Pirataria digital tira bilhões da cultura criativa no Brasil
Na ilegalidade digital, música e audiovisual perdem terreno, e as classes A e B são as que mais consomem conteúdo pirata no país segundo a CNI.

Beto Lima
A pirataria digital ameaça a sobrevivência de setores inteiros da economia criativa no Brasil, como a música e o audiovisual. Especialistas de vários setores alertam que o consumo ilegal de conteúdos protegidos por direitos autorais tem provocado perdas bilionárias, comprometendo a inovação, a qualidade da produção cultural e até a segurança digital dos usuários.
Segundo dados da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), 47% dos brasileiros consomem música de forma ilegal — número 29% superior à média global. E, ao contrário do senso comum, não é a classe baixa a principal responsável por essa prática: a maior parte dos consumidores irregulares pertence às classes A e B.
“Esses dados desmontam estereótipos. A elite econômica, que teria condições de pagar por cultura, está entre as que mais fomentam a pirataria”, afirmou Paulo Batimarchi, diretor regional da IFPI na América Latina.
Mesmo ocupando a 9ª posição entre os maiores mercados musicais do mundo, o Brasil vê sua indústria cultural ameaçada pela reprodução e distribuição não autorizada de músicas. O prejuízo atinge não apenas artistas e produtores, mas toda a cadeia produtiva, além de desestimular novos investimentos e inovações. “Quando você não remunera o criador, você mata a criatividade na raiz”, alertou Batimarchi.
A situação não é diferente no setor audiovisual. Um estudo da Motion Picture Association (MPA), em parceria com o Instituto Ipsos, revelou que, em apenas três meses, mais de 1 bilhão de conteúdos — entre filmes, séries e programas de TV — foram consumidos ilegalmente no Brasil. O impacto financeiro chega a R$ 4 bilhões em perdas para a indústria.
Diante desse cenário, o diretor-presidente da RioFilme, Leonardo Edde, defende a criação de um Marco Legal da Economia Criativa que fortaleça a proteção à propriedade intelectual, mas sem abrir mão do acesso democrático à cultura. “Proteger o que a gente cria sempre será a parte mais importante do nosso trabalho. Uma indústria criativa forte impulsiona a economia, a cultura e a imagem do país no mundo”, afirmou.
*Sob supervisão