Vereador de SP diz ter votos para abrir CPI contra Padre Júlio Lancellotti
Iniciativa mira o trabalho de ONGs e do religioso na Cracolândia; "protejam o padre" viraliza nas redes sociais
A Câmara de Vereadores de São Paulo deve votar, na retomada dos trabalhos legislativos – em fevereiro –, a instauração da CPI das ONGs. Proposta pelo vereador Rubinho Nunes (União), a comissão parlamentar de inquérito pretende investigar a atuação dessas instituições na região central da capital paulista, em especial na Cracolândia. Um dos alvos do parlamentar é o padre Júlio Lancellotti, reconhecido por coordenar a Pastoral do Povo de Rua.
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Por que isso importa: Em ano eleitoral, Rubinho – ex-integrante do MBL (Movimento Brasil Livre) – tenta associar o padre, aliado do pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL), ao que chama de "máfia da miséria".
"O padre não consta no quadro diretivo de nenhuma, mas ele atua como 'frente' dessas ONGs. Na verdade, é aquela velha história: ele utiliza de 'testas' para se ocultar dentro delas, mas ele responde enquanto figura individual, pessoa física, e vai ser chamado para prestar esclarecimentos", diz o vereador do União Brasil.
O partido de Rubinho vai apoiar a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) para prefeito da cidade. Pesquisa Atlas divulgada no domingo (31) aponta que Boulos lidera a corrida com 29,5% das intenções de voto. Nunes aparece em segundo lugar, com 18%.
Bastidores: O pedido de CPI foi protocolado por Rubinho ainda em dezembro, com assinatura de 21 vereadores. Agora, segundo o regimento interno da Câmara de Vereadores, ele precisa do apoio da maioria absoluta do plenário para instaurar a Comissão.
O vereador afirma ter conseguido o apoio de 30 parlamentares – mais do que os 28 necessários. Ele teria, então, conversado com a mesa diretora para que uma "votação simbólica" acontecesse em fevereiro, no retorno do recesso.
As bancadas da oposição, PT (8 vereadores) e PSOL (6 vereadores), não conseguiriam barrar a abertura do CPI, diz. As 55 cadeiras da Casa são divididas da seguinte forma:
Procurado pelo SBT News, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União), não confirma a informação de que há um acordo entre a mesa diretora e o vereador Rubinho Nunes. "Para ser criada, esta CPI, assim como todas as outras, precisa passar por aprovação no plenário da Câmara", afirmou.
O que é preciso para abrir uma CPI? O regimento interno da Câmara define que os pedidos de CPIs precisam da assinatura de pelo menos um terço dos vereadores (18 dos 55). Cinco Comissões podem ser instaladas ao mesmo tempo, mas, após a instauração das duas primeiras, as outras três – de caráter excepcional – precisam de aprovação em plenário pela maioria absoluta (mais de 50%) dos parlamentares.
Atualmente, três CPIs já estão em atividade na Casa: a dos Furtos de Fios e Cabos, a da Enel e a da Violência e Assédio Sexual Contra Mulheres.
Como são 55 vereadores, é preciso 28 votos para conquistar a maioria absoluta da Câmara de Vereadores de São Paulo.
O que diz o padre Júlio? O padre Júlio Lancellotti, pároco da Igreja São Miguel Arcanjo e coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, afirmou que reconhece a legitimidade da criação de uma CPI, mas destacou que as atividades da Pastoral de Rua não estão vinculadas a ONGs.
"A atividade da Pastoral de Rua é uma ação pastoral da Arquidiocese de Sâo Paulo, que, por sua vez, não se encontra vinculada de nenhuma forma as atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI", disse em nota.
Repercussão: A ofensiva contra o religioso fez com que o termo "Padre Júlio" ficasse em alta nas redes sociais. No X (antigo Twitter), até as 17h desta quarta-feira (03), ele era citado em mais de 70 mil posts.
Os deputados federais Sâmia Bomfim e pastor Henrique Vieira, ambos do PSOL, publicaram mensagens de apoio ao padre, junto a uma imagem em que se pode ler a frase "protejam o padre Júlio Lancellotti".
A página de humor @jairmearrependi propôs que doações fossem realizadas para a Paróquia São Miguel Arcanjo, para transformar a "indignação em alimento aos necessitados".