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Raio-x do Enem: os vazamentos do exame desde sua reformulação há 14 anos

Desde 2020, teste passou a ser impresso pela mesma gráfica onde prova foi roubada em 2009; procurada, ela não confirmou se adota novos protocolos de segurança

Raio-x do Enem: os vazamentos do exame desde sua reformulação há 14 anos
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O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) teve seu 1º dia de prova realizado no último domingo (05.nov), com suspeitas de vazamento no decorrer do teste. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação do exame, acionou a Polícia Federal (PF) para investigar a divulgação de imagens da prova nas redes sociais.

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Inicialmente, o Enem foi instituído para analisar o desempenho escolar dos estudantes ao término do Ensino Médio, em 1998. Depois, em 2009, passou a ser utilizado como um dos principais mecanismos de acesso ao Ensino Superior. No primeiro ano da reformulação, ocorreu um escândalo envolvendo o roubo das provas da Gráfica Plural, dois dias antes da aplicação do teste.

Na época como Ministro da Educação, Fernando Haddad decidiu suspender a realização do Enem, que foi remarcado para dois meses depois e Reynaldo Fernandes, presidente do Inep à época, deixou o cargo. Também naquele ano, parte das principais universidades do país, como USP e Unicamp, desistiram de adotar o exame como parte da nota do vestibular.

A multinacional RR Donnelley, que decretou falência em 2019, foi a responsável por imprimir desde então. A empresa ficou responsável pelo Enem por mais 10 anos. A Plural chegou a denunciar a empresa concorrente por um suposto esquema de favorecimento através da Valid S.A, que perdeu a licitação em 2020.

Em 31 de julho de 2020, a Gráfica Plural retornou como responsável pela impressão do Enem, após ser a "instituição que apresentou a melhor oferta no pregão e assumiu a responsabilidade do processo gráfico do exame", de acordo com o Inep. Ela apresentou uma proposta de R$ 63 milhões, enquanto a Valid, que também se envolveu em polêmicas em 2019, ofereceu R$ 93 milhões pelo mesmo serviço.

Ainda segundo o Instituto, na época do vazamento das provas não eram exigidos alguns requisitos de segurança, como os que tratam, basicamente, da gestão do sistema de segurança da tecnologia gráfica, segurança da informação e gestão em qualidade. Procurada pela reportagem, a Gráfica Plural não se posicionou sobre as mudanças em segurança e qualidade adotadas desde 2009 e disse que o contrato para imprimir o Enem vai até 2024, com possibilidade de renovação.

No decorrer dos anos, além de 2009, houve vazamento da prova em 2010, 2011, 2014 e 2016 antes do início da aplicação, mas o exame não chegou a ser cancelado, suspenso ou adiado.

Na edição deste ano, ocorreu a mudança da banca aplicadora do exame. Realizado de 2017 até 2022 pela Fundação Cesgranrio, a função foi assumida pela Cebraspe (Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos) este ano. após apresentar a melhor oferta no pregão e assinar contrato com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Confira o histórico de vazamentos do Enem desde 2009:

2009: A prova foi roubada da Gráfica Plural, envolvidos foram indiciados, a prova adiada e o então presidente do INEP deixou o cargo

2010: Tema de redação vazou antes do início da prova e houve problemas na elaboração do teste, com questões repetidas e faltando informações

O tema de redação vazou horas antes do início da prova. Caso aconteceu em Remanso, na Bahia. Segundo a Polícia Federal, uma mulher que seria uma das aplicadores viu o caderno de redação duas horas antes e, por meio do marido, avisou o filho, que faria o exame em Petrolina, em Pernambuco.  

A prova também apresentava problemas de elaboração. Um dos cadernos de prova continha questões repetidas e faltantes, além de cabeçalhos trocados nas folhas de respostas.  

A justiça chegou a pedir a suspensão do exame de 2010, mas a Advocacia-Geral da União (AGU) conseguir manter a prova através de recurso. 

2011: 14 questões anuladas para 639 estudantes do Colégio Christus, em Fortaleza

Na edição de 2011, ocorreu o vazamento de 14 questões para estudantes do Colégio Christus, em Fortaleza, no Ceará. Todos os alunos da instituição tiveram as respectivas perguntas anuladas. Na época, o Ministério Público Federal (MPF) chegou a solicitar que o exame fosse anulado para todos os candidatos no Brasil, mas a Justiça do Ceará não aceitou o pedido. 

No ano seguinte ao vazamento, um professor e um funcionário que aplicou a prova foram indiciados por estelionato. As investigações foram realizadas pela Polícia Federal, que não concluiu a origem das perguntas vazadas.

2014: Estudante do Piauí recebeu tema de redação antes da prova

Ao descobrir que o tema da redação seria "Publicidade infantil no Brasil" cerca de uma hora antes da prova, um estudante de 17 anos divulgou na época, pelo Facebook, uma tela do WhatsApp com o tema de e denunciou o caso para a Polícia Federal.

A Polícia Federal confirmou o vazamento, mas descartou a possibilidade do exame ter sido roubado da gráfica, como ocorreu em 2009.

2015: Circulação de provas falsas, segundo o Inep

Imagens da prova e da redação circularam no Twitter (atual X) com a frase o "Enem vazou". Estudantes ficaram preocupados com a anulação do exame, mas o Inep informou posteriormente que as imagens eram falsas.

2016: Pessoas presas com tema da redação no Amapá e no Ceará

 Um homem de 31 anos, em Fortaleza, e outro de 34 anos, em Macapá, foram presos com o tema da redação do exame.

2017: Dois candidatos saíram do exame com o caderno de provas antes do horário permitido

Um dos casos foi em Senador Canedo, em Goiás. O candidato teve um surto por conta de uma questão do exame e fugiu com o caderno de prova antes do prazo.

2019: Gráfica sem licitação e prova de redação vazada por um aplicador no decorrer da prova

Um aplicador de prova vazou a foto da folha de redação do Enem 2019 no decorrer da realização do exame. À época, o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que não houve nenhum dano por conta do vazamento. Além disso, nesse ano, a gráfica RR Donnelley, responsável, inclusive, pela contratação da Gráfica Plural em 2009, decretou falência, sendo substuída pela Valid Soluções S.A., com um contrato de R$ 151,7 milhões, sem licitação.

Em entrevista coletiva na época, Weintraub disse "Tivemos o melhor Enem de todos os tempos, tanto em execução, operação e logística, como também em termos de formulação".

2023: Tema da redação circulando no WhatsApp e nas redes sociais durante a realização das provas

Tema da redação do Enem vazou após o início das provas em Pernambuco e no Distrito Federal. A Polícia Federal ainda investiga o caso.

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