Trabalho escravo: quase 2 mil pessoas foram resgatadas no país só em 2022
Número é o maior já registrado em uma década, e representa quase 5 resgates por dia
Luciane Kohlmann
Dados do Ministério Público do Trabalho mostram que, só em 2022, 1.982 pessoas foram resgatadas em situação análoga à escravidão no Brasil - a maior soma já registrada em uma década. Estima-se que, por dia, foram realizados 5 resgates em diferentes partes do país.
Ações como a realizada em São João do Paraíso, no Interior do Maranhão. Fiscais usaram drones para registrar imagens dentro das carvoarias. O equipamento indicou a temperatura na saída do forno: 69 °C. Nos alojamentos precários, não havia energia elétrica ou água potável. Nem fogão para preparar alimentos. O banheiro, feito de tábuas, ficava do lado de fora. Oito pessoas dormiam em redes.
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No mês passado, 17 trabalhadores foram resgatados em situação de trabalho escravo na região. O procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho no Maranhão mostra que eles eram submetidos a um nível de partículas no ar 66 vezes acima do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde; e ninguém usava máscara.
"Aqui, eles estão sujeitos, como a gente percebe no nosso aparelho, a mais de 1000, por dia, o que é o limite de medição do aparelho", indica o procurador-chefe do MPT no Estado, Luciano Aragão.
Os trabalhadores receberam R$ 47,7 mil de direitos trabalhistas. A pena par ao crime de trabalho escravo é de 2 a 8 anos de prisão. Nesta 4ª feira, 2 homens também foram resgatados em Frei Miguelinho, no Agreste Pernambucano.
No Rio Grande do Sul, um recorde assustador. Este ano, em menos 3 meses, 294 pessoas foram resgatadas em situação de trabalho escravo. No ano passado inteiro, foram 176, de acordo com o Ministério Público do Trabalho.
Só em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, foram 207 pessoas resgatadas em fevereiro. Na semana passada, em Uruguaiana, 85 homens foram libertados de lavouras de arroz.
"A precarização do trabalho, nesse caso, é tão grave, até mesmo por não ser formalizado, que se torna ainda mais complexo o trabalho das autoridades, para fazer essa identificação. A gente tem que ter muita responsabilidade para tratar deste caso", observa o coordenador da Procuradoria do Trabalho de Uruguaiana, Hermano Martins Domingues.
Entre os trabalhadores resgatados, 11 eram adolescentes. "São situações assim, humanamente ofensivas, socialmente ofensivas, e todos nós devemos nos perguntar onde foi que erramos para que isso acontecesse de baixo do nariz da sociedade, e a gente demorasse tanto para ouvir o pedido de socorro", pondera o auditor fiscal do Trabalho, Vitor Siqueira Ferreira.
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