Congresso
"Paulo Guedes não gosta de mim", diz Maia ao SBT News
Presidente da Câmara afirmou que desistiu de tentar manter boa relação com o ministro da Economia e que não buscará reconciliação. "É perda de tempo"
SBT News
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Gabriela Vinhal e Leonardo Cavalcanti
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não gosta dele. Em entrevista exclusiva ao SBT News, o parlamentar deixou claro que rompeu relações e não pretende buscar uma reconciliação.
Guedes não apareceu na cerimônia de entrega da proposta do governo de reforma administrativa na Câmara. O desgaste da relação é evidente desde o início do governo Bolsonaro (sem partido), quando a reforma da Previdência foi apresentada ao Congresso. Na noite de quinta-feira (3.set), o presidente da Câmara disse que o ministro havia proibido os secretários da pasta a se encontrarem com ele.
Questionado se o economista já o havia procurado, Maia foi incisivo: "Nem precisa (mais). Agora já fiz todas as minhas tentativas. Eu sou um político paciente, mas acho que a gente vai perder tempo. De fato, o Paulo Guedes não gosta de mim. Se a pessoa não tem uma boa relação, não adianta perder tempo".
Maia garante, contudo, que o rompimento não vai contaminar a tramitação da reforma administrativa. Ele tratará sobre as pautas do Executivo, a partir de agora, com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. "Com Ramos a relação só melhora, porque ele é um bom articulador. O problema que Guedes tem comigo... (risos) não pode, de forma alguma, prejudicar o país." Leia trechos da entrevista concedida na manhã desta sexta-feira na residência oficial da presidência da Câmara:
SBT News - A reforma da Previdência foi aprovada na gestão do senhor. O projeto de reforma administrativa também pode avançar até o final do mandato do senhor na Presidência da Câmara?
Rodrigo Maia - Nossa intenção é terminar a tributária antes, está mais avançada. Paralelamente, vamos trabalhar a administrativa para, se possível, ir a plenário até o fim do ano. É um caminho mais longo que a tributária, que já passou por algumas etapas. mas nossa expectativa é ter a matéria pronta até o fim do ano.
A tributária é prioridade?
Não, uma já passou por fases que outra não passou. As duas são importantes. mas uma está em uma fase onde hoje por exemplo já poderia votar na comissão especial. A administrativa ainda tem a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Se eu não seguir o rito, quem for contra pode ir à Justiça e terá ganho de causa. Importante é não perder tempo.
A falta de interlocução com o ministro Paulo Guedes dificulta a tramitação?
Não, temos um bom diálogo com o ministro da articulação política (general Luiz Eduardo Ramos) que é o responsável pela relação do Parlamento com o poder Executivo.
A que o senhor atribui a questão de Guedes ter proibido a equipe de tratar com o senhor?
Ele deve ter os motivos dele, mas é importante que as coisas fiquem claras para que depois as pessoas não se perguntem a razão de o ministro não ter ido entregar a reforma. Não foi por causa disso, não sei por qual motivo se colocou um obstáculo na nossa relação. Mas não é um obstáculo para a aprovação das reformas, recebi o ministro Jorge (Oliveira, da Secretaria Geral) e deixei claro a importância dele e do Ramos para que essa matéria possa tramitar com uma boa articulação entre os Poderes.
Guedes é um mau político nesse sentido?
Na tramitação da Previdência ele fez a mesma coisa. Atacou nosso relatório e nós aprovamos. Ele só apareceu na votação do último destaque do segundo turno. Nós fizemos tudo, não atrapalha, a gente não mistura as coisas. Mas, de fato, não é uma relação simples.
Pode acontecer de novo? Ele só aparecer no final, como o senhor disse que ocorreu?
Tributária é mais complexa. Não é fácil, quando se trata de tributos, fazer uma reforma desconectada do governo. Temos de ter mais paciência para dialogar com os técnicos do governo, não eu, porque, em tese, estou proibido, mas certamente o relator e os membros da comissão. Claro, eu acredito muito que na importância das reformas para o Brasil, primeiro, claro, para a recuperação do crescimento econômico e redução das desigualdades. É o único caminho para que a política volte a estar próxima e reconectada à sociedade brasileira.
O problema de Guedes com o senhor está ligado a divergências sobre a reforma tributária, a volta de impostos?
Não, são coisas diferentes, a reforma tributária. O governo enviou um projeto de lei que é convergente com a nossa PEC, não tem nenhuma divergência. A unificação de PIS Cofins está dentro da nossa proposta de reforma. O que Paulo Guedes disse que não incluiria estados e municípios, que seria um problema do Congresso. Estamos trabalhando para incluir estados e municípios, e ele nao tem nada contra isso, foi isso o que disse publicamente. Agora ele quer criar um imposto que ele diz que é digital mas que a gente sabe que é CPMF. Isso eu sou contra, mas divergências são legítimas, tem que ser respeitados porque vivemos em uma democracia.
Pode ser esse o motivo, o imposto?
Eu não sei, porque para o Brasil as reformas são importantes. Você simplificar os impostos de bens e serviços é importante para a melhoria do ambiente de negócios no país. Se o ambiente melhora o Brasil tem chance de crescer mais. Crescendo mais, claro, primeiro melhor para os brasileiros, e é bom para o governo. Então não sei qual o problema ter um presidente da Câmara que é um ator ativo na agenda econômica muitas vezes convergente com o governo, e que ajuda o governo nesta pauta. Não sei porque às vezes alguns me tratam como adversário.
Guedes falou com o senhor? O senhor estaria aberto para fazer as pazes com ele?
Nem precisa (falar). Agora já fiz todas as minhas tentativas, eu sou um político paciente, mas eu acho que a gente vai perder tempo. Dde fato Paulo Guedes não gosta de mim, se a pessoa não tem uma boa relação, não adianta, a gente perder tempo. O Brasil é mais importante do que a opinião do Paulo Guedes a meu respeito, e vice-versa. O que não pode é travar a pauta da Câmara porque o Paulo Guedes proibiu os secretários de almoçarem comigo. Não podemos misturar as coisas. A gente precisa entender que temos uma grande crise, o parlamento teve um papel decisivo nas soluções para o enfrentamento da pandemia, começando pela PEC da Guerra. Não teve país nenhum do mundo que construiu uma solução em que os programas criados na pandemia tem prazo para acabar, me disse um membro da equipe econômica. No resto do mundo, os países estão com dificuldade para saber como vão acabar com os programas que foram construídos. Nós só ajudamos, colaboramos, independentemente das relações pessoais que temos.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não gosta dele. Em entrevista exclusiva ao SBT News, o parlamentar deixou claro que rompeu relações e não pretende buscar uma reconciliação.
Guedes não apareceu na cerimônia de entrega da proposta do governo de reforma administrativa na Câmara. O desgaste da relação é evidente desde o início do governo Bolsonaro (sem partido), quando a reforma da Previdência foi apresentada ao Congresso. Na noite de quinta-feira (3.set), o presidente da Câmara disse que o ministro havia proibido os secretários da pasta a se encontrarem com ele.
Questionado se o economista já o havia procurado, Maia foi incisivo: "Nem precisa (mais). Agora já fiz todas as minhas tentativas. Eu sou um político paciente, mas acho que a gente vai perder tempo. De fato, o Paulo Guedes não gosta de mim. Se a pessoa não tem uma boa relação, não adianta perder tempo".
Maia garante, contudo, que o rompimento não vai contaminar a tramitação da reforma administrativa. Ele tratará sobre as pautas do Executivo, a partir de agora, com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. "Com Ramos a relação só melhora, porque ele é um bom articulador. O problema que Guedes tem comigo... (risos) não pode, de forma alguma, prejudicar o país." Leia trechos da entrevista concedida na manhã desta sexta-feira na residência oficial da presidência da Câmara:
SBT News - A reforma da Previdência foi aprovada na gestão do senhor. O projeto de reforma administrativa também pode avançar até o final do mandato do senhor na Presidência da Câmara?
Rodrigo Maia - Nossa intenção é terminar a tributária antes, está mais avançada. Paralelamente, vamos trabalhar a administrativa para, se possível, ir a plenário até o fim do ano. É um caminho mais longo que a tributária, que já passou por algumas etapas. mas nossa expectativa é ter a matéria pronta até o fim do ano.
A tributária é prioridade?
Não, uma já passou por fases que outra não passou. As duas são importantes. mas uma está em uma fase onde hoje por exemplo já poderia votar na comissão especial. A administrativa ainda tem a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Se eu não seguir o rito, quem for contra pode ir à Justiça e terá ganho de causa. Importante é não perder tempo.
A falta de interlocução com o ministro Paulo Guedes dificulta a tramitação?
Não, temos um bom diálogo com o ministro da articulação política (general Luiz Eduardo Ramos) que é o responsável pela relação do Parlamento com o poder Executivo.
A que o senhor atribui a questão de Guedes ter proibido a equipe de tratar com o senhor?
Ele deve ter os motivos dele, mas é importante que as coisas fiquem claras para que depois as pessoas não se perguntem a razão de o ministro não ter ido entregar a reforma. Não foi por causa disso, não sei por qual motivo se colocou um obstáculo na nossa relação. Mas não é um obstáculo para a aprovação das reformas, recebi o ministro Jorge (Oliveira, da Secretaria Geral) e deixei claro a importância dele e do Ramos para que essa matéria possa tramitar com uma boa articulação entre os Poderes.
Guedes é um mau político nesse sentido?
Na tramitação da Previdência ele fez a mesma coisa. Atacou nosso relatório e nós aprovamos. Ele só apareceu na votação do último destaque do segundo turno. Nós fizemos tudo, não atrapalha, a gente não mistura as coisas. Mas, de fato, não é uma relação simples.
Pode acontecer de novo? Ele só aparecer no final, como o senhor disse que ocorreu?
Tributária é mais complexa. Não é fácil, quando se trata de tributos, fazer uma reforma desconectada do governo. Temos de ter mais paciência para dialogar com os técnicos do governo, não eu, porque, em tese, estou proibido, mas certamente o relator e os membros da comissão. Claro, eu acredito muito que na importância das reformas para o Brasil, primeiro, claro, para a recuperação do crescimento econômico e redução das desigualdades. É o único caminho para que a política volte a estar próxima e reconectada à sociedade brasileira.
O problema de Guedes com o senhor está ligado a divergências sobre a reforma tributária, a volta de impostos?
Não, são coisas diferentes, a reforma tributária. O governo enviou um projeto de lei que é convergente com a nossa PEC, não tem nenhuma divergência. A unificação de PIS Cofins está dentro da nossa proposta de reforma. O que Paulo Guedes disse que não incluiria estados e municípios, que seria um problema do Congresso. Estamos trabalhando para incluir estados e municípios, e ele nao tem nada contra isso, foi isso o que disse publicamente. Agora ele quer criar um imposto que ele diz que é digital mas que a gente sabe que é CPMF. Isso eu sou contra, mas divergências são legítimas, tem que ser respeitados porque vivemos em uma democracia.
Pode ser esse o motivo, o imposto?
Eu não sei, porque para o Brasil as reformas são importantes. Você simplificar os impostos de bens e serviços é importante para a melhoria do ambiente de negócios no país. Se o ambiente melhora o Brasil tem chance de crescer mais. Crescendo mais, claro, primeiro melhor para os brasileiros, e é bom para o governo. Então não sei qual o problema ter um presidente da Câmara que é um ator ativo na agenda econômica muitas vezes convergente com o governo, e que ajuda o governo nesta pauta. Não sei porque às vezes alguns me tratam como adversário.
Guedes falou com o senhor? O senhor estaria aberto para fazer as pazes com ele?
Nem precisa (falar). Agora já fiz todas as minhas tentativas, eu sou um político paciente, mas eu acho que a gente vai perder tempo. Dde fato Paulo Guedes não gosta de mim, se a pessoa não tem uma boa relação, não adianta, a gente perder tempo. O Brasil é mais importante do que a opinião do Paulo Guedes a meu respeito, e vice-versa. O que não pode é travar a pauta da Câmara porque o Paulo Guedes proibiu os secretários de almoçarem comigo. Não podemos misturar as coisas. A gente precisa entender que temos uma grande crise, o parlamento teve um papel decisivo nas soluções para o enfrentamento da pandemia, começando pela PEC da Guerra. Não teve país nenhum do mundo que construiu uma solução em que os programas criados na pandemia tem prazo para acabar, me disse um membro da equipe econômica. No resto do mundo, os países estão com dificuldade para saber como vão acabar com os programas que foram construídos. Nós só ajudamos, colaboramos, independentemente das relações pessoais que temos.
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