Niterói praticamente zera casos de dengue com projeto de mosquito modificado
Ideia agora é levar esse método para outras regiões do país, que sofrem com a alta de casos
Soane Guerreiro
Na contramão do cenário alarmante da dengue no país, um município do Rio de Janeiro se destaca pela baixa contaminação. Niterói teve apenas três pacientes com a doença neste ano, enquanto o estado registrou 12 vezes mais casos.
A cidade adotou um projeto pioneiro que modifica o mosquito transmissor da dengue. A ideia agora é levar esse método para outras regiões do país.
Wolbito é o apelido do inseto capaz de combater a proliferação da dengue. É o mesmo mosquito que transmite a doença, com uma diferença: ele foi modificado em laboratório para poder carregar uma bactéria que não oferece riscos ao ser humano, a wolbachia.
Na década passada, cientistas australianos descobriram que a wolbachia bloqueia o vírus da dengue. Começaram, então, esforços no mundo todo para enfrentar a doença com uma nova tecnologia.
No Brasil, pesquisadores da Fiocruz retiraram a wolbachia de um outro inseto, a mosca da fruta, e a injetaram no "aedes aegypti" macho. Com isso, depois de acasalar, a fêmea receberia a bactéria e passaria a gerar filhotes incapazes de transmitir a dengue.
A experiência começou a ser testada em Niterói, há oito anos. Para dar certo, foi preciso repetir o processo muitas vezes, e a imagem de agentes sanitários liberando os wolbitos nas ruas se tornou comum.
No ano passado, o programa finalmente atingiu os 52 bairros de Niterói. Isso quer dizer que a cidade se tornou a primeira do país totalmente protegida pelo mosquito modificado. O resultado já foi sentido agora em janeiro: o município fluminense praticamente zerou a incidência de dengue.
Foram apenas três casos em janeiro, enquanto, em todo o estado do rio, o número de doentes passou de 17 mil -- 12 vezes mais do que o registrado no mesmo período em 2022.
Agora, a Fiocruz pretende levar o método para outros seis municípios brasileiros: Joinville, Foz do Iguaçu, Londrina, Presidente Prudente, Uberlândia e Natal. Os wolbitos devem começar a ser liberados até o fim do semestre./