Empresas testam semana de 4 dias e relatam ganhos em saúde e produtividade
Especialistas alertam que é preciso equilibrar os desejos dos trabalhadores com as demandas de cada setor para não causar prejuízos à economia
Bruna Carvalho
A discussão sobre o fim da escala seis por um coloca, frente a frente, o impacto na economia e a melhora da qualidade de vida dos trabalhadores. Na esteira deste debate, empresas vêm testando uma jornada de quatro dias de trabalho por semana e relatam benefícios na saúde dos funcionários e até na produtividade.
A ideia da semana de trabalho reduzida surgiu na Nova Zelândia e ganhou força em diversos países. No Brasil, a Renata Rivetti decidiu trazer um projeto piloto que testa os efeitos da jornada semanal de quatro dias de trabalho.
“Trabalhamos muito, mas nem sempre bem. A gente tem um excesso de informação, muitas reuniões, muita comunicação e, quando percebe, vive num ritmo super acelerado, mas parece que nunca está fazendo o que realmente tem que fazer”, explica Renata, que é embaixadora do projeto piloto.
Ao todo, 20 empresas participaram da iniciativa, reduzindo a carga horária semanal. Depois de um ano, os resultados apontam que 88,7% dos trabalhadores se sentem mais satisfeitos no trabalho. Cerca de 84,8% relatam ter mais energia e 84,1% afirmam que a nova jornada é boa ou excelente para a saúde mental, com redução de quadros de insônia e ansiedade.
Por outro lado, especialistas alertam que é preciso equilibrar os desejos dos trabalhadores com as demandas de cada setor. Um estudo da FGV Ibre simulou como a redução da jornada de 44 para 36 horas afetaria a economia brasileira. A pesquisa indica uma queda de pelo menos 6,2% no Produto Interno Bruto (PIB), com impactos mais significativos nos setores de transporte (-14,2%) e comércio (-12,2%).
“O problema são justamente aqueles setores nos quais a jornada de trabalho, se reduzida, vai impactar muito no produto. E, em alguns casos, pode inclusive reduzir o ganho do trabalhador”, explica Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da FGV Ibre.
No Rio de Janeiro, uma empresa que aderiu ao projeto piloto precisou se adaptar. A equipe passou por testes até aprovar as mudanças. Para manter a produtividade, os próprios funcionários desenvolveram um aplicativo que organiza a nova escala de trabalho. Cada colaborador preenche o dia de folga que terá na semana.
“Eu consigo ter esse momento para relaxar com a minha família e volto depois, no outro dia, cheio de energia para poder entrar nas atividades e entregá-las da melhor forma possível”, conta o desenvolvedor Gabriel Santana.