Milícia usou mesmo carro para matar Marielle e vigiar ex-presidente da Salgueiro, que também seria morta
O Chevrolet Cobalt tinha as placas trocadas de 15 em 15 dias e foi “destruído” em um desmanche dois dias após o crime
O Chevrolet Cobalt usado no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) estava reservado a outra missão dos mesmos assassinos: vigiar e matar a ex-presidente da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro Reina Celi. A afirmação está em depoimentos prestados por Ronnie Lessa à Polícia Federal, cujos sigilos foram retirados nesta sexta-feira (7) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Segundo Lessa, o assassinato de Regina foi encomendado em razão de disputas pelo comando da escola de samba. A motivação e o mandante eram outros. Não havia, portanto, qualquer relação com a morte de Marielle, exceto pelo fato de Lessa e os comparsas terem sido contratados para ambos, como uma espécie de grupo de extermínio. O assassinato de Regina não chegou a ser efetivado.
O primeiro carro desapareceu
Lessa disse que, inicialmente, o grupo usava dois carros diferentes. Um para Marielle. Outro para Regina. Mas o carro destinado à morte de Regina teria desaparecido após ficar uma semana estacionado em um mesmo local. Lessa afirmou não saber se o veículo foi levado por ladrões ou se foi encontrado e recolhido pela policia, tendo em vista que também era de origem ilícita.
+ Marielle era “pedra no caminho” para loteamento irregular, disse Lessa à PF
Por isso, o Cobalt empenhado no monitoramento e morte de Marielle passou a servir também aos planos de matar Regina. Mas, para evitar um novo sumiço, o bando passou a “movimentar” com maior frequência o carro que sobrou.
“O vizinho olha pela janela e fala que esse carro tá [há] mais de uma semana aqui. Ele vai chamar a viatura. A viatura não vai só pela placa, ela vai chegar perto do carro e vai ver pela gravação do vidro e vai levar”, declarou Lessa à PF, em referência à precaução adotada pelo grupo.
Troca das placas e adesivo da “Apple”
De acordo com Lessa, o grupo providenciou dois jogos de placas. “Um ficava acoplado e um dentro do carro. De 15 em 15 dias, mais ou menos, eram trocadas pra dar uma maquiada. Após um crime o outro, essa placa teria que ser trocada quase que de imediato”, declarou Lessa.
Além de trocar a placa, a estratégia era colar na tampa traseira um adesivo da “Apple” que ficava no porta-luvas, pra dar uma “descaracterizada” no veículo. “Então, se por acaso a Regina fosse o alvo eliminado antes da vereadora Marielle, essa placa seria trocada. Essa placa que cometeu o crime seria destruída. E o carro passaria a ser um novo carro com um novo jogo. Aí seria providenciado um terceiro jogo”, complementou Lessa.
Pra “evaporar, era dar na mão do Orelha”
Dois dias após a morte de Marielle, o bando passou o carro para um homem conhecido como “Orelha”. Por coincidência, Orelha já havia sido preso no passado pelo próprio Ronnie Lessa, quando este era Policial Militar. “Se quiser fazer um carro evaporar, era dar na mão do Orelha. Ele tinha esse talento”, falou Lessa à PF.