Depoimento na CPMI do 8/1 vira palanque e ringue de base e oposição
Ex-chefe da PRF de Bolsonaro, Silvinei Vasques, é ouvido por mais de 12 horas; sessão teve "cala a boca" e interrupções
Ricardo Brandt
A sessão do primeiro depoimento da CPMI dos Atos Golpistas do 8/01, nesta 3ª feira (20.jun), com o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, durou mais de 12 horas. Teve troca de acusações e bate-boca entre parlamentares da base do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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O ex-chefe da PRF chegou ao Congresso antes das 9h e prometeu que não deixaria perguntas sem respostas. Depois de uma apresentação pessoal de 20 minutos, em que negou ter atuado ou usado a instituição para prejudicar a candidatura petista, Vasques apresentou dados sobre a Operação Eleições 2022.
O depoente negou ter manipulado as blitze realizadas em rodovias federais pela PRF, em especial, na região Nordeste e ter buscado favorecer Bolsonaro no segundo turno da disputa.
Vasques abriu seu depoimento com a afirmação de que a CPMI era a "primeira oportunidade de esclarecer" os fatos, após oito meses. "Então agradeço muito."
Falou sem interrupções e mostrou um calhamaço "de mais de 300 páginas", com informações para justificar as ações da PRF sob seu comando.
Quem abriu as perguntas ao ex-chefe da PRF foi a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), autora do primeiro pedido para ouvir Vasques. A parlamentar quer apurar os "fatos preparatórios", que antecederam o 8 de janeiro.
Vasques respondeu a todas as perguntas ou, pelo menos, tentou. As discussões entre parlamentares da base e da oposição, as interrupções das falas e a troca de xingamentos dominou a sessão. Um aperitivo do que deve ser o prato principal dos trabalhos da CPMI, que tem 180 dias para concluir seus trabalhos.
"Cala boca"
A sessão começou por volta das 9h30. Ainda pela manhã, durante as primeiras perguntas da relatora para Vasques, o presidente da CPMI, o deputado Arthur Maia (União-BA), interrompeu os trabalhos para acalmar um bate-boca.
Eliziane Gama perguntava a Vasques sobre um processo em Goiás, de agressão, que tinha o ex-chefe da PRF envolvido.
"Isso ocorreu ou não, Seu Silvinei?"
"Não tenho condenação penal nesse caso. O cidadão entrou contra a União por R$ 20 mil e ganhou. Eu não fui sequer chamado para depor", respondeu Silvinei Vasques.
A relatora interrompeu.
"Estou fazendo uma pergunta pontual."
Foi quando o deputado Delegado Éder Mauro (PL-PA), com o dedo em riste, gritou do plenário.
"Ele já respondeu".
A senadora, que estava na sua fala, insistiu e repreendeu o deputado.
"Estou pedindo que o depoente responda, que ele não enrole. Não vou aceitar que parlamentar nenhum tente cercear a minha voz."
A relatora elevou o tom e dirigiu-se ao parlamentar.
"Deputado, vossa excelência, nem faz parte da comissão. Vai gritar em outra lugar. Respeite esta comissão, cale a sua boca. Não vou me submeter a esse tipo de agressão."
Aos berros, Mauro retrucou.
"Cale a boca não."
Foi quando Maia, presidente da CPMI, suspendeu a sessão por cinco minutos.
"Nós não queremos pedir a nenhum parlamentar que se retire."
Ex-chefe da PRF negou envolvimento
O ex-chefe da PRF negou que tivesse envolvido em esquemas ilegais para beneficiar Bolsonaro. "Se falou muito que a PRF, no segundo turno da eleição, direcionou a sua fiscalização pro Nordeste brasileiro, mas isso não é verdade."
O ex-chefe da PRF de Bolsonaro citou dados para confrontar as afirmações divulgadas no noticiário de que houve direcionamento das ações no Nordeste, explicou o alto efetivo na área, falou sobre sua relação com o ex-presidente, sobre a origem das suspeitas de direcionamento das ações, sobre a reunião que teve no dia 30 de outubro com o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre outros.
"A PRF operou em 618 pontos no Brasil, em 310, segundo dados agora de abril TSE, Lula venceu, em 318 venceu o presidente Bolsonaro. Então a PRF atuou mais nos locais onde o presidente Bolsonaro venceu do que nos locais que o presidente Lula ganhou", Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF.
Segundo Vasques, a operação da PRF nos dias de votação é padrão e o alto número de equipes e gastos no Nordeste se deve a dimensão da região.
"(A) maior quantidade de unidades da PRF estão no estado do Nordeste, onde também se encontra o maior efetivo da instituição."
Vasques classificou as suspeitas levantadas contra a atuação da polícia nas eleições de "maior injustiça que foi realizada contra a PRF".
Segundo ele, "não existe, até o presente momento, qualquer registro de que um cidadão brasileiro, apenas um, que deixou de votar no dia 30 de outubro pelo um trabalho de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal". "Não existe nos registros."
Com os documentos impressos trazidos por ele e defesa, Vasques negou que a PRF "trabalhou para prejudicar" o então candidato e atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Novos depoimentos
A sessão foi encerrada por volta das 21h30. Na 5ª feira (22.jun), dois novos convocados serão ouvidos pela CPMI. O primeiro, será o perito da Polícia Civil do Distrito Federal, Renato Martins Carrijo, que assinou o laudo pericial da bomba deixada no Aeroporto Internacional de Brasília, no dia 24 de dezembro. Na sequência, deve ser ouvido o principal acusado pela tentativa de atentado a bomba, George Washington de Oliveira Sousa.
A CPMI também aprovou nesta 3ª feira a convocação do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marco Edson Gonçalves Dias, ex-segurança pessoal de Lula.
A aprovação foi uma derrota para a base de governo, que havia rejeitado a convocação na semana passada. Outro convocado foi o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha.
Foi aprovada também a convocação de um aliado de Bolsonaro, o coronel Jean Lawand Júnior. Na semana passada, foram divulgadas mensagens de teor golpistas entre Lawand e o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Mauro Cid.
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