Dois milhões de crianças e adolescentes têm TDAH no Brasil; como identificar?
Evento no Rio Grande do Sul forma educadores para identificar sintomas do transtorno e apoiar famílias e alunos
Lenise Slawski
Cerca de dois milhões de crianças e adolescentes brasileiros têm Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Os sintomas podem ser confundidos com mau comportamento dentro de sala de aula. Para mudar essa realidade, professores estão recebendo capacitação para identificar os sinais e apoiar alunos e famílias.
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Em Porto Alegre, a professora Kelly Dalariva conta que a vida do filho Benício, de 8 anos, só mudou depois do diagnóstico. “Nas escolas sempre nos repassaram que não, que ele não tinha nada, que conheciam muito bem crianças autistas e com TDAH, e que o Benício não tinha nada. Depois que a gente começou o tratamento, com as terapias e a medicação regulada, a nossa vida mudou completamente”, relatou.
Segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção, cerca de 5% das crianças no país apresentam o transtorno, o que equivale a dois milhões de pessoas com menos de 14 anos. Porém, apenas 20% recebem tratamento adequado. Especialistas reforçam que quanto mais cedo o diagnóstico, melhores são os resultados.
O psiquiatra Vítor Rocco Torrez explica que a falta de compreensão sobre o transtorno ainda é um obstáculo. “As pessoas muitas vezes consideram essas crianças como malcriadas, como problema de comportamento, a criança agitada, em se livrar daquela criança. Quando, na verdade, se a gente entender que pode ter uma patologia, identificar e começar a tratar corretamente, a gente redireciona a vida dessa criança. A inteligência está ali”, destacou.
Para ampliar o debate, o Rio Grande do Sul recebeu pela primeira vez o evento “TDAH Levado a Sério”, que reuniu mais de 100 educadores de escolas públicas e privadas. A proposta foi capacitar professores para compreender comportamentos em sala de aula e adotar estratégias de apoio.
“Ao levar informações científicas de qualidade e capacitar professores, conseguimos promover a identificação precoce e aplicar estratégias que reduzem o impacto do transtorno na vida escolar. Isso garante qualidade de vida muito melhor e evita barreiras graves no futuro”, explicou Iane Castelmann, representante da Associação Brasileira de Déficit de Atenção.
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A professora Larissa Lorenzoni, que participou da formação, acredita que o trabalho conjunto com a família é essencial. “A gente precisa também alinhar estratégias com a família para que essa criança consiga, tanto na escola quanto em casa, ter uma vida organizada, com uma rotina que dê segurança. Isso é algo que aparece muito no TDAH”, afirmou.