevando a inflação. E ainda por cima obrigou a uma reação mais forte das taxas de juros pelos Bancos Centrais em vários pontos do planeta, o que certamente vai levar a um crescimento menor à frente.
Algum destaque entre as principais economias?
As três maiores economias, Estados Unidos, China e zona do Euro, continuarão estagnadas. Essa foi a afirmação objetiva do economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas.
Brasil no meio?
Para o Brasil, o Fundo agora projeta uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,8%, em 2022, isto é 1,1 ponto percentual acima da estimativa anterior, mas vê uma acomodação em 2023 para 1,0% de crescimento.
Melhorou ou não, afinal?
Isso faz com que o Brasil seja percebido como um dos poucos lugares em que a economia tem certa vitalidade. Aliado à perspectiva de corte de juros, isso cria um cenário favorável para o fluxo de investimento estrangeiro a favor do Brasil. Agora, tem uma condição que os investidores observam sim, lá de fora: isso pode ocorrer desde que o próximo presidente emita uma mensagem de responsabilidade fiscal.
As projeções batem com as suas contas?
As projeções do fundo ficaram bem parecidas com as nossas projeções na Kilima; para economia mundial, a gente projeta um crescimento de 2,8% em 2022 e 2,7% em 2023.
E falando em Brasil?
Para o Brasil os números também são muito parecidos. Projetamos 3% de crescimento este ano e também 1% no ano que vem.
E você tem visto algo mais a lhe chamar a atenção?
Além dos seminários do FMI , acontece uma série de eventos paralelos. Estou acompanhando de perto um dos eventos mais tradicionais feito pelo J. P. Morgan. No painel de abertura, a visão com relação à economia norte-americana foi bem mais construtiva do que a média de mercado. O economista chefe do banco, Bruce Kasman, chega a ser tranquilizador quanto aos riscos futuros.
"Há a percepção de que o juros devem subir pra faixa de 4,5% a 5%, mas que isso não necessariamente vai levar a uma recessão. Algo que só vai ser definido na segunda metade do ano que vem. Isso contrasta com a visão majoritária do mercado que tem a recessão como algo mais provável"
Alexandre Mathias
Em se tratando da maior economia do mundo, todo mundo fica atento.
Sem dúvida. Mas eu confesso que o que mais me surpreendeu foi o número de vezes em que o Brasil foi citado nos painéis. Normalmente os temas são mais concentrados nos países desenvolvidos, de forma que citar o Brasil já seria excepcional. O Brasil está sendo visto como um oásis em um cenário bastante complicado em 2023. Isso porque, como o Banco Central subiu os juros mais cedo do que os outros países, temos uma perspectiva de redução de juros em 2023, com contas externas equilibradas e no aguardo de uma sinalização fiscal responsável do próximo presidente. Se isso se confirmar, a perspectiva é de um fluxo importante para o mercado brasileiro, o que deve gerar uma alta da bolsa, e mais queda dos juros e do dólar.
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