Gritzbach delatou negociação de jogadores de futebol e pediu perdão de pena em denúncia contra o PCC
SBT News teve acesso à integra da delação premiada homologada pela Justiça; confira o acordo sugerido pelo Ministério Público de São Paulo
O SBT News teve acesso à delação premiada de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, o empresário jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP), na sexta-feira (8).
Ao jornalismo do SBT, advogados disseram acreditar que o acordo motivou a morte do empresário.
Segundo o documento, que tem quase mil páginas, Gritzbach procurou o Ministério Público para a colaboração premiada, comprometendo-se a detalhar a “revelação da estrutura hierárquica, da divisão de tarefas e modus operandi” da organização criminosa PCC, além de delatar delegados e policiais corruptos.
Benefícios de Gritzbach
Com o acordo, o Ministério Público pediu que Justiça beneficiasse Gritzbach com o concedimento de perdão para o delito de crime organizado, redução de 1/3 da pena na condenação de lavagem de dinheiro e cumprimento da sentença em regime inicial aberto, entre outras vantagens.
Além disso, o Ministério Público destacou que o programa de proteção federal para o delator não era obrigatório, mas que Gritzbach o poderia solicitar. Em contrapartida, para assinar a delação, o empresário precisou pagar R$ 15 milhões para a Fazenda Pública do Estado de São Paulo.
O acordo foi homologado pela Justiça em 19 de junho deste ano.
Lavagem de dinheiro
De acordo com o documento, o empresário, dono de uma das principais imobiliárias de São Paulo, entregou ao Ministério Público conversas com supostos integrantes do PCC e acordos firmados por meio de contratos milionários.
No esquema de ocultação de bens, os imóveis de luxo seriam passados para o nome de "laranjas", como no caso da venda de uma casa de 630m², avaliada em R$ 2,2 milhões, em Riviera de São Lourenço, Bertioga, São Paulo.
PCC Futebol Clube
Além da lavagem de dinheiro com imóveis, o Primeiro Comando da Capital pode ter usado dinheiro do tráfico de drogas em negociações de jogadores de futebol que atuam em grandes clubes brasileiros e internacionais, segundo a delação.
Antônio Vinicius Lopes Gritzbach entregou para as autoridades contratos de jogadores agenciados por ao menos três empresas que seriam de integrantes da facção, comprovantes de taxas de pagamento de transferências para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e para a Federação Paulista de Futebol (PFP), além de mensagens de Whatsapp em que os suspeitos comemoravam por acordo feito com jogadores e clubes.
De modo geral, os atletas eram pagos com o dinheiro ilegal e, quando o contrato era fechado, os criminosos recebiam a comissão em dinheiro limpo, efetivando lavagem dos valores.
Nomes como Emerson Royal (Milan), Eder Militão (Real Madrid), Guilherme Biro (Corinthians), Eduardo Queiroz (Grêmio, na época Corinthians), Murillo Santiago (Nottingham Forest, na época Corinthians), estão entre os supostos agenciados, além de jogadores de times menores.
Veja as mensagens:
Quem são os integrantes do grupo do zap?
Danilo Lima de Oliveira, conhecido como "Tripa", seria um dos responsáveis por transferir Éder Militão, jogador da seleção brasileira e do Real Madrid.
Na delação, Gritzbach citou Rafael Maeda Pires, o "Japa", que também agenciava jogadores e teria tirado a própria vida em maio do ano passado. Porém, a polícia suspeita que ele tenha sido obrigado a cometer suicídio por membros da facção.
Outro lado
O São Paulo Futebol Clube optou por não se manifestar sobre o caso e a diretoria do Sport Club Corinthians Paulista expressou surpresa ao tomar conhecimento das denúncias de que atletas, supostamente agenciados por integrantes do crime organizado, teriam firmado contratos com o clube. A diretoria ressaltou que, segundo as reportagens, esses contratos teriam sido celebrados antes da gestão atual.
O Corinthians reafirmou sua disposição em colaborar com as autoridades, fornecendo documentos e esclarecimentos necessários para a completa apuração dos fatos.
O Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense declarou que não tem nada a comentar sobre o caso, afirmando que a questão não diz respeito ao clube.
Rodrigo Paiva, representante da CBF, comentou que a Confederação não tem envolvimento direto com os processos de inscrição de jogadores nas competições organizadas pela entidade, esclarecendo que a responsabilidade por esses processos recai sobre os clubes e seus agentes, que precisam ser regulamentados pela Fifa, a Federação Mundial de Futebol. Paiva destacou que a CBF não foi citada nas investigações até o momento.