Economia avança, mas ritmo pode desacelerar no terceiro trimestre
Segundo CNC, números devem começar a refletir os efeitos dos juros e da inflação
Camila Stucaluc
Os efeitos lentos da política monetária devem afetar a sustentabilidade do ritmo da atividade econômica brasileira, conforme projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). De acordo com a entidade, a expectativa é que a economia desacelere, especialmente a partir do terceiro trimestre de 2022, quando a disponibilização de recursos extraordinários para o consumo tende a ser menor.
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A projeção leva em consideração o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou crescimento de 1,0% no primeiro trimestre do ano, em comparação com os três meses anteriores. Esse foi o terceiro avanço consecutivo da atividade econômica e o sexto verificado nos últimos sete trimestres.
Contudo, nos dois primeiros trimestres de 2020, a economia brasileira havia acumulado encolhimento de 11,0%. Em um ano, o PIB brasileiro totalizou R$ 8,89 trilhões, o que, segundo a análise da CNC, revela lentidão do processo regenerativo da economia brasileira.
"Sem dúvida, parte da capacidade de recuperação do setor terciário e, consequentemente, da própria economia explica-se pelo efeito circulação. Esse fenômeno, no entanto, já está se exaurindo", observa o presidente da entidade, José Roberto Tadros.
Ele cita como exemplo o nível de isolamento social no primeiro trimestre, que se situava 2,6% acima do nível basal correspondente às quatro semanas antes da pandemia de covid-19.
Serviços
O economista da CNC, Fabio Bentes, avalia que o ritmo de expansão dos serviços tem surpreendido positivamente nos últimos meses. Segundo os indicadores conjunturais do IBGE, no fim de março, o volume de prestação de serviços se encontrava 7,2% acima do observado no período pré-pandemia, seguido pelo comércio (+2,6%). Sob a ótica da produção, o setor avançou 1,0% ante o último trimestre de 2020.
Bentes ressalta que, no entanto, o comportamento da inflação e dos juros não pode estar dissociado do comportamento recente do nível de atividade. "Adicionalmente, a tendência é de maior contaminação na variação dos preços de serviços, especialmente, considerando-se o nível de difusão presente no IPCA ao longo de 2022", observa.
Diante do cenário, a CNC projeta avanço de 1,4% no PIB deste ano, destacando-se os setores de comércio (+2,3%) e serviços (+3,2%). Pelo lado da demanda, o consumo das famílias tende a avançar 2,5%.