Mãe critica escola de Salvador por uso de livro antirracista
Obra de Djamila Ribeiro é usada em aulas de ensino religioso. Colégio jesuíta defende que o combate ao racismo reforça valores cristãos
A mãe de um aluno do Colégio Antônio Vieira, em Salvador, usou suas redes sociais para criticar a escolha do livro "Pequeno Manual Antirracista, da filósofa Djamila Ribeiro, para as aulas de ensino religioso da instituição. Em outra publicação, a mulher ainda destaca o fato da escritora ser candomblecista, o que, segundo ela, não tem "conexão com a fé católica".
Com a repercussão, a mãe do estudante apagou as postagens no Instagram. O colégio e a escritora se pronunciaram sobre o caso.
O que aconteceu: Em uma primeira publicação, a mãe de um estudante do 8° ano do Colégio Antônio Vieira, na capital baiana, questionava o uso do livro da filósofa Djamila Ribeiro nas aulas de ensino religioso. "A aula é de culto à servidão de ideologias?", escreveu na legenda de uma foto que mostrava a capa da obra.
A mulher aproveitou para compartilhar um trecho da biografia da autora, em que está destacado que Djamila foi iniciada no Candomblé aos 8 anos.
"O que esperar de uma aula de religião em um colégio católico? Não seria apenas a palavra de Deus, o código canônico, as histórias de virtudes dos mártires, mandamentos? Qual é o sentido e o objetivo de utilizar uma autora que vem de família de outra religião, no caso específico candomblé? Existe qualquer conexão com a fé católica?", questiona ainda. Para a mãe, o uso do livro é uma "imposição ideológica" e uma "doutrinação escancarada".
Quem é Djamila Ribeiro: Djamila Ribeiro, de 43 anos, é uma filósofa brasileira, escritora, feminista negra e professora universitária. Mestra em Filosofia Política pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ela é autora de livros como "Lugar de Fala" e "Quem tem medo do feminismo negro". Suas obras já foram traduzidas para inglês, espanhol, italiano e francês.
"Pequeno Manual Antirracista" foi o livro mais vendido no Brasil em 2020 e ganhou o Prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas. Nele, em poucas páginas, a escritora trata de temas como a negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos.
Escritora se pronunciou: Em seu Instagram, Djamila Ribeiro afirmou que o livro é adotado por diversas escolas em todo o país, contribuindo para uma pedagogia antirracista. "Parabenizo a escola por trabalhar para ampliar a conscientização dos alunos e alunas", disse ela.
A filósofa lembra que Salvador é a capital com maior população negra no Brasil e defendeu que a mãe do estudante "precisa estudar sobre o contexto social e racial do país".
O que disse o colégio: Em nota, o Colégio Antônio Vieira afirmou que é preciso garantir o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil. O livro foi escolhido, segundo o diretor-geral Sérgio Silveira, por reforçar os valores cristãos.
"É justo afirmar que o cristão, por sua vocação, é também convocado a ser antirracista, a sensibilizar-se e a engajar-se no combate e denúncia de todas as formas de racismo, tanto dentro do contexto eclesial quanto na sociedade em geral", diz a nota.
