Projeto no Pará incentiva o cultivo sem fogo
Agricultores de Tomé-Açu são treinados para substituir queimadas por técnicas mais sustentáveis
Mayra Leal
No Pará, um projeto desenvolvido pela Embrapa está promovendo o cultivo sem uso de queimadas. O "Projeto Tipitamba", implementado em Tomé-Açu, na região nordeste do estado, usa uma técnica em que uma máquina derruba a vegetação secundária, conhecida como capoeira, e um trator tritura a vegetação, transformando-a em adubo natural. Essa prática torna o solo mais fértil e saudável, pronto para receber o plantio.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, Osvaldo Kato, essa abordagem aumenta a capacidade produtiva e a sustentabilidade do sistema agrícola. Além de ser menos agressiva ao meio ambiente, a técnica é mais rápida. Enquanto a queima de um hectare pode levar até 30 dias, o uso da mecanização e trituração reduz o tempo para cerca de quatro horas.
Flavio Santos, representante comercial, destacou a eficiência do novo método. Ele afirmou que é possível preparar de dois a três hectares por dia, deixando a área pronta para o plantio.
A iniciativa também está sendo compartilhada com a comunidade local. A Camta, Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu, está recebendo treinamento para adotar essas técnicas de cultivo, evitando o uso de fogo.
Segundo Lucas Braga, técnico agrícola, embora nem todos os agricultores ainda tenham acesso a essa tecnologia, a expectativa é de que, com o tempo, a prática das queimadas diminua significativamente, reduzindo a poluição e o desmatamento na região.
Outra alternativa sustentável adotada na região é o Sistema Agroflorestal (SAF), que promove o cultivo dapalmeira de dendê, em conjunto com diversas espécies como a bananeira, açaí, cacau e andiroba, em substituuição a monocultura. Ernesto Suzuki, produtor rural, destaca a importância do SAF não só pela produtividade do dendê, que pode ser igual ou superior ao monocultivo, mas também pelo rendimento de outras culturas, gerando uma fonte de receita diversificada para os produtores.
Após o processamento, a produção de dendê se transforma em óleo, enquanto as frutas tropicais são comercializadas pela cooperativa para outras regiões do Brasil e países como Japão, Estados Unidos e da Europa.
Os produtores também têm acesso a tecnologias para monitorar o plantio. Uma torre instalada no local coleta dados sobre temperatura, umidade, velocidade do vento e radiação solar, auxiliando no manejo e na melhoria da produção. Esse monitoramento é uma parceria entre a Embrapa e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
A previsão é de que até 2035 sejam plantados 40 mil hectares de sistema agroflorestal com dendê, sem o uso de queimadas. Vicente Morais, coordenador de projetos da Camta, afirma que o objetivo é eliminar por completo o uso de queimadas na preparação das áreas de cultivo dos cooperados.