Moradores de SP protestam contra Enel após 5 dias sem energia elétrica
Manifestantes relatam perda de alimentos, falta de água e prejuízos financeiros; Enel disse que vai retomar a energia até o fim deste domingo (14)


Ana Medeiros
Moradores da Grande São Paulo protestaram neste sábado (13) contra a falta de energia elétrica após o forte vendaval que derrubou milhares de árvores, danificou a rede elétrica e deixou mais de 2,2 milhões de imóveis sem luz. Conforme o balanço mais recente da Enel, responsável pelo abastecimento de energia no estado, 167.784 clientes continuam sem energia elétrica, sendo 117.569 só na capital.
No bairro Jardim do Carmo, em Itapecerica da Serra, manifestantes se reuniram na Avenida José Simões Louro Júnior em protesto às dificuldades enfrentadas pela falta de luz. Testemunhas relataram perder alimentos, como arroz, feijão, leite e outros produtos perecíveis que estavam na geladeira.
Uma moradora relatou que o marido, deficiente visual e dependente de insulina, está com a saúde em risco, já que o medicamento precisa ser armazenado em geladeira. Com a falta de energia, o armazenamento adequado do remédio ficou comprometido.
A energia na região chegou a ser restabelecida por volta das 2h30 da madrugada de quarta (10), segundo moradores, mas voltou a cair ainda pela manhã, por volta das 10h, e não retornou. A Enel orientou os moradores a aguardarem os prazos de restabelecimento – que, conforme testemunhas, não foram cumpridos.
Durante o ato, moradores atearam fogo nas ruas como forma de chamar a atenção para a situação. Viaturas da Polícia Militar estiveram no local. Não houve registro de feridos nem de prisões.
Protestantes também falaram da ausência de sinal de telefonia e de dificuldades de comunicação, já que o bairro é afastado da região central. Com o calor e a escuridão, o aumento de insetos e animais peçonhentos também preocupa. Casos de cobras e aranhas dentro das casas já foram relatados, o que aumenta o medo, especialmente entre famílias com crianças.
Em Jardim Emburá, no extremo sul de São Paulo, a manifestação ocorreu nas regiões da Vila São Pedro e Marsilac, incluindo a Praça Jacob Adão Filho. Segundo os relatos, a interrupção no fornecimento atinge a área desde terça (9).
De acordo com a moradora Armênia Camargo, carros da Enel foram vistos parados nas ruas, e agentes informaram que o problema estava sendo resolvido, mas não apresentaram protocolos de atendimento. Ela diz que as equipes só passaram a atuar após a repercussão do caso e a realização dos protestos.
A região não conta com abastecimento de água encanada, e muitas famílias dependem de poços artesianos. Sem energia, as bombas não funcionam, obrigando os moradores a retirar água manualmente com baldes.
Moradores da Estrada Engenheiro Marsilac, nº 4986, na zona sul da capital paulista, já realizaram ao menos três manifestações para cobrar providências da concessionária responsável pelo fornecimento.
A denunciante Belmira Alves contou que o esposo, que é pequeno comerciante, está com o estabelecimento fechado há cinco dias e teve perdas no freezer, o que gerou prejuízo financeiro e transtornos à família. Ela também afirmou que, caso a luz não seja restabelecida até o dia seguinte, novos protestos devem ser realizados.
O que diz a Enel
A Enel afirmou que vai normalizar o fornecimento de energia em todo o estado de São Paulo até o fim deste domingo (14). O comunicado veio logo após a Justiça de São Paulo determinar que a empresa restabeleça imediatamente o serviço em áreas afetadas, sob pena de multa de R$ 200 mil por hora de descumprimento.
Além da religação da energia, o Judiciário determinou que a empresa assegure canais de atendimento plenamente funcionais, sem barreiras tecnológicas que impeçam os consumidores de registrar a falta de luz. A medida inclui a garantia de protocolos e comprovantes digitais das reclamações.
O despacho também alerta que o descumprimento da ordem poderá resultar em sanções mais severas, como bloqueio de valores, intervenção judicial na concessionária e apuração de responsabilidades civil e criminal.
Como pedir ressarcimento pela falta de energia
A demora para o restabelecimento garante ao consumidor o direito de pedir ressarcimento por prejuízos causados, como eletrodomésticos queimados, alimentos e medicamentos estragados.
O SBT News produziu, abaixo, um passo a passo para quem precisa reclamar e exigir o reembolso de prejuízos. Veja como agir.
1. Comece pela concessionária
O primeiro passo é registrar a reclamação diretamente com a Enel, pelos canais oficiais (telefone, site, aplicativo ou posto presencial). Guarde:
- Número de protocolo;
- Data e horário da falta de energia;
- Descrição do dano.
⚠️ É essencial documentar tudo. Tire fotos e vídeos do que foi perdido.
2. Perdeu alimentos ou medicamentos?
Para prejuízos com produtos refrigerados, o consumidor pode pedir ressarcimento. O Procon-SP orienta que os consumidores:
- Fotografem alimentos estragados;
- Guardem embalagens e notas fiscais (se tiver);
- Registrem medicamentos que perderam refrigeração;
- Anexem receitas médicas ou orientações de uso.
Essas provas ajudam a comprovar o dano ao fazer o pedido de reembolso.
3. Equipamentos queimados: atenção ao prazo
Se geladeira, TV, modem, micro-ondas ou outro aparelho queimou devido a oscilação ou queda de energia, a solicitação deve ser feita à Enel em até 90 dias.
A empresa tem 10 dias para vistoriar o aparelho (1 dia se for geladeira ou equipamento que armazene medicamentos). A resposta sobre o pedido deve ser enviada em até 15 dias e o ressarcimento deve ocorrer em até 20 dias.
⚠️ Não conserte o aparelho antes da vistoria, pois isso pode fazer você perder o direito à indenização – a menos que a própria Enel autorize por escrito.
4. Desconto automático na próxima conta
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determina que, quando o serviço fica interrompido acima dos limites regulamentares (de, no máximo, 24 horas), a concessionária deve aplicar um abatimento automático na fatura seguinte, proporcional ao período sem luz.
Por isso, acompanhe sua próxima conta.
5. Moradores que usam equipamentos essenciais à vida
Pacientes que dependem de aparelhos como concentradores de oxigênio, respiradores e máquinas de ventilação não invasiva devem registrar foto ou vídeo do estado do equipamento durante a falta de energia.
Além disso, é importante manter cadastro prévio na distribuidora, para garantir atendimento emergencial prioritário.
6. Se a Enel não resolver: acione o Procon-SP
Caso a concessionária não cumpra prazos, se recuse a ressarcir ou apresente resposta insatisfatória, o consumidor deve reclamar ao Procon-SP. O órgão pode:
- Notificar a empresa;
- Determinar solução imediata;
- Aplicar multa por descumprimento do Código de Defesa do Consumidor.
7. Persistindo o problema: vá à Justiça
Se nem a concessionária nem o Procon resolverem, o consumidor pode buscar o Poder Judiciário, com pedido de indenização por danos materiais (perdas financeiras) e indenização por danos morais.
É importante ter todos os documentos que comprovem os prejuízos: fotos, notas fiscais, protocolos e laudos técnicos.








