Na CPI, Mandetta disse que Presidência cogitou mudar bula da cloroquina
Ex-ministro contou ter visto um projeto de decreto para recomendar medicamento contra covid; Anvisa negou
Lis Cappi
O ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta afirmou, nesta 3ª feira (4.mai), que a Presidência da República cogitou publicar um decreto que modificasse a bula do medicamento Cloroquina. O tema foi tratado em uma reunião em que ele participou quando estava à frente da Saúde. A intenção seria recomendar o uso do remédio para tratamento da covid-19.
A declaração foi dada durante depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid nesta 3ª feira (4.mai). O ex-ministro é o primeiro a ser interrogado.
Segundo Mandetta, ele foi chamado para uma reunião no Palácio do Planalto, em "que iriam propor esse negócio de cloroquina que eu nunca havia conhecido". Ao chegar na sala presidencial, ele conta ter visto um documento - em papel comum - escrito no formato de decreto, com a proposta de alterar a bula do medicamento.
"Havia sobre a mesa um papel não timbrado, de um decreto presidencial, para que fosse sugerido naquela reunião que se mudasse a bula da Cloroquina na Anvisa. Colocando na bula a indicação da Cloroquina para coronavírus", afirmou Mandetta.
O ex-ministro disse que o tema foi barrado pelo presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, que também participou do encontro. "Barra Torres, que estava lá, falou "isso não", e o ministro Luiz Eduardo Ramos (da Casa Civil), falou não. Isso não é nada da lavra daqui. Mas alguém pensou e se deu ao trabalho de botar aquilo num formato de decreto", disse.
O ex-ministro ainda afirmou que Bolsonaro tinha uma "assessoria paralela" para tratar de assuntos relacionados ao novo coronavírus. A impressão, segundo Mandetta, se deu pela presidência ter recebido recomendações além das apresentadas pelo Ministério da Saúde.