Pesquisas científicas na Amazônia ajudam empresas a explorar recursos da floresta de forma sustentável
Iniciativas são da Universidade Estadual do Amazonas que estimula a cooperação entre a academia e o setor produtivo
A aliança entre uma pesquisadora e um grupo de estudantes universitários trouxe resultados surpreendentes. Plantas e fungos foram usados para o desenvolvimento de bioprodutos, que hoje são utilizados, por um caminho novo, para a fabricação de remédios, cosméticos e alimentos.
No início , em sala de aula, a professora incentivou os alunos a estudarem melhor a possibilidade de produtos da natureza terem uma exploração comercial.
"Nós inicialmente escolhemos alguns produtos aqui da região que têm potencial interessante para ser utilizado na indústria de comércio, de alimentos, da indústria farmacêutica e entre outras aplicações", relembra Patrícia Melchionna, pesquisadora e professora de Engenharia Química da Universidade Estadual do Amazonas (UEA).
Durante a pesquisa o grupo verificou que o guaraná - fruta típica da amazônia - as folhas e galhos da árvore pau rosa e a castanha continham componentes perfeitos para serem aproveitados. Esses bioprodutos são colhidos em Maués, no interior do estado do Amazonas. A empreendedora Natália D'ambros viu na pesquisa uma oportunidade de incrementar a sua linha de produtos e iniciou a extração dos componentes.
"Essa parceria surgiu de agregar valor às cadeias básicas. A gente acredita nessa junção da ciência com os conhecimentos ancestrais para uma valorização dos produtos, seja do guaraná ou da castanha, isso vai dar o retorno para os pequenos produtores e também para a empresa, enfatiza a empresária.
Desde o inicio da pesquisa, em 2018, a empresa de Natália faz a doação dos insumos. Os bioprodutos são levados para o laboratório da Universidade do Estado do Amazonas, local onde a transformação acontece. O processo vai da pesquisa à aplicação em diferentes produtos, como o desenvolvimento de um protetor solar hidratante, que contém óleo da castanha, extrato de guaraná e óleo essencial do pau rosa.
"O guaraná, por exemplo, tem atividade fotoprotetora e ele é super antioxidante, então, a gente foca nisso para desenvolver um protetor solar que também protege contra o envelhecimento da pele. Essas duas atividades ajudam muito nisso. Já o óleo essencial do pau rosa nanoencapsulado nós usamos principalmente como conservante natural", explica Dâmarys Farias, pesquisadora do grupo de biotecnologia da UEA.
O processo de nanoencapsulamento é essencial para que esses bioprodutos tenham mais eficácia. "Esse processo consiste em manter esse extrato ou esse óleo essencial, que seria o princípio ativo, protegido, para ele durar mais tempo em sua aplicação", ensina Maria Tereza Pérez, pesquisadora do Instituto Federal do Amazonas (IFAM).
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Toda essa pesquisa é importante não somente para valorizar os produtos naturais, mas também para beneficiar possíveis consumidores. "A gente movimenta o mercado local e também é muito mais difícil a pessoa ter alergia a produto natural do que a produto sintético. Então, essa é uma vantagem muito grande", finaliza a professora Dâmarys Farias.