Publicidade

O Brasil e o Relatório Anticorrupção 2022: sobre os principais países exportadores

Documento analisa a aplicação de leis anticorrupção pelos 47 maiores exportadores mundiais

O Brasil e o Relatório Anticorrupção 2022: sobre os principais países exportadores
O Brasil e o Relatório Anticorrupção 2022: sobre os principais países exportadores
Publicidade

*Corrupção em Debate é uma coluna do Instituto Não Aceito Corrupção (INAC)


Os países no mundo todo enfrentaram uma crise global de saúde pública com a rápida disseminação da COVID-19. A crise entre a Rússia e os países ocidentais em razão da guerra com a Ucrânia trouxe um delicado cenário geopolítico internacional. Infelizmente, a corrupção prospera e muito em tempos de crise com vivemos hoje.

+ Conheça os colunistas do SBT News
+ Leia as últimas notícias de Justiça
+ Todas as notícias no portal SBT News

A pandemia expôs mais do que nunca rachaduras nos sistemas públicos de saúde e mostrou várias possibilidades e oportunidades de condutas corruptas. Mas não foi só o setor da saúde que ficou exposto à corrupção.

O atual cenário geopolítico permitiu que vários outros setores também ficassem sujeitos às práticas corruptas, com a interrupção das cadeias de suprimento, tornando inúmeros produtos escassos e o aumento da demanda.

A pandemia, a Guerra na Ucrânia foram alguns dos grandes obstáculos ao combate à corrupção e tiveram um impacto significativo no monitoramento e fiscalização pelos países. Isso fica muito claro no relatório Exporting Corruption 2022 da Transparência Internacional, cuja 14ª edição foi lançada recentemente.

O relatório Exporting Corruption 2022 analisa a efetiva aplicação de leis anticorrupção pelos quarenta e sete maiores países exportadores mundiais, quase todos integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), representando assim 84% das exportações globais.

A base do relatório está no número de investigações anticorrupção realizadas, nas ações de fiscalização e controle e em outros dados que permitiram avaliar se tais países estiveram de fato e de modo eficaz monitorando e controlando o combate à corrução transnacional. Os resultados são muito preocupantes.

A Convenção sobre Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais (Convenção Antissuborno) da OCDE foi concluída em 1997, em Paris.

Os trinta e oito países membros da OCDE são signatários da Convenção Antissuborno, ao lado de seis países não membros: Argentina, Brasil, Bulgária, Peru, Rússia e África do Sul.

A corrupção nos negócios internacionais causa danos ao desenvolvimento sustentável, à Agenda 2030, aos direitos humanos e às instituições democráticas.

A Convenção da OCDE traz sólidos fundamentos para redução da corrupção nas transações internacionais, embora sua implementação pelos países ainda seja um desafio.

Mais de duas décadas após a adoção da Convenção Antissuborno, a maioria dos países ainda está aquém de suas obrigações. É o que demonstra o relatório Exporting Corruption 2022.

Dentre os quarenta e sete países examinados pelo relatório, apenas três deles ? China, Índia e Singapura ? não são signatários da Convenção Antissuborno e somente a Islândia, país signatário da Convenção Antissuborno, não é examinada pelo relatório, diante de sua pequena participação no comércio internacional.

Todos os países examinados ratificaram a Convenção da Nações Unidas contra a Corrupção, o único tratado internacional multilateral anticorrupção juridicamente vinculativo.

O relatório Exporting Corruption 2022 está dividido em quatro categorias: 1) ativa; 2) moderada; 3) limitada; e, 4) pouca ou nenhuma fiscalização.

Os países recebem pontos baseados no desempenho da suas respectivas fiscalizações ao combate à corrupção, diante do número de investigações de corrupção iniciadas, número de acusações de conduta corruptas apresentadas e casos de corrupção concluídos com sanções, entre os anos de 2018 a 2021.

O relatório demonstra um declínio global na fiscalização do combate à corrupção. Apenas dois países, os Estados Unidos da América e a Suíça, estão efetivamente combatendo a corrupção através da concreta aplicação e fiscalização da legislação anticorrupção.

Pior, somente dois países melhoraram de nível de fiscalização no relatório: a Letônia (de fiscalização limitada ? nível três ? para moderada ? nível dois) e o Peru (de pouca ou nenhuma fiscalização ? nível quatro, para fiscalização limitada ? nível 3). Em suma, segundo o Exporting Corruption 2022, dois países realizaram uma fiscalização ativa; sete países fiscalizaram de modo moderado; dezoito países fizeram uma fiscalização limitada e vinte países tiveram pouca ou nenhuma fiscalização contra a corrupção.

O Brasil foi rebaixado neste relatório, em comparação com sua edição anterior, lamentavelmente. No período de 2018-2021, o País foi do nível dois ? fiscalização moderada ? para o nível três ? fiscalização limitada.

Em 2021, por exemplo, as prisões por corrupção feitas pela Polícia Federal chegaram ao menor patamar dos últimos 14 anos, equivalendo a uma redução de 44% em comparação ao mesmo período do ano de 2020. Segundo o relatório, o Brasil instaurou 5 investigações anticorrupção, iniciou 1 único processo judicial e 2 processos anticorrupção tiveram sentença definitiva com a aplicação de sanções.

Ao compararmos o Brasil com os dois países que estão no topo da lista, com ativa fiscalização anticorrupção, os Estados Unidos e a Suíça, vemos que no caso dos Estados Unidos foram abertas 48 investigações, iniciadas 163 casos e concluídos 145 com aplicação de sanções; e, no caso da Suíça, 39 investigações iniciadas, 2 processos foram instaurados e 11 casos concluídos com a aplicação de sanções.

Segundo o Exporting Corruption 2022, dentre as principais causas do declínio no combate à corrupção no Brasil se pode citar: a inadequação dos instrumentos de denúncia e proteção do "informante do bem" (whistleblower); o desmantelamento do bem-sucedido modelo de "força-tarefa" para o combate à corrupção, o que levou a um grande declínio das investigações de corrupção; a interferência política nas agências especializadas para aplicação da lei anticorrupção (como Polícia Federal e Ministério Público Federal), com graves consequências para os esforços anticorrupção; e, a decisão do Supremo Tribunal Federal de transferir a competência jurisdicional dos casos envolvendo corrupção política para a justiça eleitoral, que não dispõe de conhecimento ou recursos para conduzir essas investigações e processos, resultando em impunidade, na maior parte dos casos.

A corrupção tem impactos devastadores no mundo real. Quantas pessoas não morreram por falta de ventiladores durante a COVID-19, porque os recursos foram desviados para os bolsos de poucos?

A corrução não é um crime sem vítimas, muito pelo contrário; apenas a identidade de suas vítimas é desconhecida pela maioria e por essa razão muitos pensam, erroneamente, que sem vítimas identificáveis não há crime.

Que bom seria que se ao invés de termos apenas dois países liderando o combate à corrupção, como demonstra o relatório Exporting Corruption 2022, tivéssemos uma competição com grande número de concorrentes, todos por um mundo melhor, mais inclusivo, mais sustentável e menos corrupto.
 

Publicidade
Publicidade

Assuntos relacionados

sbtnews
colunista
justica
colunista-ligia-maura-costa
nao-aceito-corrupcao
portalnews
justiça

Últimas notícias

Mauro Vieira e chanceler do Líbano conversam sobre situação de brasileiros no país em meio a ataques de Israel

Mauro Vieira e chanceler do Líbano conversam sobre situação de brasileiros no país em meio a ataques de Israel

Ministro das Relações Exteriores teve reunião com Abdallah Bou Habib em Nova York (EUA), neste sábado (28)
Servidor da Universidade Federal do Amazonas é preso por ameaçar mulheres no ambiente de trabalho

Servidor da Universidade Federal do Amazonas é preso por ameaçar mulheres no ambiente de trabalho

Segundo a Polícia Federal, responsável pela prisão, homem chegou a mandar mensagens intimidadoras e até imagens de arma e facões a colegas e superiores
Furacão Helene deixa pelo menos 52 mortos e devasta regiões no sudeste dos Estados Unidos

Furacão Helene deixa pelo menos 52 mortos e devasta regiões no sudeste dos Estados Unidos

Milhões de pessoas estão sem luz, casas e prédios foram destruídos, cidades estão ilhadas e pacientes de hospitais tiveram que ser resgatados por helicópteros
Falso motorista de app que usava carro com placa adulterada de veículo oficial é preso em área nobre do DF

Falso motorista de app que usava carro com placa adulterada de veículo oficial é preso em área nobre do DF

Suspeito transportava executivos em Brasília; veículo exibia até equipamentos luminosos semelhantes aos de viaturas policiais e símbolo do Brasão da República
Finalistas de prêmio da foto mais cômica da natureza são anunciados

Finalistas de prêmio da foto mais cômica da natureza são anunciados

Ursos se abraçando, discussão entre leões e gangue de pinguins são algumas das fotografias selecionadas
Polícia Rodoviária Federal faz apreensão recorde de 28 toneladas de maconha no Mato Grosso do Sul

Polícia Rodoviária Federal faz apreensão recorde de 28 toneladas de maconha no Mato Grosso do Sul

Droga estava escondida em carreta de milho, no município de Amambai; essa foi a maior apreensão de maconha feita pela PRF em 2024
Exército de Israel afirma ter matado líder do Hamas no sul da Síria

Exército de Israel afirma ter matado líder do Hamas no sul da Síria

Ahmad Muhammad Fahd era responsável pelas operações do grupo extremista palestino na região
Bets: ministérios vão avaliar impactos de apostas online na saúde mental de brasileiros

Bets: ministérios vão avaliar impactos de apostas online na saúde mental de brasileiros

Secretário de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, Regis Dudena, disse à Agência Brasil que trabalho deve envolver pasta da Saúde
Polícia Federal prende primeira-dama de João Pessoa (PB) por aliciamento violento de eleitores

Polícia Federal prende primeira-dama de João Pessoa (PB) por aliciamento violento de eleitores

Marido de Lauremília Lucena, o prefeito e candidato Cícero Lucena (PP) disse, em nota, que se trata de "prisão política" às vésperas da eleição
Hezbollah confirma morte do líder Hassan Nasrallah em bombardeios de Israel no Líbano

Hezbollah confirma morte do líder Hassan Nasrallah em bombardeios de Israel no Líbano

Ataque feito no sul de Beirute, capital do país, também matou outros chefes do grupo
Publicidade
Publicidade