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Economia

Economia resistirá ao fim do auxílio emergencial, diz secretário de Guedes

Adolfo Sachsida, da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, diz que "já estamos seguros"

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O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, em entrevista virtual ao SBT News
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O secretário de Política Econômica do ministério da Economia, Adolfo Sachsida, disse em entrevista ao SBT News que o fim do auxílio emergencial em 31 de dezembro não trará impactos na economia brasileira, porque os beneficiários já estão voltando a gerar suas próprias rendas. Também afirmou que é natural da democracia que o presidente Jair Bolsonaro receba conselhos diversos sobre o teto de gastos - mas que, nesse assunto, a palavra do Ministério da Economia tem mais peso. A seguir, trechos da entrevista.
 

SBT News: O desemprego vai continuar alto no ano que vem?
Adolfo Sachsida:
Não. A taxa de ocupação vai crescer. Devido às medidas de combate à pandemia, vários comércios tiveram que permanecer fechados. À medida que a pandemia vai diminuindo, os serviços vão reabrindo e os empregos vão retornar. A nossa estimativa é que a taxa de ocupação em 2021 cresça bastante, dando ao brasileiro a oportunidade de levar renda para sua casa e sua família. Com os dados que nós temos hoje, se eles continuarem assim, com a pandemia diminuindo, os empregos voltam. Agora, infelizmente, se ocorrer de a pandemia retornar mais forte, é claro que esse cenário não vai.
Então fica aqui esse parênteses: que a nossa estimativa está assumindo que a vacina está aí, que os brasileiros estão seguindo as recomendações dos órgãos de saúde e, passo a passo, a pandemia vai diminuindo. Mas o que é importante para nós é que o distanciamento social, a medida que ele vai diminuindo, à medida que a pandemia diminuiu, os empregos vão retornando.


Quais medidas o governo está tomando para ajudar na retomada do emprego?
A primeira medida o próprio ministro e o presidente já anunciaram, que dinheiro para a vacina não vai faltar. Então fica muito claro o compromisso do governo de propiciar a vacina a aqueles que quiserem. E isso ajuda a diminuir o ritmo dessa pandemia.
A segunda é que estamos elaborando várias medidas principalmente no mercado de crédito, onde você leva o dinheiro para a pequena empresa e aí, mantendo a pequena empresa trabalhando, você leva empregos. Um exemplo claro disso é o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), um programa de sucesso fornecendo crédito para pequenas e médias empresas. Tem o PEAC Maquininhas também, que já levou quase R$ 3 bilhões para microempresas. Tudo isso é um trabalho para manter as empresas de pé, funcionando para ter emprego para o brasileiro.


Esses programas de crédito poderão continuar no ano que vem ou vão se encerrar mesmo em 31 de dezembro?
Eles não foram desenhados para tempos sem pandemia. Foram desenhados em um contexto emergencial. Cumpriram brilhantemente o seu desempenho e mantiveram a estrutura produtiva da sociedade funcionando. Tanto é que você está vendo uma retomada em "V".
Agora, quando passar a pandemia, nós temos que retornar à agenda que estava dando certo no Brasil e que deu certo em todo país desenvolvido do mundo, que é a agenda de consolidação fiscal e aumento de produtividade. O que nós temos que fazer? Fortalecer os marcos legais, diminuir a burocracia, simplificar a estrutura tributária, facilitar a abertura de empregos, porque é isso que vai gerar emprego e gerar renda para o brasileiro. Mas quando você considera, do ponto de vista estritamente econômico, a legislação é muito clara: termina dia 31 de dezembro desse ano. Do ponto de vista epidemiológico, é uma questão para a saúde pública. Eu não sei responder.


Por que vão terminar os programas se a pandemia continua?
Eles terminam no dia 31 de dezembro porque vieram em caráter emergencial. O nosso país tem que pensar em questões estruturais. Como é que vamos estruturalmente melhorar o Brasil? E é isso que eu convido a todos a fazermos no ano que vem. E vamos aprovar marcos legais, medidas que levem dinheiro para famílias e empresas, mas não porque o governo que está dando. Ninguém quer isso. Quem é que quer receber dinheiro do governo? O que as pessoas querem é gerar renda por elas mesmas. E a maneira de fazer isso é simplificar, desburocratizar, privilegiar o empreendedor.
De novo: nosso governo foi eleito com uma pauta pró-mercado. É isso que nós temos que insistir. No momento, não há porque prorrogar isso. Eu vou ser muito claro: os dados que nós temos mostram que o terceiro trimestre foi liderado por comércio e indústria. O quarto trimestre vai ser liderado pelo setor de serviços. Nós estamos criando tração na economia para termos um bom primeiro semestre em 2021. Com os dados que eu tenho hoje, não há necessidade de prorrogar auxílios emergenciais. Por quê? Porque esses auxílios vieram porque o distanciamento social estava tão grande que as pessoas não podiam trabalhar. À medida que as pessoas voltam a trabalhar, elas voltam a gerar renda. Voltando a gerar renda, não é necessário auxílio emergencial do governo. 

 

A agenda de reformas será retomada?
Desde o final de junho eu tenho dito que [o período] de julho deste ano a dezembro de 2021 vai entrar para a história do Brasil como os 18 meses de reformas econômicas. Aprovamos o marco do saneamento, o novo marco de falências. O Senado aprovou a independência do Banco Central, a Câmara aprovou a lei do gás. Foi aprovada uma nova lei de licitações. Estamos tentando aprovar um novo marco de cabotagem. A agenda econômica está andando, ela nunca parou. É importante frisar isso. No meio da maior pandemia, da maior crise de saúde pública do Brasil, talvez desde a nossa história, a agenda econômica está andando. E vai continuar andando. Ora, é natural que chegue neste final de ano que a gente pare um pouquinho para colocar a casa em ordem, descansar um pouco, aprimorar algumas medidas e, acima de tudo, avançar nos consensos. Porque numa democracia é assim que você trabalha. Não é a minha ideia e não é a sua; é o consenso. Então, a agenda de reformas continua mesmo durante o recesso parlamentar. Como é feito esse trabalho? Criando consensos.

O teto de gastos será mantido?
Vou ser muito claro. O teto de gastos é mantido não por uma questão ideológica, é porque ele é uma garantia que mostra que o lado fiscal está sob controle e, assim, a inflação fica baixa, os juros ficam baixos, o investimento, o emprego, o PIB e a renda aumentam. É uma questão de defender a população brasileira e, sobretudo, defender os mais pobres. Os grandes inimigos da população mais pobre são o desemprego e a inflação. Ora, se nós bobearmos no lado fiscal, voltam inflação e desemprego. Então, a consolidação fiscal está no melhor interesse da população.
O Brasil tem um Congresso reformista, que também está junto com o presidente da República e com o ministro da Economia, com ministros palacianos, estão juntos. O presidente foi eleito com uma pauta reformista pró-mercado. Ano que vem, podem anotar: teremos privatizações, concessões, abertura econômica, passo a passo, estabilidade jurídica. Tudo isso vai andar. Estamos muito convictos que, junto com o Congresso Nacional e com a população brasileira estamos colocando o Brasil no caminho da prosperidade.


Dentro do próprio governo há ministros que defendem furar o teto de gastos e gastar mais.
Em uma democracia, é natural que o presidente tenha vários assessores e essa pluralidade é muito bem-vinda. Ruim é se todo mundo pensasse igual. Ora, o que o presidente faz? Ele ouve a opinião de cada um. Agora, na agenda econômica é natural que tenha uma prevalência da equipe econômica. E o representante máximo da equipe econômica é o ministro Paulo Guedes. Não tem nada de errado outros ministros darem opiniões distintas. Agora, vale, é claro, a nossa posição, ela tem um pouco mais de peso. O debate é sempre bem-vindo, não há problema com debate. 

O senhor acha que o Teto de Gastos vai perdurar no médio prazo?
Até 2023, sim. Agora, para passar disso, você precisa fazer escolhas na sociedade. E qual é o local? O Congresso Nacional. É justo que o Congresso, o grande representante da população brasileira, junto com o presidente da República, em um debate franco, aberto, façam escolhas.
Por exemplo: será que está certo em um ambiente que tem milhões de desempregados, na informalidade, que não têm um único dia de férias por ano. Será que tá certo uma classe que ganha R$ 30 mil por mês, que não pode ser demitida, ter 60 dias de férias? Será que é isso que o povo brasileiro quer? Para gastar mais ali, eu tenho que gastar menos aqui. Então, vou remanejar a despesa dentro do orçamento. E um orçamento de R$ 1,5 trilhão me parece que tem dinheiro o bastante para o Brasil colocar corretamente as suas prioridades. 


Quais programas o senhor considera ineficientes e que poderiam ser descontinuados para ter espaço fiscal para turbinar o Bolsa-Família, por exemplo?
Olha, eu prefiro deixar essa decisão a critério do Congresso Nacional. É lá que esse debate precisa ser feito, durante a elaboração do orçamento, que é o grande momento da sociedade escolher suas prioridades.

O senhor acha que a mudança nas presidências da Câmara e no Senado vão impactar a agenda de reformas?
Não. Eu acho o Congresso um parceiro na agenda econômica. Foi e vai continuar sendo. Tenho certeza que os próximos presidentes da Câmara e do Senado vão continuar trabalhando para o bem do Brasil. Espero que, com a graça de Deus, a gente consiga resolver logo isso para milhares de brasileiros poderem voltar a trabalhar e, acima de tudo, para as crianças voltarem para a sala de aula. Esse talvez seja um dos grandes custos de longo prazo que vão acompanhar a economia brasileira por muito tempo. Uma geração inteira de crianças pobres perdeu um ano de educação por toda sua vida. Então espero que a gente possa, rapidamente, voltar e tentar corrigir esse problema. 
 

Qual será o impacto do fim do auxílio emergencial na economia?
Vamos recapitular porque veio o auxílio emergencial. Os dados que eu tinha em março indicavam que metade da população que mora em favela teria dificuldade para comprar alimento em 14 dias. Os dados que eu tinha da Pnad Contínua mostravam que lares, onde mais da metade da renda vem do setor informal, teria uma perda potencial de renda de 70% a 80%. Em outras palavras, uma pessoa que ganhava R$ 2 mil iria ganhar R$ 400.
Com dados assim, era fundamental colocar de pé um programa emergencial robusto. E isso foi feito em parceria com o Congresso Nacional. Mas, acima de tudo, isso foi feito porque as pessoas não podiam trabalhar. À medida que elas voltam a trabalhar, elas mesmas estão gerando renda. Então, aqui está o auxílio emergencial (coloca a mão em um patamar alto) e aqui estava a renda dela em abril (posiciona a mão em um patamar baixo). Hora que ela vai voltando a trabalhar, o auxílio emergencial caiu. E quando sair, será a renda dela continuando. Nós fizemos, em parceria com o Congresso Nacional, sob o comando do ministro Paulo Guedes, uma política econômica muito inteligente, que tirou aos pouquinhos esse auxílio de tal maneira que vamos poder entrar no primeiro semestre de 2021 muito seguros.


A inflação vai diminuir no ano que vem?
Vai, vai, sim. Vai acontecer algo muito parecido com o que aconteceu com o preço da carne, que deu um pulo em novembro e dezembro e mais para frente já tinha voltado (o preço a um patamar mais baixo). O que aconteceu agora é que vários países do mundo não tiveram o sucesso que o Brasil teve em manter a produção. Então, eles precisam importar alimento. O preço dos alimentos aumentou internacionalmente e acaba tendo repercussões aqui. Agora, de novo, é uma questão pontual e transitória. O Banco Central tem feito um excelente trabalho e a inflação está rigorosamente sob controle.

Fazendo um balanço deste ano, quais foram os maiores erros e acertos do Ministério da Economia e, mais precisamente, da Secretaria de Política Econômica?
Os maiores acertos foram a velocidade enorme com que nós respondemos. Então, a pandemia foi declarada 11 de maço, dia 18 de março o governo já tinha um conjunto de medidas lançado, em 12 de abril já estava sendo pago o auxílio emergencial. Em março, o Conselho Monetário Nacional adotou um conjunto de medidas que gerou o potencial de R$ 1 trilhão a mais no mercado em liquidez. Então, várias medidas muito rápidas e poderosas, de tal maneira que a economia brasileira recuperou em "V". Isso é um mérito do ministro Paulo Guedes, porque ele viu que se nós mantivéssemos a estrutura produtiva da economia funcionando, recuperaria rápido. E foi isso que nós fizemos. As nossas medidas tinham um único objetivo: manter a estrutura produtiva da sociedade até passar o grosso da pandemia e, é claro, salvar o máximo de vidas possível.
Sobre erros? Ah, eu não gosto de falar sobre o dos outros. Posso falar de erro meu, semanalmente cometo alguns. Mas, sendo bem franco aqui: eu acho que o maior erro que eu cometi foi ter me manifestado em áreas que não são minhas. Não deveria ter feito isso, peço desculpas. Me manifestei sobre uma questão de pandemia, então não deveria ter falado sobre isso. A minha secretaria acompanha o distanciamento social. Porque é com base no distanciamento social que eu consigo fazer conta sobre a evolução no setor de serviços, do emprego e do PIB. É a isso que tenho que me ater. Então, de antemão, peço desculpas.
Uma mensagem que eu posso dar é que, passo a passo, o pior está ficando para trás. Foi um ano muito difícil. Mas o dados econômicos sinalizam que o horizonte é mais claro. Vamos insistir nas agendas de reforma, da consolidação fiscal, no aumento da produtividade e, juntos, com a graça de Deus, vamos sair mais fortes e unidos dessa crise.

 
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