Cármen Lúcia critica "faroeste digital" promovido pelas big techs
Para a ministra do Supremo Tribunal Federal, as empresas estão colocando em risco o processo político, econômico e social
Giovanna Colossi
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou, na manhã desta 4ª feira (29.mai), o 'faroeste digital' promovido pelas big techs e afirmou que elas colocam em risco a democracia e o Estado Democrático de Direito. A juíza participou de um evento promovido pelo Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP), em São Paulo, onde palestrou sobre a "dignidade da pessoa humana e o STF".
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"As chamadas big techs transformam e estão nos colocando em risco de transformarem a humanidade, o processo político, o processo econômico, o processo social, por novas formas de dominação", afirmou a ministra.
"Querer que o povo não se liberte por dominação interna e externa era a forma de você escravizar, mas ainda assim as pessoas lutavam. Mas quando te dão uma tela azulada e dizem não preste atenção ao olho do outro e a pessoa acredita nisso, que é o que essas tecnologias fazem racionalmente, objetivamente, pensando no que estão fazendo, e o que querem. Não tenho dúvida que nós temos que pensar inclusive sobre esse judiciário 4.0, porque não há tela plasma que substitua o olhar humano", reforçou e questionou: "Resolvemos que o faroeste digital vai ser bom? O faroeste digital em uma sociedade vai dar em um estado democrático de direito?"
O STF adiou para a segunda quinzena de junho o julgamento sobre o marco civil da internet, que, entre muitos pontos, irá decidir sobre a responsabilidade das Big Techs em relação a conteúdos postados.
Desigualdade de gênero
No evento, que contou com a presença, entre outros, de Patrícia Vanzolini, primeira presidente da Ordem dos Advogados (OAB) de São Paulo; Vanessa Ribeiro Mateus, presidente da Associação Paulista de Magistrados (Apamagis); Raul Jungmann, ministro da Defesa de Michel Temmer; o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney; e Mario Luiz Sarrubbo, procurador-geral de Justiça, Cármen Lúcia também foi enfática ao criticar a desigualdade de gênero que ainda permeia o judiciário.
"Sobre nós mulheres, nós ainda não conseguimos atingir o patamar de sermos normalmente consideradas iguais. Eu sou juíza do STF e há preconceito", disse.
"Há preconceito nos tribunais, nós temos tribunais que não tem nenhuma mulher, e nós somos, na Ordem dos Advogados do Brasil, a maioria das advogadas. Nós tivemos uma Procuradora-Geral da República, sendo que várias estão em condição e poderiam ascender ao cargo", pontuou.