Violência e exclusão na política: ministra do TSE expõe os desafios da democracia no Brasil
Em conversa com o SBT News, Edilene Lôbo também comenta sobre o uso da inteligência artificial para promover a desinformação
Em entrevista ao programa Perspectivas, do SBT News, a ministra Edilene Lôbo, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), comentou diversos temas relacionados ao processo eleitoral brasileiro, especialmente no contexto das eleições municipais de 2024.
Na conversa com a repórter Paola Cuenca, a ministra falou sobre assuntos que vão desde o uso da inteligência artificial até a violência e exclusão de grupos marginalizados na política brasileira.
Inteligência Artificial e Desinformação
Edilene Lôbo apontou para o uso de inteligência artificial para disseminação de informação durante o período eleitoral, especialmente com o uso das chamadas deepfakes e outras ferramentas digitais. Embora a preocupação fosse alta, a ministra tranquilizou ao informar que o impacto nas Eleições Municipais de outubro foi menor que o esperado.
"A Justiça Eleitoral investiu muito na regulação, na orientação, na educação das pessoas e, principalmente, advertindo que quem utilizasse a desinformação, a manipulação, a mentira, ia ser responsabilizado", afirma.
Violência nas Eleições
A ministra do TSE também comentou sobre a violência no período eleitoral. Edilene Lôbo alertou para o aumento de abusos, que vão além da agressão física e incluem o abuso do poder econômico e a manipulação informativa. Ela apontou o crescimento da violência política, particularmente direcionada contra mulheres e o impacto de organizações criminosas no processo eleitoral.
"Essas condutas violentas destroem esse mínimo, essa base para o modelo político democrático adequado. Então, todo mundo tem que se preocupar com essas violências. Mais recentemente, nós vimos a atuação de modo mais visível, digamos assim, da violência física, da violência também produto do abuso, do poder econômico e uma preocupação da sociedade brasileira há muito tempo, que é o crescimento das organizações criminosas", comenta.
Para Edilene, o combate à violência eleitoral exige o esforço não só do TSE, mas de toda a sociedade.
Redes Sociais e Polarização
No que diz respeito ao papel das redes sociais, a ministra expôs a influência que essas plataformas têm sobre a opinião pública e as escolhas políticas. Ela explicou como as redes sociais podem se transformar em “bolhas” em que os usuários ficam restritos a ideias semelhantes às suas. Esse fenômeno cria um ciclo de confirmação, onde as opiniões parecem majoritárias e “verdadeiras” dentro de grupos, mas que podem distorcer a realidade. Edilene Lôbo defende que as plataformas digitais precisam garantir a transparência e a não manipulação dos processos democráticos, protegendo o eleitor contra fake news e influências desproporcionais.
Presença de Mulheres e Pessoas Negras
Outro ponto abordado na entrevista foi a candidaturas de mulheres e pessoas negras na política. Sendo a primeira magistrada negra do TSE, Edilene reconheceu avanços com políticas de cotas, mas observou que a representatividade ainda é insuficiente. Segundo a ministra, a exclusão desses grupos em ambiente de poder representa também um tipo de violência na política.
"Nós precisamos falar de enfrentamento a esse tipo de violência, porque a exclusão dos espaços decisórios é uma violência, talvez com um impacto muito maior do que outros tipos", aponta.
A ministra do TSE enfatizou a necessidade de um pacto social para combater essa exclusão e promover um ambiente onde todos possam exercer sua cidadania em igualdade de condições, reforçando que a democracia só será verdadeira quando for inclusiva em todos os aspectos.
Desafios para a Democracia
Ao final da entrevista, a ministra ressaltou que a democracia não pode ser encarada apenas como o direito de votar, mas como um compromisso diário com inclusão e justiça social. Com a exclusão digital ainda presente em grande parte da população brasileira, ela alertou sobre a necessidade de medidas que democratizem o acesso à tecnologia e promovam uma sociedade mais justa e equitativa.
Edilene Lôbo concluiu defendendo que a construção de uma democracia verdadeira no Brasil exige um esforço conjunto de todos, desde a regulamentação digital até a inclusão política e social, garantindo que cada cidadão tenha voz e participação ativa, em um ambiente livre de violências e discriminações.