Brasil

São Paulo registra uma ocorrência de baile funk por hora em 2024

Pancadões geram divisão de opiniões entre moradores e especialistas, enquanto número de eventos mostra queda desde 2021

Imagem da noticia São Paulo registra uma ocorrência de baile funk por hora em 2024
Moradores de Paraisópolis realizam baile funk (Reprodução/SBT Brasil)
• Atualizado em
SBT News Logo

Acompanhe o SBT News nas TVs por assinatura Claro (586), Vivo (576), Sky (580) e Oi (175), via streaming pelo +SBT, Site e YouTube, além dos canais nas Smart TVs Samsung e LG.

Siga no Google Discover

O estado de São Paulo registra, em média, uma ocorrência de baile funk por hora. Durante todo o ano, moradores próximos aos pancadões se queixam do barulho, que dificulta o descanso. No fim do ano, o aumento dos eventos ao ar livre torna a situação ainda mais desafiadora.

Ao som de funk, centenas de pessoas ocupam ruas, transformando os locais em grandes festas que atravessam a madrugada.

"Sempre sexta-feira, umas 10 horas da noite, e acaba no sábado na hora do almoço, mais ou menos", relatou uma moradora, que preferiu não se identificar.

Ela descreve momentos de desespero quando os eventos começam: "Todo mundo já fica naquela expectativa esperando, porque eles anunciam, né? Do nada começa o barulho, queima de fogos, moto, aqueles barulhos insuportáveis."

Além do som alto, as manobras de motocicletas colocam em risco a segurança de quem está por perto.

"Amanhece o dia, tem vários usuários de drogas na rua, várias pessoas bêbadas, bastante lixo espalhado pela rua", acrescentou outro morador, que também preferiu não se identificar.

Mesmo com tantas reclamações, a presença policial costuma ser escassa nesses locais: "Nós já chamamos a polícia, ligamos no 190, já ligamos na corregedoria, mas não resolve. Quando a gente precisa das autoridades pra fazer alguma coisa, a gente não consegue", desabafou uma moradora.

Segundo o major Felipe Neves, porta-voz da Polícia Militar, a atuação preventiva tem se mostrado mais eficaz.

"Muitas vezes, o convencimento, o pedido para que abaixe o som não surte efeito e, nesses casos, a polícia pode atuar com meio de ações de controle de distúrbios, que a gente sabe que pode vir a gerar feridos e gerar outras consequências desagradáveis, então a estratégia que tem se tornado mais eficiente é a preventiva."

Dados da Secretaria de Segurança Pública, obtidos via Lei de Acesso à Informação, mostram que o número de pancadões vem caindo desde 2021 (22.786 bailes). No entanto, apenas em 2024, foram registradas 8.457 ocorrências, ou seja, mais de 700 por mês e 24 por dia.

A realidade por trás desses números é tema de debate. Enquanto moradores reclamam do impacto do barulho e da aglomeração, especialistas destacam o valor cultural dos bailes funk. Thiago Souza, pesquisador de música da USP, ressalta que os eventos representam a expressão da periferia:

"Os bailes são fruto da necessidade humana por festa, por celebrar, por sair um pouco da vida sofrida do trabalho. É uma festa barulhenta de propósito, é uma festa que demonstra uma rebeldia, é uma festa que é um grito de dor, olha eu existo. É um grito de ‘olha, eu posso fazer alguma coisa do meu corpo que não seja trabalhar, eu posso existir, posso aproveitar a vida’. Quando a favela sorri, muita gente fica incomodada."

Para muitos, a diversão precisa respeitar os limites do direito alheio.

"Se eu tiver uma escala de trabalho ao sábado, que é o dia que vai ter o fluxo lá, eu mudo a minha escala porque eu sei que é um dia que eu vou estar virada, não vou conseguir produzir bem, então isso tá afetando em vários aspectos na vida de todo mundo lá", afirmou um morador.

Assuntos relacionados

São Paulo
Baile Funk

Últimas Notícias