Publicidade

Com a faca e o sangue nas mãos

A violência nos esfaqueou por dentro e mostrou que o problema é muito mais grave do que imaginávamos

Com a faca e o sangue nas mãos
escola ataque facada
Publicidade

Essa semana entramos num estado de luto coletivo. Um sentimento de impotência diante da fúria de um menino de 13 anos e de tantos outros que, motivados pelo mesmo ódio, saíram da escuridão dos seus quartos. Ódio que não nasceu do dia para noite. Foi cultivado, irrigado, mastigado e deve ter um gosto muito amargo para quem sente. E quem sente ainda são crianças que não sabem lidar com esse sentimento.

+ Leia as últimas notícias no portal SBT News

Ódio que não sai com um grito de socorro, mas é descrito num tweet e em fotos com armas que foram compartilhadas numa conversa de whatsapp. Esse ódio precisa de palco.  

Esse texto é uma facada nas minhas costas também. Foi duro noticiar tantos casos na mesma semana, ver tantos vídeos sobre crimes parecidos e pensar: qual é o nosso papel no meio disso tudo? Será que a mídia, de alguma forma, com a divulgação dessas imagens, colabora com esse culto ao ódio? 

Estamos todos atrás de respostas. Pais se culpam pela falta de atenção dada aos filhos, professores de mãos atadas, falta de políticas públicas mais eficientes por parte do estado, mídia tateando a forma correta de noticiar. Sim, estamos perdidos. 

Sinto que tapamos os olhos. Ou melhor, estamos olhando para o lado errado. A violência nos esfaqueou por dentro e mostrou que o problema é muito mais grave do que imaginávamos. Não há apenas um culpado. É estrutural. Ninguém conseguirá sozinho por um fim nisso. 

Não adianta dizer que é a geração do "mimimi". Sem acolhimento, perderemos a batalha. Nossos meninos e meninas continuarão buscando o ódio para serem vistos e ouvidos. Penso que a nossa sociedade precisa priorizar o que realmente importa, investir em cuidados com a saúde mental.

Na infância, a criança precisa de atenção, mas estamos sem tempo. Trocamos a nossa presença pelo videogame, celular, tablet. Não paramos para escutar o que eles têm a dizer. Resultado, quando eles crescem não conseguem mais nos dizer nada. Não construímos essa relação.

Que então a gente comece hoje. Vamos abrir a porta dos quartos, estipular o horário da conversa, a rotina de almoço e jantar sem celulares na mesa. Façamos algo. Fico imaginando se alguns minutos de conversa, um abraço, um afeto no final do dia, uma demonstração de acolhimento e amor, não poderiam ter salvado a vida da professora e a desse menino. 

A polícia na escola não vai proteger nossos filhos desses sentimentos, mas nós podemos ensiná-los a lidar com eles. Para isso, precisamos também aprender a lidar com as nossas dores e vazios. Que a gente não tenha medo de mergulhar lá no fundo, repensar nosso comportamento, mostrar nossa vulnerabilidade. 

As escolas precisam rever os métodos de ensino, capacitar profissionais e trabalhar em conjunto com as famílias. Só conseguiremos prevenir atos assim se trabalharmos nosso olhar para ter tempo, dar atenção, ouvir as demandas de nossos filhos sem julgamentos.

Não existe apenas um "assassino" nessa história toda. Estamos todos com a faca nas mãos. É hora de reconhecer e enfrentar o perigo. Sem sangue nos olhos. Não é fácil. 
Mas não existe dor maior do que sentir que o tempo passou e não fizemos nada. O pior aconteceu! É hora de agir para salvar as próximas gerações.

Leia também:

Publicidade
Publicidade

Assuntos relacionados

portalnews
coluna
colunista
colunista-marcia-dantas
ataque
escola
facada
coluna-marcia-dantas
menino
luto

Últimas notícias

Qualidade das águas do Rio Sena estavam abaixo do padrão em mergulho de prefeita

Qualidade das águas do Rio Sena estavam abaixo do padrão em mergulho de prefeita

Testes recentes revelam preocupações sobre a limpeza do rio para as provas da Olimpíada de Paris
Voz dos Oceanos: família Schurmann faz exposição para mostrar beleza e importância dos mares

Voz dos Oceanos: família Schurmann faz exposição para mostrar beleza e importância dos mares

Exibição acontece entre os dias 28 de julho e 20 agosto no shopping JK Iguatemi, em São Paulo
Quadrilha do Rolex: dois homens são presos por roubar relógios de luxo no Rio

Quadrilha do Rolex: dois homens são presos por roubar relógios de luxo no Rio

Segundo as investigações, os criminosos costumavam revender os relógios pela metade do preço em seu estado de origem
Detenta trans morre após ser agredida em presídio masculino de Mato Grosso

Detenta trans morre após ser agredida em presídio masculino de Mato Grosso

Suspeitos pelas agressões foram identificados e encaminhados à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá
Olimpíadas: Ministério do Esporte faz post racista sobre barco do Brasil e pede desculpas

Olimpíadas: Ministério do Esporte faz post racista sobre barco do Brasil e pede desculpas

Pasta publicou chimpanzé dirigindo embarcação para referenciar transporte da delegação brasileira
Eleições Municipais 2024: Candidatos de Ciro e Cid Gomes disputam vaga com Capitão Wagner no 2º turno em Fortaleza

Eleições Municipais 2024: Candidatos de Ciro e Cid Gomes disputam vaga com Capitão Wagner no 2º turno em Fortaleza

Candidato do União Brasil é seguido por José Sarto (PDT), André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT)
G20 define temas econômicos que serão negociados durante cúpula em novembro

G20 define temas econômicos que serão negociados durante cúpula em novembro

Em reunião no Rio de Janeiro, países membros não chegaram a consenso sobre guerra na Ucrânia
Atleta que fez parte da seleção brasileira de atletismo morre no RS

Atleta que fez parte da seleção brasileira de atletismo morre no RS

Luisa Giampaoli foi diagnosticada com leptospirose e estava internada na UTI do Hospital Universitário São Francisco de Paula, em Pelotas
Bandeira tarifária verde: contas de energia elétrica não terão custo extra em agosto

Bandeira tarifária verde: contas de energia elétrica não terão custo extra em agosto

Anúncio foi feito nesta sexta-feira (26) pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
Bandeira olímpica é hasteada ao contrário na abertura de Paris-2024

Bandeira olímpica é hasteada ao contrário na abertura de Paris-2024

A gafe chamou atenção nas redes sociais
Publicidade
Publicidade