Conversas ligam presidente da Alesp a acusado de desviar dinheiro

O deputado estadual Carlão Pignatari (PSDB-SP), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e braço direito do governador João Doria (PSDB), é suspeito de envolvimento com a organização criminosa que desviou, comprovadamente, R$ 500 milhões na área da saúde no estado. Registros de chamadas telefônicas obtidos pela polícia mostram conversas entre o parlamentar e o médico Cleudson Garcia Montali, de Birigui (SP), que, segundo as investigações, teria agido como "testa de ferro" do ex-governador Márcio França (PSB) para captação de recursos à organização.

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Em um dos diálogos, em 22 de maio de 2019, Carlão pede que Cleudson converse com o prefeito de Santa Fé do Sul, no interior paulista, para assumir a administração da Santa Casa local. "Deixa eu te fazer um pedido, o prefeito de Santa Fé está com um problema sério na Santa Casa dele lá, você não consegue pedir para alguém dar uma olhada lá e ver se põe uma OS [organização social] tua para gerenciar aquilo?", fala o deputado estadual. Como resposta, o médico pontua: "claro, claro". Depois, eles combinam de se encontrar pessoalmente com o prefeito.

Já no dia 25 de maio daquele ano, Cleudson conversou com o chefe do Executivo de Santa Fé do Sul, Ademir, por telefone. Na ocasião, combinaram de o médico ir ao município falar pessoalmente com o prefeito, acompanhado de uma equipe que faria um levantamento para assumir, por meio da OS, a gestão da área da saúde na cidade.

Em outro diálogo, no dia 12 de junho de 2019, Carlão e Cleudson falam sobre dois contratos de gestão: um entre OS e a Secretaria Municipal de Saúde de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, e o da OS com a secretaria de Santa Fé do Sul. No caso da segunda cidade, o deputado estadual faz a conexão com o prefeito para levar o contrato adiante. Já em relação a Ferraz de Vasconcelos, a "ponte" seria um deputado estadual da região, com quem Cleudson conversaria pessoalmente.

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"Deixa eu te perguntar uma coisa: você conhece o hospital de Ferraz de Vasconcelos", diz Carlão ao médico. Na sequência, este responde: "deputado, não conheço, lá nesse lugar que o senhor está falando, a prefeitura me chamou para uma conversa". Depois, o político estadual fala: "Tá bom, então, vou precisar que antes de você ir na prefeitura, você venha aqui na Assembleia, para eu te apresentar o deputado de lá, que ele vai ser o capital seu lá". Assim, Cleudson diz "ótimo".

Em 14 de junho, o médico afirmou ao presidente da Alesp que havia conversado com o outro parlamentar da região de Ferraz de Vasconcelos: "tô atendendo ele, viu?". Além disso, deu um retorno sobre contato com o prefeito de Santa Fé: "ele me ligou e vai marcar a semana que vem em São Paulo, ele preferiu conversar comigo em São Paulo, tá?". Já no dia 27 de junho de 2019, o médico liga para o deputado para informar sobre uma publicação no Diário Oficial de Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo: "acabou de assinar lá, viu? Publica amanhã, tá? Carapicuíba, Carapicuíba publica amanhã".

A organização criminosa que desviou R$ 500 milhões é investigada pela Operação Raio X, deflagrada em 2020. No esquema, as OS seriam usadas para desvios de recursos mediante contratos superfaturados para gestão de unidades de saúde destinadas ao atendimento da população pobre. Em um desdobramento da Raio X, no mês passado, a Polícia Civil cumpriu 34 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Márcio França. O SBT News entrou em contato com Carlão Pignatari e a prefeitura de Santa Fé do Sul para pedir um posicionamento sobre as conversas incluídas no inquérito; o político não retornou, e o Executivo municipal disse que "os fatos trazidos a público dizem respeito à gestão anterior, da qual o atual governo não possui nenhum vínculo com seu antecessor". "Não é do conhecimento desta atual gestão quaisquer tratativas a respeito do assunto em referência", completou.

Veja os registros das chamadas telefônicas: