PCC e CV: trégua entre as facções criminosas não durou 3 meses; entenda
Organização criminosa paulista Primeiro Comando da Capital e a carioca Comando Vermelho teriam firmado acordo em fevereiro deste ano
Alan Covas
Derick Toda
A relação de "paz e amor" entre a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e a carioca Comando Vermelho (CV) não durou três meses, chegando ao fim na última segunda-feira (28).
O SBT teve acesso a um comunicado, conhecido como "Salve Geral", assinado pelo PCC. A mensagem afirma que "chegou ao fim a aliança e qualquer compromisso com o Comando Vermelho".
"Assim como chegamos a um consenso na aliança, o término ocorreu com respeito e humildade por ambas as partes, reconhecendo os pontos cruciais que envolvem todos os lados", diz o documento.
O fim do acordo teria partido de Marcinho VP, chefe do Comando Vermelho, que teria dado a ordem do presídio de segurança máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
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De acordo com a desembargadora Ivana David - que tem 34 anos de experiência no Tribunal de Justiça de São Paulo, especialmente em casos com faccionados, o acordo inicial não teria passado pelas mãos das principais lideranças, e sim de advogados que representam as facções.
"Esse acordo não vinha de lideranças. Esse acordo foi alinhado entre os advogados das associações criminosas que, nem de longe, representam o poder de liderança dos chefes das facções", diz Ivana David.
As facções firmaram um acordo de paz em fevereiro deste ano, que chegou a ser chamado de histórico pelas organizações criminosas.
A trégua havia sido estabelecida sob o pretexto de preservar a vida dos integrantes de ambas facções, além de abrir margem para o diálogo com outros grupos criminosos locais, como o Terceiro Comando Puro (TCP), que disputa territórios com o CV, na capital fluminense.
Elo das facções na mira da polícia
Há 20 dias, a Polícia Civil do Rio de Janeiro e a de São Paulo realizaram uma operação contra o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital.
A investigação revelou um esquema financeiro de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas mantido em parceria pelas facções que teria movimentado R$ 6 bilhões, em apenas um ano.
O dinheiro ilegal era lavado por meio de uma rede estruturada que inclui bancos digitais, fintechs, intermediadores de pagamentos, empresas de fachada e plataformas contábeis. As movimentações eram ocultas e sem autorização do Banco Central (BC).
Apesar da ação polícia ter colocado luz na parceria entre as facções, na visão da desembargadora, essa cooperação não é a realidade do tráfico de drogas e das disputas de poder.
"Imaginar que a maior organização, que é o PCC, vai dividir território, mas nem em estudos de economia isso existe. Quem ganha muito, tem muito poder e território, não vai dividir. Essa não é a leitura do narcotráfico", afirma Ivana David.
O SBT pediu o posicionamento do Ministério da Justiça e do Ministério Público Federal sobre o elo entre as facções, mas não teve resposta. O espaço segue aberto e a reportagem será atualizada.