Violência no entorno escolar faz alunos perderem até um ano de aprendizado no RJ
Crianças têm desempenho até 65% menor em português e praticamente nulo em matemática, revela pesquisa

Ana Clara Souza
Uma pesquisa mostrou que a violência, além de causar danos irreparáveis às favelas e comunidades do Rio de Janeiro, tem prejudicado o aprendizado de alunos de escolas inseridas nesses territórios.
Ao chegar no 5º ano do ensino fundamental, alunos de escolas com entorno violento, com seis ou mais registros anuais de violência, aprendem 65% menos do que o esperado em língua portuguesa para um ano letivo. O prejuízo em matemática é ainda mais severo, equivalente ao ano inteiro perdido.
A pesquisa “O Impacto da Guerra às Drogas na Educação das Crianças das Periferias do Rio de Janeiro” mapeou 32 instituições de ensino nessa situação. O estudo foi publicado na revista Dados, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
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De acordo com Tiago Bartholo, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ e um dos autores do estudo, os alunos dessas unidades têm o aprendizado comprometido por diversos fatores.
“As escolas ficam fechadas por mais dias. Elas não podem abrir em função desses episódios de violência. Tem também um aumento das faltas, tanto dos estudantes quanto dos docentes, em dia de violência ou no dia posterior”, afirmou.
Bartholo também ressalta que a violência gera impactos negativos no desempenho dos estudantes porque impacta o sono e gera um enorme estresse, tanto para as crianças e jovens, quanto para os professores e todos que estão submetidos a essas situações.
Caso recente ilustra impacto da violência nas escolas
Um menino de 7 anos foi atingido por um tiro na quinta-feira (14) dentro da Escola Municipal Professora Marisa Vargas Menezes, na Estrada de Jacarepaguá, em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio.
O pai da criança contou que o filho estava na aula de educação física, por volta das 11h30 da manhã, quando foi ferido por uma bala perdida. Ele também afirma que, após o episódio de violência, o menino ficou traumatizado.
"Ele pede para não ir mais para a escola. 'Se eu for, vou ser baleado de novo. Eu não sou bandido, pai. Por que levei esse tiro?'", relata.
O estudante foi levado para a Clínica da Família e depois transferido para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, onde foi atendido e já recebeu alta.
Na delegacia da Barra da Tijuca, o pai diz que na manhã do incidente, havia escutado tiros vindo da Gardênia Azul, comunidade próxima a Rio das Pedras, onde uma grande operação das polícias militar e civil aconteceu na quarta-feira (13), durando todo o dia.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação, o disparo atingiu o aluno sem que houvesse operação ou tiroteio em curso. A Prefeitura lamentou que episódios de violência como este impactem as escolas, que deveriam ser locais de paz e aprendizagem.
*Com informações da Agência Brasil