Congresso
Bolsonaro não precisa ser garoto propaganda do Renda Brasil, diz relator
O senador Márcio Bittar tenta acordo para viabilizar novo programa de renda no projeto que dá a possibilidade do Executivo cortar gastos obrigatórios
SBT News
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Por Débora Bergamasco, Gabriela VInhal e Márcia Lorenzatto
O Governo Federal está há mais de três meses tentando encontrar uma fonte de recursos para financiar a ampliação do Bolsa Família, seja por meio de um novo imposto ou de cortes de gastos. Mas todas as propostas apresentadas até agora pelo Ministério da Economia foram rechaçadas pelo presidente Jair Bolsonaro. O senador Márcio Bittar (MDB-AC), que é relator da Proposta de Emenda à Constituição do Pacto Federativo, assumiu a missão de tentar apontar qual será a fonte de recursos capaz de financiar o novo programa, que deve se chamar Renda Brasil ou Renda Cidadã e terá um valor inicial entre R$ 200 e R$ 300, atendendo mais pessoas do que o benefício atual.
Em entrevista exclusiva ao SBT News, Bittar diz que caberá ao Congresso Nacional assumir o ônus de desagradar alguns setores, já que o dinheiro do novo programa terá que sair de algum lugar.
SBT News: O dinheiro para bancar o Renda Brasil terá que sair de algum lugar, mas o presidente Jair Bolsonaro já rejeitou várias propostas e não quer assumir um desgaste de medidas amargas. Como convencê-lo?
Márcio Bittar: Eu disse a ele (Jair Bolsonaro) que eu encampo (o desgaste), mas precisamos apenas que o presidente concorde. Não precisa que o presidente se transforme em um garoto-propaganda daquilo que a gente apresentar, precisa apenas que ele não diga publicamente que seja contra. É o meu presidente, eu apoio Bolsonaro, não posso apresentar um relatório que ele seja publicamente contra. Ele pode não gostar muito de algum item, mas (tem que dizer): 'É o Congresso Nacional que está tomando uma atitude, eu respeito isso". O Congresso vai ter que cumprir um pouco esse papel. A responsabilidade não é só do Executivo.
O papel de bancar um desgaste?
Eu, Márcio Bittar, não tenho problema. Tem que ser criado, alguém vai achar ruim. Tem que tirar dinheiro de algum lugar, alguém vai achar ruim. Eu não fui correr atrás de ser o relator dessas coisas, mas eu também não fujo. E não tenho problema nenhum em apresentar. Eu, por exemplo, concordo com a desoneração, com a desvinculação, tanto que no relatório da PEC do Pacto Federativo - eu já disse isso ao presidente e ele concordou - eu vou apresentar a desvinculação total, não tem cabimento a vinculação de recursos no Brasil é uma coisa absurda. Não tem lugar nenhum no mundo que segue o que o Brasil faz.
Como estão as conversas com o ministro da Economia, Paulo Guedes?
Conversas interessantes. Ele foi, como sempre, sincero e honesto; ele disse que teria recebido sugestão até de parlamentar. De certa maneira o sangue andou esquentando, uma declaração aqui outra ali e tal acabou dando uma atrapalhada. Aí veio a eleição. Passadas as eleições, nós temos que resolver o assunto.
E como estão as conversas com Rogério Marinho (ministro do Desenvolvimento Regional e atual desafeto de Guedes)?
Não vou perder a oportunidade de dizer que tenho relação com vários ministros, mas com Rogério eu tenho uma amizade. Alguém vai querer me proibir de ser amigo de quem eu sou?
Marinho está contribuindo?
Não só ele, mas (os líderes parlamentares) Eduardo Gomes, Fernando Bezerra, Ricardo Barros, o presidente do Banco Central (Roberto Campos), todo mundo. E repito: o ministro da infra-estrutura, é natural que queira mais dinheiro. No Brasil não falta infra-estrutura? Claro que falta. É natural que queira, mas tudo isso terá que passar pelo filtro da Economia.
Está confiante que o novo programa será aprovado ainda este ano?
Estou confiante porque há uma situação muito clara. Você multiplica 7 milhões de pessoas por família, quanto isso dá? Não é só que não é pouco, não é só uma questão de solidariedade cristã, é também evitar uma convulsão social.
Como está esse embrião, essa proposta que estão discutindo nos bastidores?
Ele (Paulo Guedes) colocou um novo elemento nessa reunião da semana passada, que eu compreendo como um excelente ideia. O que eu posso dizer é que as ideias já estão colocadas, passadas as eleições, vamos ter que encontrar com os líderes do governo no Congresso Nacional, chamar os outros líderes dos outros partidos. Não pense que para esse programa ser criado, você não conta com a simpatia da oposição. Conta. O líder do PT, Rogério Carvalho, com quem tenho uma excelente relação não só ele, mas posso dar ele como exemplo. Conversando com ele, disse que há toda uma boa vontade na bancada do PT de encontrar uma proposta. Eu não entendo chegarmos no dia 31 de dezembro deixando 7 milhões de brasileiros sem saber o que vai acontecer com eles a partir do outro dia, em 1º de janeiro.
O senhor diz uma convulsão social literal?
Claro. Você imagina 7 milhões de pessoas que se você não cria (um novo programa social) estão fora (do Bolsa Família), não têm do que se alimentar.
Acha que as pessoas vão para as ruas?
O que você imagina? Multiplica 7 milhões de pessoas por 3. Você imagina o quê? Eu sou pai. Ver meu filho passar fome? É um perigo, como que controla isso?
O presidente está ciente?
Ele próprio falou isso, o que eu estou falando aqui, você poderia dizer que eu estou copiando a fala dele. Ele, o presidente Jair Bolsonaro, que tem o meu apoio, ele disse isso, literalmente. Abraçar as pessoas e evitar uma convulsão social.
O ano legislativo está acabando, o que vai ser prioridade?
Eu quero ver a reforma administrativa sendo aprovada, acho fundamental. O clima é favorável, há um consenso.
Caso o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, não tenha autorização judicial para concorrer novamente à Presidência da Casa, o senhor disputaria esta eleição?
Tem cargos que não luto para tê-los. Se dependesse de mim, jamais serei presidente do Congresso. Claro que tem missões que, se o destino te impuser, não tem como correr, você é obrigado a aceitar. Agora, se depender de mim, jamais vou ser presidente do Congresso e jamais serei líder de bancada. Por uma razão: do jeito que eu sou hoje, já trato de mais assuntos do que eu gostaria. Eu fui o primeiro que disse publicamente da bancada do MDB que o Davi, podendo, ele é o nosso candidato. E eu tinha uma outra razão que, Davi, tem certeza do que vou dizer. E, outra coisa, vou aproveitar para dizer aos meus amigos bolsonaristas: não vamos ser ingênuos, é claro que o presidente da República tem carinho e afeição pela reeleição de Alcolumbre. Não é segredo para ninguém, é só pensar um pouco.
O Governo Federal está há mais de três meses tentando encontrar uma fonte de recursos para financiar a ampliação do Bolsa Família, seja por meio de um novo imposto ou de cortes de gastos. Mas todas as propostas apresentadas até agora pelo Ministério da Economia foram rechaçadas pelo presidente Jair Bolsonaro. O senador Márcio Bittar (MDB-AC), que é relator da Proposta de Emenda à Constituição do Pacto Federativo, assumiu a missão de tentar apontar qual será a fonte de recursos capaz de financiar o novo programa, que deve se chamar Renda Brasil ou Renda Cidadã e terá um valor inicial entre R$ 200 e R$ 300, atendendo mais pessoas do que o benefício atual.
Em entrevista exclusiva ao SBT News, Bittar diz que caberá ao Congresso Nacional assumir o ônus de desagradar alguns setores, já que o dinheiro do novo programa terá que sair de algum lugar.
SBT News: O dinheiro para bancar o Renda Brasil terá que sair de algum lugar, mas o presidente Jair Bolsonaro já rejeitou várias propostas e não quer assumir um desgaste de medidas amargas. Como convencê-lo?
Márcio Bittar: Eu disse a ele (Jair Bolsonaro) que eu encampo (o desgaste), mas precisamos apenas que o presidente concorde. Não precisa que o presidente se transforme em um garoto-propaganda daquilo que a gente apresentar, precisa apenas que ele não diga publicamente que seja contra. É o meu presidente, eu apoio Bolsonaro, não posso apresentar um relatório que ele seja publicamente contra. Ele pode não gostar muito de algum item, mas (tem que dizer): 'É o Congresso Nacional que está tomando uma atitude, eu respeito isso". O Congresso vai ter que cumprir um pouco esse papel. A responsabilidade não é só do Executivo.
O papel de bancar um desgaste?
Eu, Márcio Bittar, não tenho problema. Tem que ser criado, alguém vai achar ruim. Tem que tirar dinheiro de algum lugar, alguém vai achar ruim. Eu não fui correr atrás de ser o relator dessas coisas, mas eu também não fujo. E não tenho problema nenhum em apresentar. Eu, por exemplo, concordo com a desoneração, com a desvinculação, tanto que no relatório da PEC do Pacto Federativo - eu já disse isso ao presidente e ele concordou - eu vou apresentar a desvinculação total, não tem cabimento a vinculação de recursos no Brasil é uma coisa absurda. Não tem lugar nenhum no mundo que segue o que o Brasil faz.
Como estão as conversas com o ministro da Economia, Paulo Guedes?
Conversas interessantes. Ele foi, como sempre, sincero e honesto; ele disse que teria recebido sugestão até de parlamentar. De certa maneira o sangue andou esquentando, uma declaração aqui outra ali e tal acabou dando uma atrapalhada. Aí veio a eleição. Passadas as eleições, nós temos que resolver o assunto.
E como estão as conversas com Rogério Marinho (ministro do Desenvolvimento Regional e atual desafeto de Guedes)?
Não vou perder a oportunidade de dizer que tenho relação com vários ministros, mas com Rogério eu tenho uma amizade. Alguém vai querer me proibir de ser amigo de quem eu sou?
Marinho está contribuindo?
Não só ele, mas (os líderes parlamentares) Eduardo Gomes, Fernando Bezerra, Ricardo Barros, o presidente do Banco Central (Roberto Campos), todo mundo. E repito: o ministro da infra-estrutura, é natural que queira mais dinheiro. No Brasil não falta infra-estrutura? Claro que falta. É natural que queira, mas tudo isso terá que passar pelo filtro da Economia.
Está confiante que o novo programa será aprovado ainda este ano?
Estou confiante porque há uma situação muito clara. Você multiplica 7 milhões de pessoas por família, quanto isso dá? Não é só que não é pouco, não é só uma questão de solidariedade cristã, é também evitar uma convulsão social.
Como está esse embrião, essa proposta que estão discutindo nos bastidores?
Ele (Paulo Guedes) colocou um novo elemento nessa reunião da semana passada, que eu compreendo como um excelente ideia. O que eu posso dizer é que as ideias já estão colocadas, passadas as eleições, vamos ter que encontrar com os líderes do governo no Congresso Nacional, chamar os outros líderes dos outros partidos. Não pense que para esse programa ser criado, você não conta com a simpatia da oposição. Conta. O líder do PT, Rogério Carvalho, com quem tenho uma excelente relação não só ele, mas posso dar ele como exemplo. Conversando com ele, disse que há toda uma boa vontade na bancada do PT de encontrar uma proposta. Eu não entendo chegarmos no dia 31 de dezembro deixando 7 milhões de brasileiros sem saber o que vai acontecer com eles a partir do outro dia, em 1º de janeiro.
O senhor diz uma convulsão social literal?
Claro. Você imagina 7 milhões de pessoas que se você não cria (um novo programa social) estão fora (do Bolsa Família), não têm do que se alimentar.
Acha que as pessoas vão para as ruas?
O que você imagina? Multiplica 7 milhões de pessoas por 3. Você imagina o quê? Eu sou pai. Ver meu filho passar fome? É um perigo, como que controla isso?
O presidente está ciente?
Ele próprio falou isso, o que eu estou falando aqui, você poderia dizer que eu estou copiando a fala dele. Ele, o presidente Jair Bolsonaro, que tem o meu apoio, ele disse isso, literalmente. Abraçar as pessoas e evitar uma convulsão social.
O ano legislativo está acabando, o que vai ser prioridade?
Eu quero ver a reforma administrativa sendo aprovada, acho fundamental. O clima é favorável, há um consenso.
Caso o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, não tenha autorização judicial para concorrer novamente à Presidência da Casa, o senhor disputaria esta eleição?
Tem cargos que não luto para tê-los. Se dependesse de mim, jamais serei presidente do Congresso. Claro que tem missões que, se o destino te impuser, não tem como correr, você é obrigado a aceitar. Agora, se depender de mim, jamais vou ser presidente do Congresso e jamais serei líder de bancada. Por uma razão: do jeito que eu sou hoje, já trato de mais assuntos do que eu gostaria. Eu fui o primeiro que disse publicamente da bancada do MDB que o Davi, podendo, ele é o nosso candidato. E eu tinha uma outra razão que, Davi, tem certeza do que vou dizer. E, outra coisa, vou aproveitar para dizer aos meus amigos bolsonaristas: não vamos ser ingênuos, é claro que o presidente da República tem carinho e afeição pela reeleição de Alcolumbre. Não é segredo para ninguém, é só pensar um pouco.
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