Jards Macalé: artistas prestam homenagens ao "anjo torto" da música brasileira
Cantor morreu nesta segunda-feira (17) no Rio de Janeiro; causa da morte ainda não foi divulgada

Antonio Souza
O Brasil se despediu nesta segunda-feira (17) de um dos maiores nomes da música nacional. Jards Macalé morreu aos 82 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava internado em um hospital na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. A causa da morte ainda não foi divulgada.
Na publicação que anunciou o falecimento, há a informação de que ele passou por uma cirurgia e chegou a acordar cantando “Meu nome é Gal”.
Nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a perda e destacou as músicas de amor do cantor em "tempos de ódio"
Jards Macalé dizia que o amor é um gesto político. E que em tempos de ódio e de intrigas como os que vivemos recentemente, pouca gente falava do amor, e por isso era tão importante cantá-lo. Essa visão de mundo me aproximou de Jards: política e amor devem andar juntos. Não podem ser separados. Estive com Jards na luta pela redemocratização. Nos reencontramos várias vezes ao longo dos anos. Foi uma honra tê-lo entre os artistas que se apresentaram em minha posse em 2023. Jards Macalé fez história como cantor e compositor de algumas das músicas mais brilhantes de nossa MPB. Sempre defendeu a valorização da cultura e transformou seu talento e sua arte em uma luta constante contra o autoritarismo. A todas e todos que estão sentindo a falta de Jards Macalé, deixo um abraço carinhoso.
Caetano Veloso, grande parceiro de Macalé, publicou uma homenagem nas redes sociais e afirmou que, sem ele, o álbum “Transa”, um marco da música brasileira, não existiria.
"Sem Macalé não haveria Transa. Estou chorando porque ele morreu hoje. Foi meu primeiro amigo carioca da música. Antes de Bethânia imaginar que seria chamada para o Opinião, Alvaro Guimarães, diretor teatral baiano, me trouxe ao Rio para montar e mixar o curta para o qual eu tinha feito a trilha. Fui parar na casa de Macalé. E ele tocou violão. Me encantei. Ele tocou com Beta, lançou composições, chamei-o para Londres e: Transa. Na volta, ele e eu seguimos na música. Que a música siga mantendo a essência desse ipanemense amado. Beijo carinhoso para Rejane."
Maria Bethânia, se declarou ao amigo: "Meu amor, meu amigo…Fará muita falta neste mundo", disse.
Gilberto Gil também se manifestou: "Macal eterno! Obrigado por tanto."
O perfil oficial da cantora Gal Costa, falecida em 2022, destacou a importância de Jards Macalé em sua carreira:
“O amigo, parceiro e ex-sócio Jards nos deixou na data de hoje. Os shows foram lendários, com performances que eram ao mesmo tempo sedutoras e combativas uma explosão de ideias coloridas dentro do sistema militar, que tentava impor o preto & branco.”
Torquato Neto se pronunciou chamando Jards Macalé de um dos “últimos guardiões da geração que reinventou a música popular brasileira”:
“Macalé nos deixou. Um dos últimos guardiões da geração que reinventou a música popular brasileira. Amigo, parceiro e cúmplice de Torquato Neto, caminhou ao lado de quem ousou sonhar outro país possível — mais livre, mais intenso, mais verdadeiro. Macalé foi afeto, foi coragem, foi vanguarda. Cantou como quem acende incêndios e viveu como quem não aceita amarras. Hoje, quem ama a obra de Torquato reconhece: parte um amigo, permanece um gigante. Obrigada, Macalé, por tudo o que deixou na música, na poesia e na memória de um tempo que nunca morre.”
Quem foi Jards Macalé
Jards Anet da Silva, mais conhecido como Jards Macalé, nasceu no Rio de Janeiro, em 3 de março de 1943. Ele começou a ganhar destaque no final dos anos 1960 e início dos 1970, com o lançamento de seu primeiro disco, “Jards Macalé”, em 1972.
Macalé é um dos nomes mais importantes da música brasileira. Cantor, compositor, instrumentista e diretor musical, ficou conhecido por misturar diferentes ritmos e estilos, o que lhe rendeu o apelido de “anjo torto” da MPB.
Entre suas principais composições estão clássicos como “Vapor Barato”, feita em parceria com Waly Salomão e gravada por Gal Costa e O Rappa; “Hotel das Estrelas” e “Mal Secreto”, eternizadas nas vozes de Gal Costa e Maria Bethânia.
Macalé também trabalhou ao lado de grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB), como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Torquato Neto, Waly Salomão e Moreira da Silva.







