Quem comprou Eletrobras com FGTS não deve se preocupar com primeira queda
Estreia dos papéis na Bolsa de Valores foi em meio a cenário pessimista com economia dos Estados Unidos
O primeiro dia de movimentação dos papéis da Eletrobras -- privatizada na semana passada -- no mercado acionário nacional exigiu sangue frio do investidor. Principalmente dos marinheiros de primeira viagem, que aderiram ao programa de capitalização da ex-estatal pela via do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Desde o começo dos negócios os papéis da empresa operaram no vermelho, seguindo a tendência do próprio índice geral, o Ibovespa. Logo depois da abertura, Eletrobras descia mais de 2%. Ao longo do dia pouca coisa mudou até o fechamento. Quedas de 1,12% (ELET6) e de 2,19% (ELET3).
"Se você entrou na Eletrobras com o FGTS, não se preocupe agora com o valor de momento. Você não olhava o seu saldo todo dia, não tem que ver agora também", pontua Luiz Otávio de Souza Leal, Economista chefe do Banco Alfa. Para quem é novato nesse investimento, é o tipo do conselho que cai como um alívio. Os analistas costumam apontar o potencial de crescimento da companhia, sobretudo considerando o ganho de eficiência que ela deve experimentar a partir da "saída" do governo do controle. "Algumas pessoas esquecem que o governo tem uma fatia menor agora e vai ter uma companhia mais preparada pra competir de igual pra igual com seus concorrentes no mercado", diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. É por isso que quem conhece o mercado acha que o investidor do FGTS já sai de cara com resultado garantido. Pela regra da pulverização, estes investidores não poderão vender as cotas antes de doze meses. Prazo que, para a maioria dos economistas, vai garantir ganhos muito acima do rendimento de 3% + TR (Taxa Referenial) ofertados pela aplicação "natural" do Fundo.
"A gente vê um potencial bastante importante nos papeis da empresa. A Eletrobras se livra de amarras de estatal, fica mais ágil, a capacidade dela de executar planos e cortar custos é enorme. Considerando a chance de maior eficiência, continua sendo uma boa oportunidade para o investidor de longo prazo", calcula Alexandre Cancherini, sócio da Frontier Capital.
Geral em queda
A preocupação também atingiu os investidores mais experientes. O cenário internacional no curto prazo tem jogado pesadamente para levar tensão aos mercados. E tudo por conta das atenções das economias do mundo todo com a definição para o cenário de inflação nos Estados Unidos. O Índice de Preços ao Consumidor americano saiu semana passada com a maior alta de preços em 40 anos, e reforçando a aposta de que na reunião do FOMC (Comitê de Mercado Aberto), que decide as taxas de juros na 4ª feira (15.jun), venha uma puxada de 0,5 p.p nos juros básicos deles. Se confirmada, seria a maior alta em 28 anos. E deixando caminho aberto para outra alta equivalente em julho. Não é raro encontrar quem acredite que, nesta tendência, a taxa de juros nos EUA feche o ano em 3%. E em até 4%...no fim de 2023. Resultado: Dow Jones em queda de 2,79%. Nasdaq - 4,68%. S&P -3,88%.
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O problema que os especialistas enxergam na adoção de juros mais altos por lá pra segurar a inflação, é o efeito negativo sobre a atividade econômica, que também tende a desacelerar, para dizer o mínimo. Se isso acontecer, o efeito assustador, no dicionário dos economistas, é um cenário de estagflação: inflação alta e recessão. É tudo que os analistas torcem para não acontecer.
Ibovespa
No cenário brasileiro, a bolsa também teve queda, - 2,73%. Na contramão, o dólar voltou a subir para bater nos R$ 5,12. A dinâmica é frequente. A simples ideia de ver os juros nos Estados Unidos "pagando mais", faz pensar no investidor aportando mais dinheiro por lá. Quer dizer, saída de dólares de mercados como o brasileiro. Menos verdinhas à disposição, a cotação sobe. Foi o caso hoje. Claro, igualmente em meio a um panorama de preocupação. O Brasil igualmente enfrenta inflação alta, com economia crescendo pouco. E também tem reunião para decidir a taxa referencial de juros na mesma 4ª feira (15.jun). Por aqui, os analistas falam em mais 50 pontos-base para a Selic sair de 12,75% para 13,25%. Quer dizer que ainda vem muita emoção, opa....oscilação por aí.
"Só não pode olhar a cotação diariamente, pois o mercado oscila por emoção: ora está muito otimista, tudo sobe; ora está pessimista, tudo cai. Você precisa ter uma estratégia.", diz Myrian Lund, Planejadora Financeira da Lund Finanças. Que define o que deve estar na cabeça mesmo dos investidores iniciantes. "Tem que ter visão de sócio, de investidor e ter sempre em mente a expectativa futura da empresa. E Eletrobras é uma empresa do futuro energético brasileiro", finaliza.