Falsas teorias: "campo magnético da Terra" não tem relação com tragédias aéreas
Publicações em redes sociais relacionam quedas de aeronaves à Anomalia Magnética do Atlântico Sul; especialistas desmentem ligação de fenômeno a acidentes
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Simone Queiroz
Natalia Vieira
Nos últimos meses, diversos acidentes aéreos ganharam destaque, reacendendo a preocupação com a segurança da aviação. Além da tragédia em si, outro fenômeno sempre surge nessas situações: as teorias da conspiração. Postagens em redes sociais sugerem que as recentes quedas de aviões e helicópteros estariam relacionadas ao crescimento da Anomalia Magnética do Atlântico Sul. No entanto, essa informação é falsa.
A anomalia existe, mas não tem relação com falhas nos sistemas de navegação das aeronaves. Como muitas fake news, essa teoria se aproveita de um tema científico pouco compreendido para espalhar medo e desinformação.
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O que é a Anomalia Magnética do Atlântico Sul?
O campo magnético da Terra funciona como um escudo invisível, protegendo-nos de partículas carregadas vindas do espaço. No entanto, há uma região onde essa proteção é mais fraca: a chamada Anomalia Magnética do Atlântico Sul, que abrange parte do território brasileiro.
Estudos indicam que essa anomalia está crescendo, mas esse processo ocorre de forma extremamente lenta, ao longo de séculos. No Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo (IAG/USP), especialistas esclarecem que não há motivo para preocupação.
"A anomalia é muito bem conhecida e varia muito lentamente com o tempo. Conseguimos observar mudanças ao longo dos anos, mas elas não afetam nosso cotidiano", explica Daniele Brandt, professora doutora do IAG/USP.
GPS e navegação aérea
Outro argumento frequentemente levantado nas publicações falsas é o de que a anomalia interferiria nos sistemas de navegação aérea. No entanto, especialistas mais uma vez desmentem essa alegação. Caso do instrutor de voo Armando Italo Nardi.
"Isso é falso. O GPS não depende do campo magnético terrestre", esclarece um instrutor de voo. Para demonstrar isso, ele realizou um teste em um simulador de voo, utilizando coordenadas para deslocamento entre dois aeroportos no interior de São Paulo. "Os aviões seguem pontos imaginários de navegação, localizados por satélites em órbita da Terra", complementa.
Mesmo que as aeronaves dependessem apenas de bússolas - que utilizam o campo magnético para apontar o norte -, os especialistas garantem que a anomalia não afetaria sua precisão.
E a inversão dos polos magnéticos?
Outra teoria disseminada afirma que os polos magnéticos da Terra - sul e norte - estariam se invertendo, o que causaria falhas nos equipamentos de navegação. Entretanto, essa afirmação também não se sustenta.
"Não está acontecendo nenhuma inversão. E mesmo que ocorresse, seria um processo que levaria cerca de 10 mil anos", explica a dra. Daniele, professora da USP.
Diante de tantas especulações infundadas, é preciso reforçar a checagem de informações antes de compartilhá-las. E para terminar o recado de quem realmente entende do assunto:
"Podemos viajar tranquilos. Voar continua sendo um dos meios de transporte mais seguros do mundo", finaliza a professora.