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Brasil

Neguinho da Beija-Flor anuncia aposentadoria após o Carnaval do Rio

Compositor e cantor está à frente da escola de samba de Nilópolis há mais de 50 anos

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Após 50 anos, Neguinho da Beija-Flor aposenta microfone e deixará escola de samba após desfile de 2025 | Divulgação/Redes sociais
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O cantor, compositor e voz oficial da Escola de Samba Beija-Flor, Neguinho da Beija-Flor, anunciou sua aposentadoria do Carnaval no Rio de Janeiro.

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À frente da agremiação de Nilópolis por mais de cinco décadas, o artista declarou que vai "pendurar as chuteiras" após o desfile de 2025.

“Já entreguei minha carta à escola. Farei meu último desfile em homenagem ao Laíla, que gravou meus discos no início da minha carreira e foi um parceiro nesses desfiles campeões que tivemos na Beija-Flor”, disse em entrevista à revista Feras do Carnaval.

O compositor também expressou seu amor pela tradicional escola de samba, reafirmando que continuará torcendo mesmo após deixar o microfone da agremiação.

“É melhor parar voando. Indiscutível minha paixão e amor pela Beija-Flor. Continuarei amando e torcendo pela minha escola, respeitando todos esses mais de cinquenta anos de convivência com o Sr. Anísio e toda a minha comunidade.”

Otimista, Neguinho da Beija-Flor ainda espera fazer um desfile marcante para a escola de Nilópolis, encerrando sua trajetória da mesma forma que começou: com uma vitória.

“Vamos fazer um belíssimo desfile e que sejamos campeões em 2025, para que eu possa pendurar minha chuteira da pista com o caneco nas mãos, assim como foi no ano em que entrei, conquistando a vitória.”

De Neguinho da Vala para Neguinho da Beija-Flor

“É melhor parar voando. Indiscutível minha paixão e amor pela Beija-Flor, continuarei amando e torcendo pela minha escola", diz Neguinho | Divulgação/Redes Sociais
“É melhor parar voando. Indiscutível minha paixão e amor pela Beija-Flor, continuarei amando e torcendo pela minha escola", diz Neguinho | Divulgação/Redes Sociais

Luiz Antônio Feliciano, então conhecido como Neguinho da Vala, foi contratado pela Beija-Flor de Nilópolis em 1975.

Ele se destacou no ano seguinte, em 1976, puxando o desfile com o tema "Sonhar com Rei Dá Leão", produzido por Joãosinho Trinta, uma homenagem ao jogo do bicho, que rendeu o primeiro título da agremiação da Baixada Fluminense.

Desde então, Neguinho se tornou a voz oficial da Beija-Flor, liderando a escola em 14 títulos no Carnaval do Rio de Janeiro.

Leia abaixo a carta de despedida aos fãs:

À minha amada Beija-Flor
O desfile de 2025 marcará minha despedida como intérprete de seus hinos na Passarela do Samba. No próximo Carnaval, escreverei, com a comunidade nilopolitana, o ponto final da trajetória cinquentenária, tempo de muita felicidade e alegria. Vamos atravessar a Passarela do Samba pela derradeira vez, eu com a minha voz e o orgulho de sempre, sustentando a força e a magia de nossa comunidade que brilha no altar dos bambas. Será mais um momento de nosso amor eterno.
Lembro emocionado, querida escola, do início dessa história, quando cheguei jovenzinho para participar da disputa de samba, no inesquecível “Sonhar com rei dá leão”. Joãosinho Trinta, também recém-chegado, criara o enredo sobre o jogo do bicho e eu, então Neguinho da Vala, sonhava entrar para a ala de compositores. O saudoso carnavalesco permitiu que eu tentasse - e deu certo. Com o samba composto por mim, fomos campeões.
De lá para cá, você ganhou 14 carnavais, e me concedeu o privilégio de estar presente em todos. Fomos tricampeões duas vezes, levamos o Cristo mendigo coberto pela censura, na imagem mais conhecida do Carnaval. E o mais importante: inserimos a Beija-Flor de Nilópolis na história da maior festa popular do Brasil. Em lugar de protagonista.
Consolidou-se a Maravilhosa e Soberana, como está no nosso hino-exaltação, “Deusa da Passarela”, que tive a honra de compor. E virou seu merecido apelido no planeta Carnaval.
Por você, venci o câncer, cantando na avenida ainda sob tratamento. Tenho fé que me curei graças a Deus e ao abençoado remédio do Carnaval. Nunca esquecerei como a comunidade me recebeu, na volta aos ensaios, em nossa quadra sagrada. O aplauso e a montanha de carinho estão para sempre tatuados na memória.
Por isso e muito mais, jamais cogitei receber salário da Beija-Flor. Nunca assinei contrato nem me submeti a qualquer burocracia. Nossa relação é única e dispensa protocolos. Costumo repetir que se alguém deve algo, sou eu a você, minha escola. Tenho muito orgulho de carregá-la em meu nome oficial, o da carteira de identidade: Luiz Antonio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.
Guardo como um tesouro a primeira carteira de integrante da ala de compositores. Está lá a data, 11 de junho de 1975, do começo de tudo. Dos companheiros originais, ainda estão aqui o patrono Anísio Abrahão David e a querida Pinah. Começamos juntos a aventura de conduzir uma pequenina escola da Baixada Fluminense ao panteão das gigantes de nossa cultura popular. E chegamos lá, com a participação de muitos outros sambistas que vieram depois e seguirão rumo ao futuro.
Chegou a minha hora. Em 2025, cantarei a exaltação de meu parceiro Laíla – a quem conheci ainda antes do primeiro Carnaval, na lendária roda de samba do Bola Preta –, como epílogo dessa odisseia que durou meio século de folia e felicidade. Superou muito meus melhores sonhos. E continuarei lhe amando. Você pode contar comigo por toda a eternidade.
Obrigado por tudo, minha escola, minha vida, meu amor.
Olha a Beija-Flor aí, gente!

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