Caso Bruno Henrique: MP e PF monitoraram jogos do Flamengo e cogitaram abordar jogador na concentração
Autoridades tiveram 2 mandados de apreensão negados pela Justiça. Conheça a estratégia adotada pela investigação e desafios para chegar ao atacante
Derick Toda
Alan Covas
Uma das dificuldades da operação do Ministério Público (MP) e da Polícia Federal (PF) contra o atacante Bruno Henrique, suspeito de provocar um cartão amarelo para se beneficiar de apostas esportivas no jogo entre Flamengo e Santos, no Brasileirão de 2023, foi justamente a dinâmica da vida de jogador.
As autoridades não tinham a certeza do local que o atleta estaria pela agenda de viagens esportivas do rubro-negro. O SBT News teve acesso à investigação e mostra a estratégia do trabalho policial.
Para o cumprimento dos doze mandados de busca e apreensão e a atuação conjunta do MP e PF, na terça-feira (5), a investigação monitorou a tabela de partidas do time carioca.
O objetivo era realizar a apreensão do celular do jogador "em alguma janela de oportunidade" que Bruno Henrique estivesse em casa, "antes ou após algum jogo do Flamengo", no Rio de Janeiro, segundo o documento do MP.
Como solução para chegar ao atacante, no dia 30 de outubro, o MP e o PF pediram mandados de busca e apreensão para abordar o jogador em qualquer quarto de hotel que ele estivesse e se o encontrassem andando em via pública. O argumento das autoridades partiu do período de "concentração" que antecede partidas, prática comum pelos clubes profissionais.
"Não é incomum que a equipe, assim como várias outras da 1ª divisão do campeonato nacional, se instale, no período de concentração que antecede seus compromissos esportivos, em hotéis, buscando facilitar a participação nesses jogos e facilitar o fluxo das próximas disputas", afirmaram o MP e a PF
Cartão vermelho
No entanto, o juiz Fernando Brandini Barbagalo, na segunda-feira (4), na véspera da operação, negou os pedidos de abordar Bruno Henrique em "qualquer quarto de hotéis" ou na "via pública", considerando a fama do camisa 27 e riscos para mais envolvidos.
Para o juiz, além do pedido em hospedagens ser "demasiadamente genérico", a ação poderia afetar outras pessoas que não estavam relacionadas na investigação, sendo os atletas, funcionários e torcedores no local ou nas imediações.
O representado [Bruno Henrique] é jogador de futebol afamado, atleta de clube nacionalmente conhecido, estando na disputa títulos em campeonatos de nível nacional e a medida, caso autorizada nos moldes propostos, pode afetar outro(s) atleta(s) que esteja dividindo quarto com o Representado e todos os demais atletas e componentes da delegação, além de obviamente ter potencial para causar tumulto no hotel, caso existam torcedores no local ou nas imediações", decidiu o juiz Fernando Brandini Barbagalo.
Já sobre o pedido de parar o atacante na rua, o juiz argumentou que poderia expor o atleta de forma vergonhosa e que caberia as "autoridades verificar o momento mais adequado para obter sucesso" na operação.
Os policiais realizaram a ação nas primeiras horas de terça-feira, acordando o jogador na própria casa, localizada em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
Viagem
Na tarde de terça-feira (6), mesmo investigado, o atacante do Flamengo não foi poupado pelo técnico Filípe Luis e viajou a Minas Gerais para partida contra o Cruzeiro, válido pelo Campeonato Brasileiro, nesta quarta-feira (6).
De acordo com o documento do Ministério Público, Bruno Henrique pode responder por crime de fraude de resultado esportivo e corrupção passiva esportiva.
O que dizem os citados
O SBT News procurou o Flamengo, que informou que não teve os autos do inquérito e que a mesma investigação sobre o tema foi arquivada no âmbito esportivo. Bruno Henrique foi questionado, mas disse que não vai se posicionar.